Fernanda Miranda e Igor de Carvalho - Do Portal
07/02/2011Disposição para conhecer vários apartamentos, percorrer classificados, consultar os amigos, buscar na internet. A menos de um mês do início do ano letivo, muitos universitários vivem a aventura de encontrar um porto seguro, a um bom preço e perto do campus.
Segundo Antonio Paulo Monnerat, vice-presidente de locações do Sindicato de Habitações do Rio de Janeiro (SECOVI-Rio), o mercado imobiliário fica mais movimentado no mês de janeiro por causa dos estudantes que vêm para cidade cursar uma graduação. Como boa parte desses jovens ainda não possui inpendência financeira, os pais acabam sendo os locatários. Os contratos costumam durar 30 meses e, decorridos 12 meses, os estudantes que desejam sair do imóvel não precisam pagar valor a mais. Outro modelo de contrato escolhido pelos jovens leva o nome de dois locatários.
– Ambos os lados saem ganhando. Amigos, amigos, negócios à parte – diz Monnerat.
Os apartamentos mais procurados pelos estudantes são os já mobiliados. A oferta desse tipo de imóvel é, no entanto, restrita. Os conjugados também estão entre os mais procurados pelos jovens. Monnerat ressalva que a verificação dos documentos e as condições do imóvel é tão importante quanto pesquisar a configuração e o preço desejados. Segundo o especialista, deve-se checar, por exemplo, se o apartamento está preso a inventário e se as instalações funcionam adequadamente.
Pensionato mantém tradição
A consulta aos que já passaram por essa busca também ajuda. Juliana Ambrósio, 20 anos, aluna do 5º período de comunicação social da PUC-Rio, conhece bem o que é trocar o "lar doce lar"pela conveniência de um espaço mais próximo do estudo. Moradora de Petrópolis, ela ingressou na universidade aos 18 anos. Achava que estudaria de manhã e pensava em "subir e descer todos os dias" até encontrar um apartamento perto da PUC.
Quando fez a matrícula, Juliana (foto) descobriu que estudaria à tarde e teve de mudar os planos. Estava atrasada para "achar um lugar para ficar". Como não tinha fiador no Rio e os preços dos aluguéis "estavam altos", sua mãe se lembrou do pensionato onde havia morado quando era também aluna da PUC.
– O meu cantinho era pequeno, mas tinha tudo só para mim. Exceto a cozinha, que era comunitária. Mas, de resto, tinha tudo no meu quarto, inclusive uma geladeira – recorda.
No começo a jovem achou ótimo. Apesar de já conhecer o Rio e "estar sempre por aqui", era caloura em morar sozinha e longe da família. Neste ponto, o pensionato foi acolhedor. Ela sabia que ali dentro "podia contar com aquelas pessoas", embora fosse muito reservada.
Havia, no entanto, "algumas coisas chatas". Por exemplo, a estudante tinha de pagar uma taxa extra caso uma amiga ou mesmo a mãe dormisse no quarto. Se o acompanhante fosse homem, nem sonhava em entrar no prédio.
– Acho que pelo menos a mãe podia dormir sem pagar, já que não era sempre que acontecia – argumenta Juliana.
Outra coisa que a incomodava era não poder entrar depois de meia-noite. Por causa da restrição, a jovem dormia em casas de amigas nos fins de semana. A rotina se prolongou por um ano. Quando conseguu uma concessão, Juliana conta que passou a noite do lado de fora do pensionato:
– A freira me permitiu sair e voltar depois (da meia-noite). Disse para eu tocar no quarto dela quando voltasse. Cheguei por volta das 3h30 e cadê que a freira descia para abrir para mim? A sorte foi que minha mãe estava no meu quarto. Eu liguei para ela e expliquei a situação. Minha mãe foi até o quarto da freira, mas primeiro bateu na porta errada. Depois, na porta certa, disse à freira que havia me esquecido do lado de fora. Aí por volta de 5h, a freia desceu e abriu, me pedindo mil desculpas.
Juliana achou a experiência “incrível” para se acostumar com a vida e a rotina novas. Mas, "depois de um tempo, queria mais liberdade, queria uma casa completa, com quarto, sala, cozinha, banheiro, tudo". Resolveu dividir com uma amiga um apartamento em Botafogo, onde mora até hoje.
Raquel Stein (foto), 22 anos, também estudante de comunicação social na PUC, é outro exemplo de batalha por um lugar confortável próximo à universidade. Moradora de Engenho do Mato, em Itaipu, Raquel passou seu primeiro período "indo e voltando todos os dias". Gastava mais de três horas de viagem por dia e 300 reais de passagem por mês.
Decidida a morar perto da PUC, esbarrava no custo do Zona Sul carioca. Optou por uma espécie de república, em Ipanema. Dividia o apartamento com outras nove estudantes. Não aguentou a "desorganização das colegas" e resolveu se mudar:
– Meu objetivo sempre foi estudar e ter conforto. Com o passar do tempo, fui ficando mais exigente. Passei a criar manias e não aceitar manias. Coisas com: desorganização, desleixo e falta de privacidade me incomodavam.
Raquel encontrou um apartamento na Gávea, em frente ao Planetário. Passou a dividi-lo com três colegas. Ficou por dois anos. Apesar da convivência"tranquila", queria mais privacidade. Com o salário do estágio, mais a pensão que recebe do pai, alugou um apartamento na Barra da Tijuca, próximo ao trabalho e a "15 minutos da faculdade" (garante ela).
Raquel diz que é preciso paciência para garimpar a melhor opção, encontrar um fiador, enfrentar as exigências burocráticas. É difícil conjugar as expectativas pessoas e financeiras, lembra ela. Mas o esforço acaba recompensado quando se encontra "exatamente o que queria".
Variação de preços é grande
Para economizar no orçamento, as opções de dividir o apartamento com amigos ou alugar um quarto entram na pauta dos jovens. Os preços variam consideravelmente entre os bairros da Zona Sul. Aluguéis na Gávea, no Leblon, em Ipanema e no Jardim Botânico são mais caros. Em apartamentos de um ou dois quartos, oscilam entre R$ 2.000 e R$ 3.500. Já em Botafogo, Flamengo e Copacabana, ficam entre R$ 1.000 e R$1.800.
Outro bairro muito procurado pelos estudantes é a Barra. Apartamentos de dois ou três quartos estão sendo alugados em torno de R$ 1.200, incluso o condomínio.
As repúblicas não têm tido mais tanta procura, mas ainda podem ser a salvação para os atrasados. A Deck345meia, no início da Barra, reúne pacotes entre R$ 400 e R$ 900 mensais.Já Copacabana e Botafogo apresentam grande oferta de aluguel de quartos para estudantes. Os preços ficam em torno de R$ 500 e também podem ser uma solução temporária para os recém-chegados.
Manual do calouro em aluguel:
– Verifique bem a estrutura do imóvel antes de fechar o contrato. Abra torneiras, teste as descargas, acenda e apague as luzes e cheque possíveis vazamentos e infiltrações.
– Informe-se sobre o comportamento da vizinhança para avaliar o nível de tranquilidade que você terá quando precisar estudar em casa. Veja se existem bares, boates, feiras livres, obras, excesso de trânsito ou outros fatores que provoquem barulho.Convém visitar o imóvel em diferentes horários.
– Procure saber como é a segurança no local, a facilidade no acesso a outras áreas de interesse, a rede de transporte. Também é importante verificar a infraestrutura de serviços como mercado, farmácia, lavanderia, hospitais, shopping.
– Avalie se o imóvel atende às necessidade quanto ao tamanho, pois, eventualmente, você pode precisar de espaço para receber visitas da família.
– Se o objetivo é montar uma república, opte por uma casa que possa abrigar mais pessoas sem criar tantos problemas com os vizinhos. Em edifícios de apartamentos maiores, o perfil de morador é mais familiar, e provavelmente festas causarão conflitos no condomínio. Mesmo vivendo em uma casa, é preciso respeitar os limites da boa convivência com os demais moradores do bairro.
– Se você mora com um grupo e pretende sair do imóvel sozinho, é preciso solicitar a alteração do contrato de locação se estiver em seu nome. Assim outro morador ficará responsável legalmente pelo aluguel. Mesmo sem estar mais ocupando o apartamento ou casa, quem responde judicialmente por qualquer problema é a pessoa cujo nome consta no contrato.
– A maioria dos proprietários não aceita como fiador proprietário de imóvel em outra cidade, pois, em caso de inadimplência, fica mais trabalhoso protestar a dívida. Seguro fiança, depósito-caução e título de capitalização (utilizado em algumas regiões do país) são alternativas como garantia.
Para dividir o apartamento sem estresse:
1. Encontre o colega de moradia "certo"
Encontrar a pessoa certa para dividir apartamento ou montar uma república é muito importante. Não leve em conta só conveniência e o preço (um quarto bem localizado e baratinho). Mesmo que o lugar seja tentador, lembre-se de que você terá de dividi-lo com outras pessoas. Tente descobrir como será a convivência com os novos colegas antes de tomar a decisão.
2. Estabeleça regras básicas de convivência
Uma das coisas que mais causam problemas em uma moradia compartilhada são os comportamentos diferentes, muitas vezes opostos, no dia a dia. Então, combine regras básicas de convivência. Por exemplo, sobre volume do som, visitantes, reposição do papel higiênico.
3. Dividindo o trabalho
Numa casa compartilhado, existem trabalhos que precisam ser feitos – mesmo que ninguém goste de fazê-los. A menos que se decida viver em um chiqueiro e espere a vigilância sanitária bater à porta. Por isso, é essencial um plano de atividades semanais, com a distribuição de tarefas e responsabilidades.
4. Pagamento de contas
Outra coisa muito importante para o bom funcionamento de uma república ou moradia compartilhada é o planejamento das contas. Por mais que ninguém goste, não tem jeito – as contas chegam todo mês. Tenha em mente as datas de vencimento e a maneira de dividir os pagamentos. Esse cuidado pode prevenir, por exemplo, que falte luz no meio de um banho quente.
5. Trate seus colegas como você gostaria de ser tratado
Essa é talvez a dica mais simples, mas provavelmente a mais importante. Se você trata seus colegas como gostaria de ser tratado, a chance de que seja recíproco é sempre maior. Você pode dar o primeiro passo a fim de tornar o convívio cada dia melhor.