O carioca ainda paga a fatura do temporal 15 dias depois dos alagamentos e deslizamentos trágicos. A interdição de parte da Avenida Menezes Cortes, conhecida como Grajaú–Jacarepaguá, prejudicou o trânsito na Zona Oeste e transformou num inferno a saída da Barra para a Zona Sul e o Centro, das 8h às 11h. A interrupção foi causada por 18 pontos de deslizamentos ao longo da via. A medida será tomada sempre que a chuva atingir nível "preocupante", enquanto as obras de contenção das encostas não se consumarem. Os carros são direcionados para a Auto-estrada Lagoa–Barra, que vira um gargalo especialmente no trecho próximo ao Elevado do Joá. A viagem da Barra à PUC-Rio, por exemplo, corre o risco de levar mais de uma hora. De ônibus, o trajeto adquire contornos de saga:
– O ônibus que eu pego vem da Linha Amarela e depois passa na Ayrton Senna. Quando a Menezes Cortes está parada, a Barra fica toda ruim. Para o ônibus chegar é uma espera danada – reclama a estudante de Comunicação Larissa Moggi. Moradora da Barra, ela conta que o tempo de viagem tem aumentado:
– Um dia levei 55 minutos para chegar à PUC. Normalmente, levo meia hora.
Amplificado pela maior chuva em 44 anos, o gargalo formado diariamente na Avenida das Américas expõe deficiências crônicas do trânsito à beira do colapso – decorrentes, em parte, de promessas arquivadas, como a conclusão do corredor viário e a ampliação da Lagoa–Barra, pela qual passam 76,5 mil carros por dia, segundo a CET-Rio. Para o estudante de Teologia João Carlos, a principal causa dos engarrafamentos crescentes é a "falta de planejamento urbano":
– A região cresce sem o planejamento adequado. O trânsito é um sintoma disso.
Morador da Barra há 20 anos, João Carlos conta que já mudou a rotina para se adaptar ao tempo maior gasto ao volante:
– Saio de casa às 6h. Se eu sair 15 minutos mais tarde já não consigo chegar às 7h no campus.
O estudante acredita que a solução seja o investimento em transporte de massa. "O metrô tem que chegar à Barra, pois tudo está convergindo para lá. A prefeitura devia fazer um estudo sobre a viabilidade de transporte pelo mar", sugere. Desde os anos 1980 projetos de transporte marítmo na cidade frequentam gabinetes públicos. A implantação desse sistema alternativo esbarra, no entanto, em obstáculos econômicos e políticos.
Prometida há dez anos, a ampliação do metrô até a Barra começou a sair do papel com a definição do trajeto Ipanema-Gávea-Barra e o início das obras, no mês passado. No entanto, ainda está em aberto o prazo de conclusão.
Obras de reparos em encostas.
A Geo-Rio, órgão da prefeitura responsável pelo monitoramento dos problemas relacionados a encostas, informou que a interdição de parte da Grajaú-Jacarepaguá foram causadas pelo risco de novos deslizamentos e para a limpeza da via. A prefeitura determinou que as vias que cortam os maciços da cidade – como a Grajaú–Jacarepaguá, a Avenida Niemeyer, a Estrada da Grota Funda e a Avenida Edson Passos – sejam fechadas, como medida de prevenção, quando as chuvas atingirem um nível determinado.
O órgão anunciou uma obra de R$ 4,5 milhões para contenção das encostas. Levará 180 dias. Ainda de acordo com a prefeitura, haverá um "monitoramento constante" para a detecção da necessidade de obras preventivas.