Elisa Quadrio e Yasmim Rosa - Do Portal
04/12/2009Num cenário de repressão, concentração de renda e miséria dos anos 1980, 1015 pessoas foram mortas pelo regime militar. Entre elas, membros da própria igreja, que, até então, pensavam ser intocáveis. No dia 24 de março de 1980, o bispo conhecido como o defensor dos pobres e oprimidos, Dom Oscar Romero, foi assassinado. Nove anos depois, seis padres jesuítas e duas mulheres foram assassinados no campus da Universidad Centramericana Jose Simeón Cañas (UCA),
O intuito do evento era refletir sobre a morte dos padres
Dom Romero: defensor dos pobres e oprimidos
Às vésperas do funeral de Dom Romero, em 29 de março de 1980, um grupo de bispos latino-americanos, assinou um documento que dizia: “Três coisas admiramos e agradecemos no episcopado de Dom Oscar Romero: foi, em primeiro lugar, anunciador da fé e mestre da verdade [...]. Foi, em segundo lugar, um resoluto defensor da justiça [...]. Em terceiro lugar, foi o amigo, o irmão, o defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros marginalizados”.
O que Romero pregava no púlpito, em 1980, que o “verdadeiro pecado é a injustiça social” pode ser observado, hoje,
Após a exibição do filme Romero, do diretor John Duigan, Dom Dimas Lara foi convidado a participar do debate sobre mártires jesuítas. Ele relembrou alguns momentos de sua vida em que começou a conhecer melhor a história de Dom Romero.
– Eu estava lembrando de quando eu cheguei em Roma, 1989, logo depois da matança de El Salvador. Já naquela época era costume, em algum fim de semana do mês de março, reunirem-se os latino-americanos para lembrar o que aconteceu durante muito tempo
E ainda exaltou que Dom Romero é um dos muitos exemplos de assassinato e tortura.
– Já naquela ocasião eu comecei a admirar não só Dom Romero, que é um ícone dentro da história da América Latina, mas centenas, milhares de outros que ao longo de todos esses anos continuam sendo assassinados, ameaçados e torturados.
Mas esta situação não ocorreu apenas naquela época. Dom Dimas, reforçou que hoje esta realidade é muito mais próxima do que imaginamos.
– O fato é que em todos os tempos, ainda mais agora, essa é uma realidade muito próxima nossa, de América Latina, aqueles que realmente se doam de corpo e alma pela causa da verdade e da justiça dos povos e acabam sofrendo represália. E o pior é a convivência com os radicalistas que às vezes, no calor da luta pela vida, nem sempre conseguem discernir.
Massacre
Após ser apresentado o vídeo, A memória e sua força: Os mártires de El Salvador
(Memory and its strenght: the martyrs of El Salvador – a discussion between Jon Sobrino, Sj, and Noam Chomsky, moderated by J. Donald Monan, SJ), material doado pela Boston College, os professores da PUC-Rio relembraram os jesuítas e opinaram sobre o que o Jon Sobrino e Noam Chomsky discursaram.
Uma das explicações para o massacre teria sido a posição que o reitor da Universidade tomou ao afirmar que a função da instituição era, além de ensinar, transmitir aos alunos o sentimento de coletividade e o valor das ações sociais. Para os militares, isso impulsionava os jovens na direção de ações contra o governo.
Para o padre Carlos Palácio, a grande questão em torno dos assassinatos foi a mudança que a própria instituição jesuíta sofreu naquele período.
– A morte dos padres não foi por acaso. A justiça virou o lema principal da ordem, e todos a seguiram com veemência. A razão pela qual eles morreram foi a razão pela qual viveram – afirmou.
Palácio lembrou também a importância em não se deixar ser atropelado pelos acontecimentos sem que sejam analisados mais a fundo. Por trás de casos como esse, podem existir diversas causas em favor do social.
Tomando como referência a ideia de história como mestra da vida, a historiadora Maria Elisa mostrou que o exercício da lembrança se faz necessário para episódios como esse.
– Estamos relembrando, hoje, não só o que aconteceu
Padre Paul Schweitzer concordou com Maria Elisa e ressalvou que quem não conhece a história está condenado a repeti-la. Ele também citou Noam Chomsky ao afirmar que o imperialismo dos noticiários deve ser vencido.
– Este ano, dois acontecimentos importantes fizeram aniversário: a queda do Muro de Berlin e o massacre
A Decana Maria Clara Bingemer, reforçou a importância da memória dos mártires, mas deu enfoque ao que o jesuíta Jon Sobrino declarou na Boston College. Segundo Sobrino, mais importante do que relembrar os padres assassinados é dar continuidade ao trabalho que iniciaram em 1989.
– As colaboradoras leigas Elba Ramos e a filha dela Celina que morrem com os padres são exemplos de proto-mártires, pessoas que vivem um martírio constante em suas vidas, mas não por opção. Os jesuítas lutavam justamente por essas pessoas, que tinham uma vida simples. O melhor que podemos fazer é continuar esse projeto. Aqui na PUC, temos diversas ações sociais embasadas no lema de justiça que os jesuítas, fundadores da universidade, procuram seguir.
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