À primeira vista, a paisagem é agradável. Jardins com a grama aparada, canteiros de flores bem cuidados, brinquedos bem conservados. No entanto, andando um pouco mais o visitante logo repara no inusitado: em pleno dia de sol, as alamedas do Parque da Cidade, na Gávea, estão vazias. Os carros estacionados na entrada enganam: todos são de moradores. O cartão-postal do Rio já não está em condições de competir com outros pontos de visitação. Enquanto os cariocas e turistas comemoram a reinauguração do Cristo Redentor, o parque perde espaço nos roteiros da cidade.
A falta de segurança é a preocupação mais evidente do visitante. Entre 7h e 19h, dois guardas municipais patrulham os 470 mil metros quadrados do parque. Não há seguranças na portaria que fica aberta 24 horas. Animais domésticos e caminhões entram no parque sem restrições. Segundo a assessoria da Guarda Municipal, um carro da corporação faz "rondas periódicas", mas moradores e frequentadores consideram a vigilância "insuficiente".
Segundo o major Lacerda, subcomandante do 23º Batalhão (Leblon), não há patrulhamento fixo da Polícia Militar dentro do parque. O policiamento é feito, periodicamente, no entorno.
O guarda municipal Walter Solimar Angeli trabalha no parque há 10 anos. Ele conta que o movimento caiu muito desde que a remadora do Flamengo Priscilla da Silva e Souza foi encontrada morta, em 2008, depois de ter sido violentada por Francisco Itamar Nonato Pedrosa, morador da comunidade próxima ao local.
– Depois desse episódio, o movimento caiu pra valer. Durante a semana a média é de
Sérgio Nóbrega, morador de uma das 14 residências dentro do Parque da Cidade, lembra que há 20 anos o lugar recebia excursões com visitantes. O oásis verde era tão conhecido quanto o tradicional Jardim Botânico. A falta de divulgação e a má fama atribuída ao local afastaram os turistas e até os cariocas. Sérgio reclama do abandono da portaria e das árvores caídas, vítimas das tempestades de abril.
– Os moradores do Parque não têm voz. Quando reclamamos dos buracos nas ruas internas ou das árvores caídas perto da cachoeira, eles [da Secretaria de Meio Ambiente] não nos atendem – critica.
Isabela Lobato, gestora das Unidades de Conservação, reconhece que o calçamento está deteriorado. Segundo ela, a Secretaria de Meio Ambiente “aguarda a liberação de crédito orçamentário para realizar o processo de licitação do contrato de manutenção dos parques municipais”. Já Nelza Oliveira, assessora da Comlurb, explica que os funcionários "não são instruídos a fazer a retirada de árvores e galhos que caem na área da floresta por ser o local tombado como parque natural".
José Henrique Santos, aluno do curso de cinema da PUC-Rio, conta que costumava frequentar o espaço bucólico nas férias. Segundo ele, o local era tranquilo e tinha "uma estrutura que funcionava". O lago, playground e o museu recebiam "grande número de turistas". Ele lamenta ver hoje o parque vazio:
– O abandono é terrível. Está largado, sem segurança. Acabou virando um lugar de nada.
Há quem associe a suposta falta de segurança ao medo da violência compartilhado entre habitantes dos grandes centros. Pina Bastos, funcionária do Museu Histórico da Cidade, acredita que não haja motivos para as pessoas deixarem de visitar o local.
– O crime que aconteceu aqui vai fazer um ano e meio. O criminoso foi julgado e condenado. Não há por que temer. O parque é seguro. Eu mesma subo e desço as alamedas todos os dias sem problema algum – afirma.
Para Pina, o medo que afasta visitantes prejudica também o museu, fechado para reformas desde setembro de 2008. Apesar de interditado, as obras até agora não começaram. Segundo ela, a verba para a execução da obra foi liberada na semana passada.
Refúgio verde no espaço urbano
Localizado no bairro da Gávea, o Parque da Cidade estende-se por 470 mil metros quadrados, até as proximidades do Parque Nacional da Tijuca. Parte do território é ocupada por mata fechada; e o restante, por uma área com jardins a céu aberto. Propriedade particular do Marquês de São Vicente, o parque abrigou sua residência oficial, hoje sede do Museu Histórico da Cidade.
O Museu da Cidade foi criado pelo prefeito Pedro Ernesto, em 1939. No acervo estão peças relativas à evolução da cidade do Rio de Janeiro, desde a sua fundação até o período republicano. O primeiro pavimento reúne objetos do período colonial. No segundo andar, estão peças que remontam à história do Rio nos períodos imperial e republicano.