Stéphanie Saramago - Do Portal
27/09/2010A Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), do grupo Thyssenkrupp, no município de Santa Cruz, no estado do Rio de Janeiro, procurou a PUC-Rio para analisar as partículas liberadas pela indústria durante a fase de pré-operacão. O vazamento de partículas pela siderúrgica foi constatado no fim de semana dos dias 14 e 15 de agosto e notificado pela empresa no dia 17. Em função do ocorrido, a Secretaria Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro multou a CSA em R$ 1,8 milhão.
A poeira foi liberada pela empresa produtora de aço após ter de desviar o metal líquido para um poço de resfriamento depois de um erro inesperado em outra etapa da produção. O professor José Carlos de D´abreu, do Departamento de Engenharia Metalúrgica da PUC-Rio, explica que quando este metal é resfriado de forma inadequada um pó é levantado.
Até o momento, não se sabe a exata composição da poeira. O professor D´abreu explicou que esta análise é demorada e deve ser refeita duas, três vezes até a confirmação. Só a partir dessa análise será possível saber se existe algum risco para a saúde dos moradores de Santa Cruz. Professores e alunos de pós-graduação e mestrado trabalham em conjunto nos laboratórios da universidade.
D´abreu ressalta a importância da CSA para o estado do Rio de Janeiro, que agora é o maior produtor de aço do país. Segundo ele, este posto trás uma responsabilidade maior já que vários setores da economia são movimentados. O Portal entrevistou o professor sobre o caso.
Portal Puc Rio Digital: Em termos técnicos, o que causou o erro da Companhia Siderúrgica do Atlântico?
José Carlos D´Abreu: Há uma cadeia de produção que é composta de vários equipamentos e várias etapas. Uma delas está logo após que você usa o primeiro ferro líquido produzido, antes de fabricar o aço. Esse ferro líquido então vai para outro setor onde o aço vai ser fabricado. Esse transporte todo é feito na forma líquida. Ele sai desse equipamento, chamado alto forno, e vai para o conversor, um outro equipamento onde vai ser fabricado o aço, e tudo isso vai ser feito com o material líquido, em alta temperatura, na ordem de
Portal: O problema já foi corrigido?
D´Abreu: Sim. Foi só naquele período. Uma parte do equipamento não podia receber e outra continuava produzindo, e você não para um equipamento desse. Não é como, por exemplo, você desligar, tipo um computador. Um equipamento produz uma quantidade enorme de material por dia, são milhares de toneladas diárias e para você desligar um equipamento desse você precisa de algumas horas.
Portal: Essa poluição leva algum risco para a população?
D´Abreu: Até o momento não se pode afirmar absolutamente que o pó teria algum elemento perigoso. Não existe nenhuma análise concreta que se permita falar sobre isso. As primeiras análises estão mostrando que é um pó, que não teria grandes elementos. Então depois disso feito é que poderá se especular. Ele não tem absolutamente nenhum material nuclear, portanto não tem nenhum perigo de radiação, isso está completamente descartado. E esse material se deposita, é como se fosse uma poeira, um pó que carrega muitas partículas finas. E como é uma partícula que esta sendo formada em condições diferentes, ela precisa ser analisada pra ver exatamente que elementos contêm.
Portal: Na fase de pré-produção, é comum a ocorrência de erros em uma companhia deste porte?
D´Abreu: Não é comum. Mas para evitar esse tipo de erro, você teria que ter alguns equipamentos que só seriam usados de vez
Portal: Qual é a importância da Companhia para o Rio de Janeiro?
D´Abreu: O Rio de Janeiro, o estado do Rio é o segundo maior produtor de aço do Brasil. Com a CSA, com outra usina em Resende, o estado do Rio de Janeiro passa a ser o maior produtor de aço do Brasil. Passa Minas Gerais. Regionalmente, a produção de aço no Brasil está no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, muito na região Sudeste. E esta liderança trás uma responsabilidade muito grande, que é o risco de acidentes, de formação de recursos humanos, tudo é movimentado a partir disso.