Em 1979, o cenário político do Irã sofria um processo de transformação que culminou na Revolução Iraniana. O país, até então governado pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi, monarca autocrático, passou a ser comandando pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, repúblicano islamita. Trinta anos após a mudança de poder, o Centro Acadêmico de Relações Internacionais da PUC-Rio (Cari) promoveu uma discussão sobre o acontecimento. Os professores palestrantes, Nizar Messari e Márcio Scalércio, enfatizaram, entre outros aspectos, que o fato do Xá ter sido aliado dos Estados Unidos foi um dos principais motivos que resultaram na transformação política.
Na opinião de Scarlécio, toda revolução é fruto de radicalização política na sua dinâmica. Entretanto, não se deve encarar o processo de transformação política no Irã com estranhamento. As reinvidicações dos iranianos, até mesmo em relação aos ocidentais, têm um embasamento histórico. Para exemplificar, o professor relembrou que, em 1983, um americano derrubou um navio com 290 passageiros orientais. Em muitas situações, os estadonidenses tentam impor sua cultura sobre as demais. Portanto, o protesto da sociedade iraniana pretendeu e pretende reaver suas raízes, mas sem voltar ao passado.
– Toda revolução é contra algo ou alguém. Os iranianos eram contra o regime do Xá e as reformas que ele queria implantar, como por exemplo, a revolução branca que propunha a ocidentalização do Irã – diz Scarlécio.
Ainda de acordo com o professor, os iranianos buscavam, também, a nacionalização da exploração do petróleo e do gás natural, o que é uma reinvidicação não religiosa, mas de países de terceiro mundo.
Por sua vez, ao abordar a dimensão interna, Messari defendeu que, diante da proposta modernizadora do Xá, a revolução buscou o resgate da identidade xiita. O professor também ressaltou a desesperança dos iranianos em relação a possíveis reformas após as últimas eleições. Para ele, podem haver mudanças do ponto de vista institucional nos próximos anos.
A crítica dos professores em relação à Revolução Iraniana não se constrói devido ao aspecto religioso, mas em decorrência da censura que o governo exerce sobre a população.
- A pergunta que prevalece é se é possível haver uma negociação democrática entre o político e o religioso. Eu creio que não existe uma fórmula mágica para dizer se um regime é ou não democrático – avalia Messari.
No âmbito regional, Márcio Scalércio ressalta que o pior período da revolução ocorreu na década de 80, durante a guerra contra o Iraque. Os conflitos que envolvem o Irã com países vizinhos incluem, ainda, a Arábia Saudita. Ambos competem pelas mesmas áreas de influência.
– Muitas nações se preocupam com a estrutura bélica iraniana, porém se o regime aprimora seu poder militar, é por se sentir inseguro diante do mundo – afirma Scalércio, contrário a soluções militares e opositor de uma possível guerra contra o Irã.
Organizado pelos alunos Rafael Rezende, do sexto período, e Juliana Ghazi e Carolina Peterli, ambas do quarto período, o debate Os 30 anos da Revolução Iraniana e a influência da religião nas relações internacionais inaugurou a VI Semana de Relações Internacionais da PUC-Rio.
Liderança e influência digital de Papa Francisco ampliam número de fiéis
Ida de Obama a Cuba e Argentina indica guinada dos EUA
Nick Davies: "Hoje escolhemos o assunto que vai vender e que é mais barato de cobrir"
"Benefícios da redução do protecionismo argentino na economia brasileira não virão no curto prazo"
"De longe, compreendi a magnitude dos fatos"
Combate ao terror exige coalizão contra EI e políticas integradoras