Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo *
Quem veio?
Glória Perez, acreana, autora, novelista.
Por que veio?
Palestrar no seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”. Ela falou da minissérie “Hilda Furacão”, adaptação do romance de Roberto Drummond. Além disso, deu dicas práticas de escrita e roteirização aos alunos.
Onde foi?
Na PUC-Rio, 19 de abril de 2007.
Melhores momentos
“Hilda é um romance que parece simples, por ser cheio de histórias saborosas. Mas adaptá-lo foi muito difícil porque para você manter o mesmo sabor do livro e, ao mesmo tempo, mexer tanto... você tem que fazer isso com muita técnica. E não é um romance muito literário. Quando eu soube que vocês vão fazer Machado de Assis, fiquei com pena... porque é literário demais, é dificílimo de fazer!”
“O teatro é palavra, o cinema é imagem e a TV é o equilíbrio entre esses dois.”
“A novela brasileira tem uma grande função. Nós somos uma sociedade de maioria analfabeta e, dos que são alfabetizados, quantos têm dinheiro pra comprar o livro, pagar o cinema ou o teatro? Muitos não têm. Então a novela é a ópera, o teatro e o cinema dessa população que não tem outra saída.”
“Por um lado o autor pode se sentir um Deus se ele quiser, mas por outro não. Quando um personagem é bem criado ele ganha vida própria. Então você se torna um Deus que não controla suas criaturas, porque elas acabam o puxando para um caminho que muitas vezes você não quer. E, se elas não o carregarem, aí é porque elas não estão bem feitas mesmo.”
“Encenação é chegar à realidade através de um desvio.”
“Na literatura você tem uma liberdade que na TV você não tem. Você pode escrever um romance com 300 personagens, fazer um deles voar pelo espaço, qualquer coisa. Mas quando você escreve para televisão você tem que imaginar as condições de realização daquilo. Isso aí é uma grande diferença.”
“Muitas vezes o personagem principal de um livro se torna mais apagado quando passa para a linguagem da televisão.”
“Não pode haver interferência nem do autor no trabalho do diretor, nem do diretor no trabalho do autor, esses espaços têm que ser respeitados. O diretor não pode bater no computador nem o autor sabe onde é o melhor posicionamento da câmera.”
Uma palavrinha a mais
– Como foi sua infância no Acre?
– Minha infância foi ótima, foi aquele tipo de infância de tomar banho no rio, de subir em árvore. Mas não tive as coisas que uma criança criada aqui no Rio tem. Eu não tinha telefone, televisão... comi gelatina pela primeira vez só aos 16 anos!
– Como você avalia o acesso à informação no Acre?
– O Acre tem uma grande movimentação cultural, se você for lá você vai se espantar de ver. Evidentemente é um lugar longe dos grandes centros. Mas claro que há uns entraves. Por exemplo: a novela das 21h passa lá às 18h. Fica difícil, né? Fica complicado o “Jornal Nacional”, que passa 20h15, começar três horas antes, é um outro ritmo. Mas as pessoas são muito antenadas e, apesar da distância das metrópoles, não é uma terra de mentalidade pequena. E lá se dá muito valor às manifestações culturais locais, é um povo que cultua muito sua história e suas tradições, acho isso muito bonito.
– Qual é a melhor coisa e qual é a pior coisa de se trabalhar na Globo?
– Eu preferiria que você me perguntasse qual é a melhor e a pior coisa de se fazer novela. O melhor de escrever novela é você poder ter um grande diálogo com o público, e o pior é você ficar sete, oito meses da sua vida sem viver, sem direito a uma vida pessoal.
* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:
1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues.
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