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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cidade

Armadilhas urbanas dificultam a circulação do carioca

Carina Bacelar - Do Portal

06/07/2011

Carina Bacelar

A circulação urbana no Rio de Janeiro, de ativividade rotineira, tornou-se uma travessia perigosa. Nesta segunda, explosões em mais três bueiros tornaram a assustar os pedestres. Felizmente, ninguém se feriu. Light passará a em pagar R$ 100 mil cada vez que acidentes semelhantes se repitirem. Fora os vergonhosamente recorrentes “bueiros-bomba”, há outros tipos de “bomba-relógio” espalhadas pela sede da Copa 2014 e da Olimpíada 2016. São buracos, defeitos de pavimentação, calçamento irregular e pontos mal iluminados que incomodam pedestres e motoristas, e dificultam a circulação. Esses obstáculos tornaram a ficar em evidência devido às fortes chuvas da semana passada, mas fazem parte da rotina carioca. Para especialistas em engenharia, a maioria das deficiências, como piso desnivelado, é causada por ações paliativas:

– A maioria dos problemas vem da prática de tapar os buracos mesmo. Não é simplesmente chagar com um caminhão com uma massa asfáltica e tapar o buraco. Tem que limpar, tem que cortar, porque a qualidade dessa massa empregada é boa – explica Eduardo Ricci, presidente da Associação Brasileira de Pavimentação.

De acordo com o Celso Romanel, professor de engenharia civil da PUC-Rio, o clima tropical, úmido, chuvoso, acelera a degradação do asfalto:

– O principal problema é a formação de trincas, devido ao clima – afirma – Há também o é o excesso de tráfico, o que faz com que a pavimentação dure muito menos do que deveria.

Carina Bacelar Para Romanel, os principais “obstáculos urbanos” decorrem de falhas no planejamento de parte do mobiliário urbano. Ele aponta, entre os principais deficiências, pontos de ônibus e sinais de trânsito mal dispostos e calçamento com pedras portuguesas soltas. Romanel considera que as ciclovias precisam ser ampliadas e aperfeiçoadas, para estimular a adoção de transportes alternativos e reduzir o risco de acidentes. 

– No caso de portadores de necessidades especiais, esses falhas acarretam dificuldades ainda maiores de circulação – acrescenta.

Grande parte das reclamações recebidas pela Associação de Moradores da Gávea, por exemplo, refere-se a pedras portuguesas que se soltam em calçadas. Outro trranstorno, segundo a presidente da associação, Andréa Pavão, são as obras no trecho inicial da rua Marquês de São Vicente: 

– As pessoas responsáveis pela obra precisam cuidar da calçada – queixa-se Andréa.

Já os motoristas criticam a "lentidão" dos sinais de trânsito nas proximidades com o Leblon, sem "motivo aparente". Enquanto um semáforo normal fica vermelho durante cerca de 45 segundos, o localizado na esquina entre a rua Visconde de Albuquerque e a avenida Mario Ribeiro chega a demorar um minuto a mais do que essa média.

Luz fraca e calçada estreita, uma combinação perigosa

Já na avenida Padre Leonel Franca, uma das principais queixas é a iluminação fraca próxima ao terminal rodoviário. Os passageiros, e pedestres em geral, têm uma dificuldade extra: as calçadas estreitas daquela área, o que induz alguns a andar pela rua.

No início da rua das Acácias, também na Gávea, um buraco no meio da pista aumenta a chance de tropeços e até acidentes mais graves. Perto dali, na Praça Santos Drummond, o estado de conservação das pedras portuguesas também preocupa. Em relação ao calçamento, Romanel acha difícil o uso de os materiais mais modernos e resistentes disponíveis no mercado. Principalmente, por conta da tradição da cidade:

– A tradição nas zonas turísticas é a utilização das pedras portuguesas ou congêneres. Em outras área, há calçamentos com materiais mais modernos – observa – Na calçada em frente ao Shopping da Gávea, por exemplo, a falta de buracos e falhas no piso contrastam com outros trechos no bairro. 

Carina BacelarSoluções para deixar o asfalto da cidade “liso”, como promete o programa da prefeitura, exigem investimentos e planejamento comprometidos com soluções integrais e integradas, dizem os especialistas. De acordo com Eduardo Ricci, o custo em larga escala dificulta a adoção de alternativas "ecologicamente corretas", como o asfalto feito de pneus reciclados ou o chamado “asfalto morno”, que demanda menos energia para ser produzido.

– O problema é que o custo desse tipo de pavimento é de 30% a 40% superior devido aos aditivos necessários à fórmula – explica, ressalvando que “nenhum pavimento é ecológico de fato”.

Para o especialista, é possível corrigir as rugosidades no asfaltamento da cidade com “planejamento e dinheiro”. Já Romanel acredita que as medidas de racionalização do transporte público, como as BRT’s e a Linha 4 do metrô, contribuam para aliviar o asfalto à medida que o (enorme) volume de veículos circulantes diminua.

Para Taís Carvalho, mestranda em engenharia urbana e ambiental da PUC-Rio, os efeitos positivos daquelas obras seriam maiores se houvesse uma "melhor comunicação" com os cidadãos. Já Romanel acredita que os transtornos supostamente temporários são o ônus do avanço: 

– É um preço que se paga. Pessoas no Recreio, por exemplo, estão reclamando muito do alargamento da Avenida das Américas. Mas acho que a iniciativa vai facilitar a locomoção na área. 

Castigo especialmente a idosos

Os obstáculos urbanos, mais que meras incongruências na paisagem, podem provocar acidentes. A publicitária Adriana Bastos foi vítima de um bueiro aberto quando saía do carro da mãe, na Tijuca:

– Estava chovendo muito. Afundei minha perna até a metade no vão. Ninguém me ajudou. Não quebrei a perna, mas fiquei com uma mancha roxa enorme. Eu era uma adolescente. Se fosse mais velha, nem conseguiria sair de lá – conta.

Adriana tem razão. Idosos sofrem, em geral, consequências mais graves, principalmente pela  velocidade menor de recuperação e pela porosidade maior dos ossos, explica o ortopedista Dirceu Belizze, da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio.

– Essas imperfeições na cidade geram basicamente dois riscos: o de quedas e o de torções em membros inferiores. O tornozelo é o principal afetado, mas os joelhos e o quadril também costumam ser afetados – afirma o médico.

O ortopedista observa que a coluna é uma vítima frequente dos obstáculos urbanos, sobretudo em idosas. Ele alerta que microlesões vertebrais no dia a dia nas vértebras podem resultar em disfunções permanentes:.

– Para os idosos, esse tipo de acidente pode trazer lesões que diminuam a qualidade de vida por um tempo muito maior que em jovens. Eles vão andar menos, sentir o pé inchado em distâncias menores, dor nas costas – exemplifica.