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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Cultura

Fins pessoais dominam uso das redes sociais

Stéphanie Saramago - Do Portal

17/12/2010

 Stéphanie Saramago

O Brasil possui hoje 51,8 milhões de pessoas com acesso à internet no trabalho e em residências, segundo o Ibope. Este ano o país comemora 15 anos de internet, em função disso o instituto Ibope Nielsen Online realizou uma pesquisa sobre o perfil dos usuários de redes sociais. De acordo com a pesquisa o brasileiro utiliza as redes sociais basicamente para fins pessoais, como forma de socialização.

Segundo dados do Ibope, 84% dos usuários de redes sociais como Facebook, Twitter, Orkut, Youtube usam as redes para objetivos pessoais, e apesar do crescimento do uso das redes por grandes marcas, o índice para fins profissionais é de 16%. Em relação à faixa etária, a maioria dos usuários de redes sociais são pessoas de 25 a 34 anos, totalizando 28% dos acessos. Crianças de até 11 anos totalizam 10% do total, e adultos, 12%. A pesquisa do Ibope constatou que 47% dos usuários usam as a internet para trocar mensagens entre amigos, seguida por informação, 16%, e entretenimento, 15%. Em outubro, porém, o Ibope verificou um aumento no número de acessos a sites de notícias, 27,5 milhões de internautas, um equivalente a 66% do total no mês. O aumento foi atribuído às eleições.

O professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia e um dos principais estudiosos da área de comunicação e política no país avaliou o uso da internet e das redes sociais pelos candidatos à Presidência no Brasil no período de eleição:

– Coisas muito interessantes aconteceram a partir desse recurso no Brasil. É uma época de grandes conexões, todas essas tecnologias, ferramentas e iniciativas relacionadas fazem parte do pacote daquilo que se usa para tentar melhorar ou reformar a democracia liberal. Vimos o uso intenso do Twitter, além de vídeos positivos e negativos no Youtube – apontou Gomes.

 Stéphanie Saramago

Um forte exemplo do impacto, de acordo com Wilson Gomes, foi a promoção do candidato Plínio de Arruda, do PSOL, através do Twitter. Plínio de Arruda não demonstrou força eleitoral, mas sua página no Twitter foi uma das mais visualizadas. O professor ressaltou que um candidato com menos de 10% das intenções de voto geralmente não é chamado para participar de debates, ir à televisão, mas, segundo ele, por conta de sua popularidade no microblog, Plínio de Arruda foi convidado.

Para Wilson Gomes essa é uma época favorável à democracia:

– O eleitor não precisa se apoiar no jornal simplesmente, ou nos materiais da campanha. Tem à disposição uma série de outras pessoas com opinião, comentários, debates, que podem ajudar o sujeito a formar sua opinião – disse o professor.

Segundo Wilson Gomes, as mídias digitais ainda não chegam a desafiar a televisão como um meio de produção de opinião política. Porém contribuem como uma alternativa, já que o eleitor, hoje, pode consultar outras fontes.

O professor Alberto Filgueiras do Departamento de psicologia da PUC-Rio não considera as redes sociais como mais um veículo formador de opinião. Para o professor, elas têm força, mas possuem um impacto muito maior servindo como amplificador do que já é dito pelas grandes emissoras, que segundo ele, são efetivamente formadoras de opinião:

– Você tem algumas exceções pontuais. Algumas pessoas específicas conseguem pontuar, gerar alguma opinião. Mas não é a rede social que faz isso. É a própria pessoa. Ele se torna mais um canal de comunicação – avalia Filgueiras.

 Stéphanie Saramago

Para o psicólogo, as redes sociais são uma forma de produção de personalidade, “de uma subjetividade”, e tem uma relação direta com a velocidade de informação que circula na rede. Porém, por conta dessa velocidade, Filgueiras alerta que o filtro dessas informações é perdido:

 – Há um tempo a informação passava por uma série de filtros, por pessoas que conheciam o assunto, e até mesmo por um filtro ético e moral que hoje não existe mais – ressaltou.

Segundo Filgueiras, esse tipo de produção de personalidade altera a forma das pessoas perceberem o mundo. O jovem hoje consegue se colocar no lugar do outro, “para compreender a posição de cada um”. O psicólogo afirma que essa geração passa a enfrentar e encarar os problemas de uma nova forma. A partir desse comportamento atribuído à presença das redes sociais no cotidiano do jovem, Filgueiras indica uma nova organização social:

– Você vê grupos cada vez mais heterogêneos. E isso é muito importante, você tem varias visões dentro de um mesmo grupo. Quanto mais heterogêneo o grupo, melhor produção ele tem – afirmou Filgueiras.

O psicólogo considera positiva a diversidade presente nos grupos, mas o uso da rede social traz também consequências ruins. Filgueiras aponta para a perda de privacidade do jovem, e logo sua capacidade de reflexão. Para ele, o jovem não tem mais um momento para parar e refletir sobre si mesmo, "ele está muito mais suscetível à reflexão que o outro faz dele". E logo, o jovem é levado mais facilmente por movimentos de massa do que por uma posição individual.

Em relação à sociabilidade gerada pela rede, o psicólogo não vê muitas diferenças com a dinâmica pessoal. Segundo ele, você constrói as mesmas impressões emocionais e vínculos afetivos com o amigo virtual. A forma de se relacionar do ser humano “não é exclusivamente através do olhar”, para Filgueiras, a principal delas é a linguagem:

– A gente atribui valor afetivo às palavras, então, independentemente da pessoa estar do outro lado do computador, você consegue estabelecer relações sociais e relações sociais que são para muitas pessoas mais significativas do que relações que ela tem contato direto. É apenas mais um tipo de relação social – afirmou o psicólogo.

 Isabela Sued

O professor Paulo Renato Duran do Departamento de ciências sociais da PUC-Rio concorda que os contatos virtuais não tiram dos indivíduos a relação “real e concreta” de sociabilidade:

– As redes sociais não necessariamente descartam os espaços de sociabilidade concretos, tanto os tradicionais como os novos criados pelos jovens – afirmou o sociólogo.

Os canais como o MSN, blogs e as demais redes ocupam um lugar central na socialização dos indivíduos, para ele, principalmente entre os jovens e adolescentes. Hoje, relações sociais são estabelecidas através da rede. O professor cita o exemplo de sua sobrinha, que conversa com 30 pessoas ao mesmo tempo na internet. Duran ressalta que se deve pensar nos dois modos de sociabilidade, “o virtual e o tradicional concreto”. As consequências da sociabilidade virtual, segundo Duran, é um “suposto encerramento do homem público”:

– É um diagnóstico que autores clássicos apontam há anos. A partir de fatores externos como a violência, a pobreza, a exclusão social, os homens tendem a se fechar em si mesmos – explicou.

Duran afirma que, na história da modernidade, a separação do espaço público e privado sempre foi delineada, onde os espaços individuais eram cada vez mais estabelecidos. A internet, as redes sociais seriam, segundo o sociólogo, mais um espaço a ser agregado nessa separação:

– As redes sociais ocupam algum tempo na vida das pessoas. Há casos onde pessoas realmente se encerram, e isso pode gerar uma problemática de um individualismo exacerbado – ressaltou Duran.

Para o sociólogo, no entanto, esse individualismo tem também seu lado positivo. Ao escrever sobre si, o individuo cria uma nova forma de sociabilidade. Ele considera essa sociabilidade como uma nova faceta da cultura social e deve ser estudada e refletida:

– Na medida que você escreve, você estabelece uma sociabilidade dentro da rede. Ao escrever sobre si num blog, você está disposto que isso seja compartilhado com outro, acho que isso é um sinal de solidariedade. Um sinal de solidariedade muito diferente do que a sociedade ocidental vivencia até o momento – destacou.

 O ambiente das redes sociais é para a professora Adriana Braga, do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, mais um espaço de expressão para essa cultura social já estabelecida. A professora afirma que a internet participa como um complemento da sociedade, e muitas vezes o papel que as redes sociais exerce é como “reprodutor de seus problemas”. Segundo Adriana, a web como território amplo, onde ambientes sociais diferentes estão inseridos, é usada pelas pessoas "conforme a conveniência" de cada situação específica.