Gabriela Caesar - Do Portal
16/08/2011Pesquisadores da PUC-Rio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e de universidades europeias dão a largada para o desenvolvimento de um novo software em código aberto para uma melhor interpretação automática de imagens de satélites. Pretendem aperfeiçoar o InterImage, o bem-sucedido resultado dessa parceria entre a PUC-Rio e o Inpe. A experiência acumulada nos três anos de estudos será levada para a cooperação acadêmica da qual fazem parte cientistas alemães, italianos, espanhóis e franceses. A primeira reunião do grupo está marcada para 1º de setembro. Em entrevista ao Portal PUC-Rio, o professor Raul Feitosa, coordenador de laboratório do Departamento de Engenharia Elétrica, explica algumas aplicações da nova tecnologia – como maior nitidez na visualização de queimadas – e do intercâmbio científico. Batizada de Projeto Tolomeo, a iniciativa é financiada pela União Europeia.
Portal PUC-Rio Digital: O que é o Projeto Tolomeo?
Raul Feitosa: O Projeto Tolomeo é uma iniciativa da universidade de Pavia, na Itália, onde será realizada a primeira reunião dos pesquisadores envolvidos no projeto, em 1º de setembro. Pode-se considerá-lo o desdobramento de uma relação antiga com algumas das instituições que investigam a interpretação de imagens. O projeto tem como objetivo reunir grupos que estão desenvolvendo – ou que têm interesse em desenvolver – software livre para a interpretação automática de imagens de sensoriamento remoto.
Portal: O que significa “software em código aberto”? Qual é a vantagem?
Feitosa: Código aberto (open source, em inglês) é quando o código-fonte está livremente disponível na internet, ninguém precisa pagar por ele. As pessoas podem pegar, entender, modificar aquele código e, portanto, criar outras versões. Geralmente, quando você compra o software, você só compra aquilo que o computador é capaz de executar, que nós, seres humanos, não conseguimos interpretar facilmente. Código aberto é quando os programas são escritos em uma linguagem específica e, depois, eles são traduzidos para outra linguagem que os computadores são capazes de executar diretamente.
Portal: Em que o InterImage é útil?
Feitosa: O número de satélites girando ao redor da Terra aumentou de maneira vertiginosa nos últimos 10, 15 anos. Quanto maior a quantidade de satélite e quanto menor o pixel, nós temos uma oferta maior de dados. Esse volume inteiro de dados precisa ser interpretado, é preciso saber o que há nessas imagens, onde estão etc.. São os chamados objetos de interesse. Por exemplo, suponhamos que o objeto de interesse seja as queimadas. Onde estão as queimadas? Qual é a extensão delas?
Portal: O que mudará com as novas ferramentas desenvolvidas pelo Tolomeo?
Feitosa: Desempenho computacional, isto é, o tempo que o programa leva para, por exemplo, analisar uma imagem. Além disso, ele não tem nenhuma ferramenta própria para análise específica de radar, só para imagem ótica, aquela que você vê no Google Earth. Com a imagem de radar, você precisa de ferramentas especiais para processar e analisar essas imagens, que não são as mesmas para imagens óticas. Outra extensão que a gente cogita é transferir parte do processamento comum para as placas gráficas, porque o InterImage está pesado computacionalmente. Essas placas, normalmente, cuidam do monitor e têm uma arquitetura especial que permite executar certos programas de uma forma muito mais rápida. Só que para mudar isso, você tem de reprogramar, reprojetar o programa.
Portal: Há software equivalente ao InterImage ou até mais desenvolvido?
Feitosa: Existem poucas alternativas comerciais, softwares que se prestam aos mesmos propósitos, que você pode comprar, mas são caros. Há problemas decorrentes de você usar um software comercial, porque você não sabe o que tem lá dentro, você fica dependente da política daquela empresa. Se ele troca de versão, por exemplo, você tem de trocar também ou teria de pagar taxas para nova versão.
Portal: Como amadureceu a parceria da PUC-Rio com as universidades estrangeiras, que se desdobrou nesse projeto financiado pela União Europeia?
Feitosa: As relações com as universidades de Pavia, na Itália, de Hannover, na Alemanha, e, evidentemente, com o Inpe já existem há algum tempo, mas com França e Espanha são novidade. A relação com Hannover existe há oito anos, direcionada para a interpretação de imagens. Houve intercâmbios patrocinados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD) e pelo Deutschen Zentrums für Luft- und Raumfahrt (DLR). Esses esforços conjuntos continuam com intercâmbio com Hannover, financiado pela Capes, em paralelo ao estudo. Além disso, o projeto tem recurso – em torno de 450 mil euros – para bolsas, viagens, bolsas de sanduíche, estágios de curta duração entre as instituições que compõem a equipe.
Portal: Quais alunos da PUC-Rio estão envolvidos no Projeto Tolomeo?
Feitosa: Os alunos – de graduação, mestrado e doutorado – da área de engenharia elétrica ou de computação são contratados como bolsistas ou estagiários. Apesar de isso ser feito em paralelo ao curso, alguns deles acabaram fazendo suas teses e dissertações ligadas ao projeto.
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