Na corrida contra o tempo para cumprir as exigêcias da Copa 2014 e dos Jogos 2016, o Rio aponta uma olimpíada de oportunidades para jovens talentos. Pelo menos este é o prognóstico do secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório, que esteve ontem na PUC para apresentar a palestra Rio: desafios e oportunidades para você. Segundo Osório, a iniciativa faz parte da “fase de aproximação com o centro universitário”. À plateia formada por estudantes e professores, ele destacou a importância da articulação entre a administração pública e o meio acadêmico para transformar qualificação profissional em desenvolvimento. A revitalização da Zona Portuária, por exemplo, demanda conhecimentos nas áreas de história, arquitetura, engenharia, comunicação. Para César Romero Jacob, coordenador de Planejamento e Desenvolvimento do curso de Comunicação Social, cabe à "alma empreendedora dos jovens" aproveitar os nichos abertos no mercado. Ainda de acordo com o professor, a universidade amplia a oferta de disciplinas associadas a esporte, “que podem complementar muito essa nova etapa do Rio”.
Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital (veja abaixo), Osório explica por que está confiante na abertura de mais frentes de negócios e de empregos para os jovens, embora se permita não estimá-las, e afirma que a cidade já apresenta "alguns quadros de crescimento". Para o secretário, um dos principais indicativos é a renda média do mercado de trabalho na Região Metropolitana que, segundo ele, ultrapassou a de São Paulo, "com destaque para os setores de petróleo e gás, serviços e construção civil”.
– Essa década é o terceiro período de desenvolvimento da cidade. Olhando para a história, tivemos em 1808 a chegada da família real portuguesa ao Rio, que representou o crescimento do que antes era uma pequena vila de moradores. Cem anos depois vieram as reformas urbanas com obras significativas, como a de saneamento básico. No entanto, o momento atual é mais desafiador, pois o Rio passa por transformações após um período de depressão depois da mudança da capital para Brasília – avalia Osório.
Neste "terceiro período de desenvolvimento", como diz o secretário, o professor Cesar Romero vislumbra espaço para mais dois propulsores, além das grandes competições: os 450 anos da fundação da cidade, em 2015, e o bicentenário da Independência, em 2022. Para melhor aproveitar os benefícios decorrentes do salto (econômico, estrutural, urbanístico) previsto, Osório propõe o que chama de “plano de legado”, formado por quatro frentes: transportes, meio ambiente, infraestrutura urbana e desenvolvimento social.
– Para que esse plano dê certo, é preciso que toda a sociedade pense constantemente e busque respostas para a seguinte questão: como transformar euforia em legado? – evoca Osório.
Quanto à política de conservação do patrimônio público, o secretário acredita que “essas iniciativas devem partir de movimentos legais da própria sociedade e cabe ao poder público apoiar esses grupos”. Depois da palestra, Carlos Roberto Osório conversou com a reportagem do Portal PUC-Rio sobre as novas perspectivas para o Rio:
"O Rio precisa migrar o potencial econômico do setor petrolífero para outras áreas"
Portal PUC-Rio Digital: O senhor afirmou que a renda média da Região Metropolitana vem crescendo. Que fatores e sefores têm contribuído mais para esse avanço?
Carlos Roberto Osório: O setor de petróleo e gás é o carro-chefe das economias fluminense e carioca, o que acaba tendo impacto na Região Metropolitana. Além disso, o setor de serviços vem tendo real crescimento nas área de turismo lazer, entretenimento e telecomunicações. O setor da construção civil, especialmente o setor imobiliário, também está puxando o crescimento e o rendimento da Região Metropolitana. O dínamo de autorização para novos imóveis obteve um aumento substancial.
Portal: Que áreas ainda não decolaram? Como incluí-las nesse vetor de crescimento?
Osório: Temos um plano oficial a ser realizado nas áreas financeira e de seguros, que foram perdidas para São Paulo nos últimos anos. Há um grande potencial para a recuperação no mercado publicitário. Mas esses processos são mais lentos, por conta daquela migração para São Paulo.
Portal: Confirmado o salto de empregos e negócios impulsionado pela Copa e pelos Jogos, impõe-se o desafio de conservá-lo, e até a ampliá-lo, como se espera de uma cidade olímpica. Que ações estão previstas para estender o suposto legado às décadas seguintes?
Osório: Essa é uma questão que merece muita atenção. O setor de petróleo e gás não é sustentável, ou seja, é um setor cuja intensidade vai diminuir com o passar dos anos. Então, é importante que a cidade tenha um programa de migração de potencial econômico de investimento do setor de petróleo e gás para outros setores da economia. Ninguém pretende e nem pode achar que a vocação do Rio é o petróleo e gás. Portanto, o desafio para o governo é planejar bem essa migração dos recursos para indústrias inteligentes, como de informática, tecnologia da informação e até audiovisual.
Portal: A revitalização do Centro e da Zona Portuária também é considerada, por autoridades, especialistas e cidadãos, estratégica para o desenvolvimento do Rio, e para colocá-lo em igualdade com outras capitais importantes no mundo. O que há de concreto para a consumação desse projeto? Que tipo de oportunidades pode gerar?
Osório: Acredito que esse é o projeto, em termos urbanísticos e estratégicos, mais importante hoje em andamento no Rio. A revitalização interessa diretamente pela centralidade e pelo aspecto do patrimônio histórico, que faz parte da identidade da cidade, o que é muito importante. De concreto, estamos fazendo investimentos na Zona Portuária, que é a área mais degradada do Centro, por meio de uma parceria público-privada de 7 bilhões de reais. Inclui a revitalização de toda infraestrutura urbana daquela região, a requalificação dos serviços prestados ali e a mudança da legislação urbanística, permitindo construções em gabaritos especiais. Também incentiva a volta do vetor de moradia para o Centro, que é fundamental.
Portal: O senhor ressaltou que o crescimento exige uma "motivação que deve partir da própria sociedade". Como assim? O que fazer para construir uma melhor articulação entre o poder público e a população? Como garantir que as iniciativas privadas sejam levadas adiante?
Osório: Já temos na prática, um ambiente diferente na cidade. Ela recuperou sua autoestima e confiança no futuro. Trocamos um período de descrença e esvaziamento por um novo período em que todos os atores da sociedade se movimentam com expectativas positivas e a cidade cresce num ritmo acelerado. A articulação entre atores privados e o setor público acontece de maneira natural. O setor público só tem a possibilidade e o dever de induzir esse desenvolvimento.
Portal: A cada dia, são apontados números que indicam atrasos nas obras para a Copa 2014 e a Olimpíada 2016. Qual a sua posição diante dessas notícias e o que pode ser feito para que isso não afete a motivação dos cidadãos em cooperar?
Osório: A sociedade carioca tem compreensão e confiança no que diz respeito a investimentos para Copa e Olimpíada. O Rio vai cumprir plenamente com as responsabilidades. Com relação ao Maracanã, que será palco da final e, eventualmente, até da abertura [da Copa], é responsabilidade do governo do estado. Mas posso afirmar que as obras estão bem encaminhadas. Estão envolvidas as principais empreiteiras do país, que têm reconhecida capacidade técnica. Isso nos dá tranquilidade e confiança.
Portal: O senhor afirmou que é preciso, por parte da sociedade, repetir constantemente a seguinte pergunta: “como transformar a euforia com a realização dos jogos na cidade em legado para o futuro?”. Qual seria a sua resposta?
Osório: De uma maneira singela, eu diria que, com planejamento, objetivos e metas claras de onde se quer chegar e envolvimento de todos os atores vivos da sociedade, conseguiremos esse objetivo. Então é isso: objetivos claros, planejamento e envolvimento da sociedade.
Portal: No próximo ano haverá eleições municipais. Como garantir que uma possível mudança política não interfira e acabe prejudicando o andamento desses projetos tão estratégicos?
Osório: Acho difícil [a interferência política]. Uma coisa importante é que todos os compromissos assumidos pelo Rio foram compromissos institucionais, assumidos pela cidade, pela municipalidade e com respaldo do Poder Legislativo, e não compromissos assumidos por indivíduos. Os compromissos institucionais serão levados adiante e serão levados a sério seja lá qual for resultado de eleições.