Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo *
Quem veio?
Sérgio Marques, carioca, roteirista.
Por que veio?
Palestrar no seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”. Contou como lhe veio a idéia de produzir a minissérie “Anos rebeldes”, falou da influência que “Anos dourados” teve na sua concepção, e mostrou aos alunos algumas técnicas de roteirização para televisão e cinema.
Onde foi?
Na PUC-Rio, 17 de abril.
Melhores momentos
“Ser roteirista é um exercício de não ser observado, pois quase nunca fazem o que você pede. Isso é uma coisa à qual você deve se acostumar!”
“Todo mundo que trabalha em televisão está sempre correndo, fazendo as coisas de uma maneira imperfeita. Porque em TV com certeza a pressa é inimiga da perfeição... e a pressa em geral ganha.”
“Essa minissérie, “Anos rebeldes”, foi feita há 15 anos... e uma das coisas que muda mais rapidamente é tecnologia de TV. Hoje em dia, é claro que teríamos recursos muito melhores para fazer aquelas cenas. Naquela época você praticamente não usava computador pra quase nada, então era tudo muito improvisado. Ainda sim, acho que, com as condições que a gente tinha, foi um trabalho brilhantemente realizado, é um produto incomum em televisão.”
“Quando terminou o último capítulo de “Anos rebeldes”, o Silvio Tendler chegou, me deu um abraço e disse: ‘Cara, nós perdemos essa guerra! E nós é que estamos contando esta história!’ Porque não é o habitual, normalmente a história é a história dos vencedores. Mas essa é uma história dos vencidos!”
“É muito mais difícil fazer um passado recente do que um passado remoto. Uma história do século 19 é fácil porque você já sabe que vai ser tudo em estúdio. Mas numa minissérie como “Anos rebeldes”, as reconstituições não são só físicas – os fatos da época foram vividos por pessoas que estão aqui, estão vivas, elas se lembram, corrigem.”
“Quando eu escrevi “Anos rebeldes”, eu me senti como o Woody Allen deve ter se sentido em “Radio days”. No fim do filme ele termina dizendo assim: ‘Passei minha infância ouvindo vozes, e nos últimos anos percebi que aquelas vozes estavam ficando cada vez mais distantes, difusas, imprecisas, então resolvi fazer esse filme antes que essas vozes se perdessem por completo’. De certo modo, o que a gente quis fazer com essa minissérie foi isso.”
Uma palavrinha a mais
– Num dos trechos exibidos de “Anos dourados”, o personagem de José Wilker fala: “Ah! Deve ter sido uma bala perdida!”, se referindo à morte do estudante Edson Luís no episódio do Calabouço, em 1968. Essa expressão, “bala perdida”, já existia nos anos 60?
– Existia. Agora, as crianças pequenas da época provavelmente não sabiam o que era uma bala perdida, como as de hoje sabem. Atualmente todo mundo sabe o que é uma bala perdida no Rio e em São Paulo pelo menos. Mas tanto essa expressão, como também “fogo amigo”, são expressões de origem militar, antigas.
– Os autores geralmente trabalham sozinhos. Quando estão em cima de uma novela são semanas e semanas quase que trancados em seus escritórios. Isso mexe muito com a cabeça do autor ou vocês já estão acostumados com essa vida isolada?
– As duas coisas. Acostumados nós estamos, depois de algum tempo. Agora... a gente pira, sim, tem acessos desesperados de ir para a rua pra não fazer nada, andar, ver que o mundo ainda existe. Pra mim é uma rotina normal passar três dias sem sair de casa. Mas quando passa disso você começa a querer ir pelo menos ao jornaleiro, ao supermercado, dar uma olhada, respirar o ar – mesmo poluído – das ruas.
* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:
1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues.
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