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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Cultura

Educação multidisciplinar consolida direitos humanos

Thaís Bisinoto - Do Portal

15/06/2011

Reunidos na PUC-Rio para discutir os desafios do mundo globalizado na esfera dos direitos humanos, professores desta e de outras universidades, do Brasil e dos Estadis Unidos, apontaram a necessidade de os governos aproximarem o discurso da prática. Para os palestrantes do seminário Direitos humanos em seus desafios contemporâneos, dias 9 e 10, no auditório do IAG, as fronteiras da cidadania em um contexto de "transnacionalização" representam um dos pontos a serem resolvidos.

De acordo com os especialistas, o "diálogo interdisciplinar" revela-se uma das soluções para evitar conflitos nesse mundo globalizado, que intensifica as relações sociais entre diferentes culturas. Já na cerimônia de abertura do seminário, o reitor da PUC-Rio, padre Josafá de Siqueira, S.J., ressaltou que "o tratamento dos direitos humanos" deve passar pelo horizonte da multidisciplinaridade. “Esse é o grande desafio de hoje”, observou padre Josafá.

Outros dois desafios, segundo o reitor, são o desenvolvimento de políticas menos legalistas e mais solidárias e a constrção do consenso em torno de questões polêmicas – como o Código Florestal que, segundo ele, acendeu o debate entre teoria e prática. Padre Josafá também destacou a importância de derrubar “barreiras e muros de exclusão, que não fazem sentido na sociedade de hoje”.

Vera Candau, professora do Departamento de Educação, considerada uma das artífices da introdução de disciplinas sobre direitos humanos na universidade, alertou sobre a baixa produção de pesquisas sobre essa área na América Latina, incluindo o Brasil. Ela propôs um engajamento maior da comunidade acadêmica, inclusive os alunos, para que as discussões se tranformem em ações:

– A maioria dos alunos da PUC não sai às ruas. Eles se restringem às salas de aula. É importante que participem e, mais ainda, que a universidade se debruce sobre esse tema.

Autora do livro “Teorias dos Movimentos Sociais – Paradigmas Clássicos e Contemporâneos”, a professora da Unicamp Maria da Glória Gohn considera também o "estímulo à autonomia dos movimentos sociais" um desafio contemporâneo. Ela acredita que as novas mídias favorecem a diversificação e a disseminação de movimentos sociais, como o “movimento dos indignados”. Composta basicamente por jovens e idosos, a iniciativa é observada tanto na Europa quanto no Oriente e, mais recentemente, na América Latina, disseminada por blogs, Twitter, Facebook.

Já o professor Antônio Carlos de Souza Lima, do Museu Nacional (UFRJ), lembrou o peso dos índios na formação do povo brasileiro. Souza Lima enfatizou a necessidade de uma legislação "que conceda os devidos direitos a eles" e criticou duramente o governo brasileiro por, segundo ele, manter uma conduta etnocêntrica :

– Não existe Estado brasileiro. Legislativo, idem. Os homens avaliam as ferramentas indígenas por meio dos modos ocidentais de produção, pela tecnologia, o que não faz o menor sentido, pois elas são úteis e adequadas para o modo de vida deles, que é diferenciado do nosso.

Souza Lima considera igualmente importante uma maior representação política dos povos indígenas no Congresso. Ele reconhece, entretanto, um avanço dos direitos indígenas:

– Admito que houve uma releitura dos direitos indígenas, na chave dos direitos humanos, a partir de um dado momento e, mais recentemente, sob o dístico do multiculturalismo.

Com professores de instituições americanas, o seminário abordou também questões como a violação de direitos humanos nos Estados Unidos. Segundo Suzanne Oboler, professora da Universidade Cuny, de Nova York, a sensação de pertencimento dos latinos na sociedade americana é um dos principais desafios daquele país. Já Nancy Hanrahan, da Universidade George Mason, afirmou que os diretos das  mulheres, a despeito dos avanços na área, ainda não se equipararam aos dos homens: 

– É importante falar sobre isso, pois ainda temos muita injustiça de gêneros, em um mundo globalizado como esse.