A idéia de que percentual de reprovação indica a qualidade nas escolas revela-se um equívoco. O alerta feito pelo professor Creso Franco, diretor do Departamento de Educação da PUC-Rio, no ciclo de palestras “Caminhos do Brasil”, retrata uma avaliação drástica do sistema educacional brasileiro – vítima, segundo ele, de um déficit de atenção do poder público. Para o especialista, o principal desafio é converter a “maior educação”, ou seja, o crescimento do número de matrículados e alfabetizados, em “melhor educação”.
A preocupação com a educação no país “apareceu muito tarde”, lembrou Franco, comparando-se com outras nações latino-americanas, nas quais os movimentos de independência já apresentavam propostas nesta área. Ele justificou:
– Um sinal importante disso é que os intelectuais do século XX que pensaram o Brasil não falaram muito de educação. Folheando os livros de Celso Furtado, por exemplo, percebi que ele não cita a educação como um fator de desenvolvimento econômico. Em outros países, esses conceitos estão ligados.
Creso Franco argumentou que o investimento em educação é dificultado por certos setores da sociedade. Segundo ele, conveniências eleitorais estão entre os principais obstáculos ao avanço educacional: a falta de instrução facilita a compra de votos e a manipulação de parte do eleitorado. No setor agrário, o baixo nível de educação permite uma exploração maior dos trabalhadores agrícolas. A escolaridade baixa também é conveniente para a classe média, completou o especialista, pois garante empregos como os de doméstica e porteiro.
– Mas acredito que a maior parte da sociedade brasileira esteja buscando e querendo melhor educação para todos – ressalvou.
Ele chamou a atenção para o fato de a taxa de analfabetismo no Brasil ter diminuído: está em torno de 12%. Porém o número absoluto de analfabetos aumentou, com o crescimento da população. Ainda assim, pesquisas revelam que o fluxo escolar se intensificou, apesar do percentual de desistência ainda elevado. Mas a grande dificuldade para a melhor formação associa-se menos à quantidade do que à qualidade:
– O Brasil está vencendo a batalha da maior educação, mas precisa vencer a de melhor educação. O desafio é melhorar o fluxo escolar e a qualidade da educação.
Creso Franco acredita que a proposta do senador Cristóvam Buarque para uma federalização da educação seja inviável: “O MEC não consegue nem tomar conta das universidades que tem”. Ele sugeriu a disseminação do que chama de escolas públicas diferenciadas, como o Colégio Pedro II, os Colégios de Aplicação e as escolas técnicas, que considera muito melhores do que as escolas estaduais e municipais.
– O senador tem, entretanto, um ponto correto na sua proposta: a divisão de administração da educação, a regionalização, criou desigualdades inter-regionais. Mas não é a federalização que vai resolver isso. O Brasil é um país com regiões muito diferentes – concluiu.
Dicas do professor
O professor Creso Franco sugeriu um filme e um livro que ajudam a entender melhor os problemas da educação no Brasil: Pro dia nascer feliz (2006), de João Jardim; e Há cenas Democratização do ensino: meta ou mito? (Francisco Alves, 1985), livro organizado pela professora Zaia Brandão.
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