“Esse negócio de ser mulher é mais difícil do que parecia originalmente”. A frase, da filósofa americana Judith Butler, é a epígrafe de Coreografias do feminino, que a jornalista, escritora e professora da PUC-Rio Carla Rodrigues lança hoje, às 19h, na Livraria Argumento do Leblon. Carla honra Judith e imprime um olhar renovado sobre o feminino e o feminismo; sobre o modo como a sociedade contemporânea pensa a ética e o lugar da mulher. Busca a desconstrução da ideia de que é preciso se encaixar em padrões ou hierarquias.
Desdobramento da dissertação de mestrado em Filosofia, defendida no ano passado, a publicação parte da obra do filósofo franco-argelino Jacques Derrida para descolar etiquetas historicamente atribuídas às mulheres. A professora articula as proposições de Derrida com as de teóricas feministas como Drucilla Cornell, Joan Scott, Diane Elam e Judith Butler. Assim como o filósofo, elas acreditam que o movimento feminista possa fazer política sem necessariamente criar uma identidade exclusiva para as mulheres.
– A ação política em nome de interesses específicos da mulher, como se estes formassem um só bloco, está fadada ao fracasso. Esta é uma discussão sempre atual porque a abordagem não é apenas política, mas filosófica – observa Carla.
Com as reflexões sobre o lugar da mulher na sociedade, os leitores podem rever conceitos e preconceitos – como sugere o questionamento da proposta feminista de atribuir à mulher status superior. Para Derrida, pôr as mulheres em posição de superioridade é uma inversão que simplesmente mantém a hierarquia. Aplicar a teoria à prática é, segundo a autora, outra história:
- Derrida é defensor da ideia de que o pensamento deve ser resguardado, independentemente do que virá de aplicação prática depois. Somente pensando é que se pode vir a modificar as coisas.