A América Latina enfrenta “numerosas e complexas” ameaças relacionadas à segurança e estabilidade militar. Há riscos de desequilíbrio regional, deterioração dos regimes democráticos e dos Estados nacionais. O crime organizado transnacional ameaça, bem como as guerrilhas, o tráfico de drogas e a degradação ambiental. Para completar, o continente não tem um arcabouço institucional para lidar com os problemas que assolam a região.
As conclusões chamam a atenção por serem levantadas pelo influente Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), no seu Balanço Militar anual, divulgado semana passada, sobre os problemas de segurança que afligem o planeta.
Para o professor do Departamento de História da PUC-Rio e professor adjunto de relações internacionais da Escola de Guerra Naval Renato Petrocchi, o estudo acerta em alertar para determinadas ameaças à estabilidade da região.
– Hoje as guerras são internas, domésticas e civis. Transcedem fronteiras, esse tipo de instabilidade que o relatório está preocupado se refere ao crime organizado conectado por um rede que se expressa na América Latina. Algumas das ameaças apontadas pelo relatório estão diretamente ligadas à Venezuela, que faz restrições à liberdade civil e adota uma tendência antidemocrática – afirmou.
O documento ainda declara que, diante dessas ameaças, os países latino-americanos têm a "necessidade e a oportunidade de fazer um esforço coletivo a favor da segurança da região". De acordo com o estudo, essa necessidade surge não somente por causa das ameaças listadas, mas também pela “falta de apetite” dos Estados Unidos em mediar os conflitos na América Latina.
– O que a instituição inglesa chama de "falta de apetite", o Brasil comemora, pois esse é um modo do país ocupar espaço, organizar a defesa e segurança para obter estabilidade na região. Mais do que ter a prepotência de ser um líder local, o Brasil deve compartilhar a integração com os outros países da América Latina – disse Petrocchi.
Entretanto, o estudo cita exemplos de ações dos países da América do Sul em prol da segurança da região, como a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do Conselho de Defesa da América do Sul (SADC). Apesar disso, os analistas do IISS ressaltam que essas iniciativas não são suficientes para lidar com as ameaças e que faltaria “arquitetura institucional” para tentar resolver o problema.
– A arquitetura institucional fragmentada ou rala é um fato. A Unasul, por exemplo, é mais um ensejo para viagens e reuniões das cúpulas diplomáticas do que algo a ser levado em consideração de verdade, ao menos por enquanto. Houve avanços aqui e ali na arquitetura institucional continental, mas é evidente que manifestam-se também agrupações políticas entre os países com governos mais à esquerda tendendo a se aproximar da Venezuela e os mais próximos dos Estados Unidos – declarou Márcio Scalércio, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC-Rio.
Com relação ao Brasil, o documento do IISS ressalta “um ambicioso programa de modernização militar” do país. Entre os projetos brasileiros, está a criação da Secretaria de Produtos de Defesa, que vai centralizar as aquisições militares previstas no novo programa. Além disso, o Balanço Militar 2010 diz que o Brasil investe na indústria bélica pois acredita que o incremento militar está relacionado com o desenvolvimento nacional. O IISS sugere ainda que o Brasil “está interessado agora em desenvolver tecnologia nuclear para a propulsão de submarinos".
– É positivo ao Brasil articular a política de desenvolvimento nacional com a política de defesa no sentido de alcançarmos tecnologia independente nessa área. Isso pode dissuadir eventuais ameaças. O Brasil possui inúmeros recursos naturais e precisa de meios para defendê-los. Os submarinos, por exemplo, podem ser utilizados para fiscalização da Amazônia Azul, a fronteira brasileira no mar – disse Petrocchi.
O professor Márcio Scalércio lembrou que o Brasil sediará dois grandes eventos internacionais nos próximos anos: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Por isso, as preocupações em relação à segurança estarão entre as prioridades da agenda nacional.
- Eventos internacionais que serão sediados no país nos próximos anos farão com que o Estado brasileiro seja responsável por hospedar e providenciar a segurança de delegações esportivas de países que estão no topo da lista dos alvos de grupos radicais. Para isso, sem dúvida, o Brasil deve se preparar - alertou Scalércio.
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