A noite carioca de sexta-feira, quando os termômetros chegaram aos 31 graus, ficou ainda mais quente em meio às cem mil pessoas que foram para o desfile de pré-carnaval do tradicional Cordão da Bola Preta. Apesar da animação, os problemas foram muitos. Durante o percurso havia poucos banheiros químicos, o trânsito no centro ficou caótico, faltou segurança e havia muito lixo espalhado pela rua.
A Prefeitura instalou apenas 50 banheiros químicos, distribuídos entre a Praça Mauá e a Cinelândia. Com isso, uma quantidade enorme de pessoas urinavam nas ruas, durante o desfile, sem serem incomodados pelo pequeno policiamento presente.
A avenida Presidente Vargas ficou parada por aproximadamente 30 minutos, esperando o bloco passar. Antes do início do desfile, o trânsito entre a rua São Bento e o final da avenida Rio Branco ficou completamente congestionado.
Segundo o advogado Luis Fabiano, o trajeto entre o distrito naval e a Rio Branco que é feito normalmente em 10 minutos, estava sendo realizado em mais de uma hora. O advogado reclamou da organização do bloco: “Deveria existir um corredor para os carros”.
Quem não reclamou foi a vendedora ambulante Monique, de Queimados. Desde 1997 ela vende pequenos adereços para cabeça que se tornam uma salvação para quem não providenciou a fantasia. “Trabalho sempre nos blocos da cidade. Consigo, mais ou menos, cem reais por dia”. Muitos dos vendedores de bebida que seguiam o bloco não estavam cadastrados e também não sofreram fiscalização.
A cidade estava representada no cordão. Havia pessoas de todos os lugares do Rio de Janeiro e até de fora do país. Os turistas escoceses, Ross e Louise, 26 e 25 anos respectivamente, não vão ficar até o carnaval, mas o cordão conquistou o casal que planeja voltar no próximo ano ao Brasil. “O carnaval do Rio é simplesmente fantástico!”- justificou Ross.
Enquanto uns conheceram o carnaval, outros seguem uma tradição de família. Com 13 anos, o pai de Élson Jacaré o levou pela primeira vez ao bloco. Depois de 50 anos, o morador de Abolição – Zona Norte da cidade – repete o hábito fazendo apenas uma ressalva: “Depois que o Bola virou moda ficou muito cheio. Era melhor de brincar quando ainda era na rua da Carioca”.
O bloco saiu no horário marcado, por volta das 20h, e se estendeu mais do que o esperado. A príncipio, o desfile seria até 22h, mas só por volta das 23h30 que os foliões chegaram à Cinelândia, destino final. Em cima do carro de som, estava presente, além da bateria do cordão, o intérprete Neguinho da Beija Flor – que começou a sua história com o carnaval no bloco. Puxando o desfile estavam o presidente do Bola Preta, Pedro Ernesto, a rainhas Flávia Lopes, e as princesas Andrea Aggata e Luciana Caramelo.