Diante dos transtornos ocasionados pelo temporal de abril - o maior em 44 anos - especialistas reunidos na PUC-Rio apontaram prevenções contra enchente e erosão. Algumas soluções são simples, como a construção de reservatórios domésticos de água da chuva e a plantação de árvores com raízes resistentes, respectivamente. Outras exigem um investimento maior, como as bacias de retenção usada pelos americanos para reduzir o risco de alagamentos. Para viabilizá-las, são necessários avanços tecnológicos e políticos, lembraram os participantes do seminário Rio em risco: o papel do meio físico no planejamento e gestão das cidades.
O professor da Escola Politécnica da UFRJ Jorge Prodanoff explicou uma série de sistemas adotados em outros países para evitar inundações. Ele testa, em laboratório, adaptações para o cenário brasileiro. Segundo o professor, é necessária uma compreensão essencial: “Deixar a água no lugar que caiu”.
O mesmo princípio é aplicado nas bacias de retenção dos Estados Unidos. De acordo com Prodanoff, os recipientes "amortecem as cheias" e seguram a água o maior tempo possível. Assim o escoamento ocorre aos poucos. O professor sugeriu que o modelo, já usado no Parque Urbano Pinto Teles, em Jacarepaguá, se estendesse a mais regiões da cidade e do país.
Outro modelo importado identificado por Prodanoff fica também no Rio. Construído numa parceria entre a prefeitura e o Walmart, o "reservatório de armazenamento local" fica no subsolo da Avenida das Américas, na Barra, e tem a função de conter a água que escoa naquela área.
Já Porto Alegre importou o modelo europeu do “telhado verde”: coberturas de casas e empresas funcionam como jardins:
– Durante as chuvas, o telhado retém grande volume de água – disse o professor.
Soluções caseiras também podem ajudar a afastar o perigo de inundação. Reservatórios domésticos recolhem a água da chuva, que pode ser utilizada, por exemplo, na lavagem de calçadas. Prodanoff recomendou que os sistemas sejam coordenados:
– O isolamento dificulta a eficiência. O ideal é combinar os modelos no mesmo espaço urbano.
O professor Pedricto Rocha, coordenador dos cursos de extensão em Geografia da PUC-Rio, ressalvou: as soluções para as enchentes esbarram num ponto "determinante", o investimento. Para Rocha, não é só a chuva que põe o “Rio em risco”, mas "a deficiência em vários aspectos".
– Resolver o problema imediato da chuva é impossível dentro dos padrões de desenvolvimento. O risco também está em aspectos como o trânsito.
Já para Aluisio Granato, engenheiro da Pesagro/EMBRAPA, só com investimento em medidas preventivas poder-se-á evitar novos estragos com a chuva. Ele aponta cinco passos para garantir a redução desses efeitos climáticos: leitura ambiental, planejamento ambiental, implantação de sistemas preventivos, monitoramento e manutenção.
– Se comparados com o processo de recuperação, os custos da prevenção são significativamente menores – compara.
Granato desenvolve pesquisas em regiões nas quais o solo sofre a ação erosiva da chuva. Segundo ele, isso ocorre porque o solo encontra-se desprotegido. Para evitar o problema e recuperar áreas comprometidas, o pesquisador propôs, por exemplo, a utilização da planta indiana capim vetiver. Com raízes que podem atingir mais de dois metros, "resistentes como o aço", a planta ajuda a conter os efeitos erosivos.
O professor do departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio Felipe Guanaes, coornedador do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA), aposta
– É preciso ter transparência em dados espaciais para que a população participe efetivamente das decisões – ressaltou o professor. Ele apontou a "tríade para o alcance dos resutados": universidade, população e investimento público.