Em conferência proferida no final do primeiro dia do 7º Mutirão Brasileiro de Comunicação, o professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia, um dos principais nomes da Comunicação Social no país, afirmou que a Igreja Católica se tornou mais uma vítima da industrialização do setor (Veja a palesta na íntegra). Para o professor, que é formado em teologia pela Pontificia Universitá Gregoriana de Roma, o modelo de comunicação social massificado permite que os grandes veículos produzam com autonomia o seu conteúdo, seguindo critérios que estão fora do controle das instituições, sejam elas do campo político ou religioso. Assim, não sobra espaço para a mera circulação de mensagens, como seria conveniente para a igreja:
– Ocorreram muitas mudanças na comunicação, e a igreja não soube acompanhá-las. Estamos na era em que a comunicação de massa cria os ambientes nos quais nos movemos e nos relacionamos - afirmou Gomes.
Gomes acha que, graças a essas mudanças, a igreja diminuiu sua capacidade de lidar com a comunicação social e, consequentemente, a capacidade de falar com o mundo por intermédio da mídia. Segundo o professor, isso pode reduzir a força e a relevância da Igreja na sociedade:
– A Igreja está acostumada a ser grande e tem grande dificuldade de ser tratada como pequena, de pensar-se como pequena, e de lidar com um sistema tão grande como os meios de comunicação. Assim, a Igreja vive uma escolha muito difícil: buscar meios para se comunicar com o mundo ou voltar-se apenas para o seu próprio público, onde os meios tradicionais ainda funcionam.
Um dos principais sintomas da má situação que a Igreja Católica se encontra no campo da comunicação de massa, segundo o professor, é a quantidade de notícias negativas relacionadas à instituição e seus membros. Gomes lembra que, nos últimos anos, os principais temas que levaram a Igreja Católica para o centro da discussão na mídia foram as polêmicas envolvendo acusações de pedofilia por parte de membros da Igreja e assuntos como o uso da camisinha, o aborto e a união homossexual:
– Qualquer monitoramento simples irá mostra que a valência dos conteúdos sobre Igreja Católica na mídia nos últimos cinco anos é predominantemente muito ruim. A maior parte desses conteúdos negativos é relacionado a eventos excepcionais, que geraram ondas de notícias que voltam a opinião publica para determinado assunto. Mesmo excluindo esses eventos, a Igreja não consegue gerar notícias e conteúdos midiáticos positivos em uma proporção significativa – disse o professor.
Para Wilson Gomes, a causa do problema está na ausência, por parte da Igreja, de discurso relevante na mídia sobre os problemas da sociedade. Hoje, segundo ele, a Igreja Católica estaria perdendo a capacidade de influenciar em temas importantes da agenda social e onde a Igreja é, para o especialista, tradicionalmente forte, como direitos humanos, questões sociais, de justiça, meio ambiente, entre outras.
– A Igreja tem deixado de se apresentar como um sistema de referência importante para a interpretação dos problemas do homem e do mundo no espaço midiático. Não tem participado de forma eficiente das esferas pública e política e perde a capacidade de gerar agenda conforme os seus valores. Em minha opinião, a Igreja não sabe lidar com a comunicação de massa – afirmou Gomes.
Entre as pessoas que assistiram à palestra de Wilson Gomes, muitos reconhecem o mal momento que a Igreja Católica passa no que diz respeito à mídia. No entanto, para o padre Orsini Nuvens Linard, do Santuário Nossa Senhora Auxiliadora, de Salvador, os grandes veículos se preocupam mais em cobrir temas polêmicos e negativos do que ressaltar as boas obras da Igreja.
– O que interessa à mídia hoje não é a virtude ou as boas ações, mas os pecados e erros da humanidade. Sejam políticos, eclesiásticos, religiosos. Para corrigir essa situação, precisamos de clareza, transparência, verdade e justiça. Precisamos nos unir para deixar uma terra sem males, como dizia João Paulo II. Quanto mais houver justiça e honestidade, mais a Igreja triunfará e chegara feliz ao fim – disse o padre.
A fiel Alba Valéria Cardoso, do Rio de janeiro, acredita na preferência, por parte dos consumidores de notícias, pelos casos polêmicos e escandalosos. E a Igreja Católica, para ela, é apenas mais uma vitima do modelo. Segundo Alba, a saída da situação está na união de fiéis no trabalho de melhorar a imagem da Igreja:
– As questões morais prevalecem mais que as políticas, as questões ambientais que a Igreja está envolvida. A sociedade prefere os escândalos. Falta a nós, católicos, colocar a mão na massa, ter mais consciência e trabalhar para ajudar a Igreja – afirmou Alba.
Assita aqui a íntegra da palesta do professor Wilson Gomes.
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