Gabriela Caesar - Do Portal
08/06/2011Um país se faz com homens e livros. Embora a frase tenha sido dita no início do século XX pelo escritor Monteiro Lobato, a educação segue um dos pilares problemáticos para o desenvolvimento do Brasil – cujo grau de educação se encontra em 54º lugar entre os 65 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, estatísticas do Pisa confirmam que alto nível de educação e leitura ainda é privilégio de poucos no país. De acordo com pesquisa feita no ano passado, 39% dos estudantes brasileiros declararam ter em casa, no máximo, 10 obras literárias.
Criado há 20 anos para, entre outros objetivos, ajudar o desenvolvimento educacional infantil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) lançou, em comemoração à efeméride, o livro Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes – 20 anos do Estatuto (disponível para download), uma coprodução da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI) e da PUC-Rio. Irene Rizzini, diretora do CIESPI e professora Departamento de Serviço Social, lembra que um desses direitos – a leitura – exige acesso a boas obras e estímulo a experiências gratificantes por meio da literatura: :
– A magia da leitura, o prazer e o hábito de leitura também estão associados à oportunidade da criança ter tido acesso a momentos de interação e compartilhamento de histórias contadas por adultos que a incentivaram desde pequena.
Diretor do Departamento de Letras, o também professor Júlio Diniz afirma que o Brasil tem uma "grande dívida com os excluídos" na área da educação. Ele propõe que a formação de leitores receba atenção equivalente às discussões sobre metodologias, disciplinas e estratégias de ensino.
– A leitura do mundo é uma ferramenta fundamental para transformar a sociedade – lembra o professor.
A jornalista e escritora Heloisa Seixas lançou recentemente O prazer de ler (Casa da Palavra, R$ 16), no qual conta histórias revestidas da paixão pelos livros. Heloisa aborda também obstáculos tradicionais, como as dificuldades enfrentadas por professores na formação do conhecimento (horários apertados, por exemplo) e o risco de a geração web consider a leitura algo chato. Assim como Irene, Heloisa avisa:
– A leitura é uma espécie de vírus benigno e, quanto mais cedo for inoculado, melhor. Depois que descobrimos o prazer da leitura, nunca mais conseguimos viver sem um livro por perto.
Clara Mangeth, caloura de comunicação social, contraria a suposição de que o bombardeio audiovisual impulsionado pela internet afaste o jovem do hábito de ler. Aos 18 anos, considera-se viciada em leitura. Sem hesitar, fala com intimidade das obras de Clarisse Lispector e Fernando Pessoa, por exemplo. O prazer proporcionado por esses e outros tantos autores, conta a estudante, veio acompanhado do aperfeiçoamento na interpretação de texto. “É importante saber a opinião de outras pessoas. Sabendo várias visões de mundo, eu decido a minha”, completa.
Para melhorar a compreensão dos textos
Avanços no volume de leitura não estão necessariamente associados a índices satisfatórios de compreensão. O baixo nível de entendimento de textos, que às vezes assume a triste forma de analfabetismo funcional, ainda assombra a educação brasileira e os sonhos de inclusão. Funciona na PUC-Rio, próximo ao ginásio, uma iniciativa que ajuda a dirimir esse problema crônico, sobretudo entre os pobres. Fundado em 1996, o Núcleo de Educação de Adultos (NEAd) alfabetiza adultos – com ou sem vínculo com a universidade –, que têm a oportunidade de voltar a estudar sem custos. Ao descobrirem o (novo) mundo por meio da leitura, aumentam a autoestima, a socialização e as chances no mercado profissional
Darci Botelho, copeiro de uma casa na Gávea – onde também reside – há 25 anos, aceitou a sugestão de uma amiga e voltou à escola graças também ao incentivo "da patroa". Desde 2007 no NEAd, Botelho reconhece os efeitos das aulas em seu cotidiano:
– Melhorei o tom de voz, a forma de me dirigir a alguém, o comportamento. Agora eu quero sempre perguntar, conhecer o significado de certa palavra, saber o que está acontecendo no mundo. Antes eu não me interessava, não ligava – compara.
Formada em pedagogia pela PUC-Rio, a professora Ana Ribeiro trabalha há oito anos no NEAd. Conserva uma paixão central pelo ensino – irrigada no dia a dia com as transformações observadas nos alunos decorrentes da melhor compreensão de textos. “Eu gosto de educação, estudei educação a vida inteira, e aqui a gente trabalha com educação. É a paixão de ser professor que eu tenho”, enfatiza.
Também na PUC-Rio, a Cátedra Unesco tem como missão expandir a leitura e sua importância na sociedade brasileira. Criada em 2006 por um convênio entre a univeridade e a Unesco, o centro de referência nacional oferece cursos e oficinas para favocerer o acesso ao universo dos livros. Diretora da Cátedra de Leitura, Eliana Yunes ressalta a necessidade de ensino, extensão e pesquisa sobre formação do leitor:
– A leitura não se restringe às letras e ao letramento, mas é leitura de mundo em múltiplas linguagens e textos da cultura. O indivíduo, na verdade, é um sujeito que não termina de se formar. Sua formação é permanente uma vez que ele não para de aprender a relacionar-se com o mundo enquanto vive.
Quando? | A que horas? | O quê? | Onde? | Por quanto? |
11/6, 18/6 e 25/6 |
Das 10h às 13h30 | Oficina de José Maura Brant | Sala da Cátedra | R$ 120 |
9/6 | Das 17h às 19h | Debate e lançamento livro de Teologia e Poesia (Drummond), de Alex Villas-Boas | Sala da Cátedra | Gratuito |
18/6 | Das 10h às 18h | Palavras e imagens | RDC | R$ 50 |
21/6 | Das 14h às 16h | Lançamento HelDerLyriCo, DVD de Érico Braga | Auditório da pastoral | Gratuito |