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Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2024


Cultura

Ao som da história

Felipe Machado - Do Portal

04/12/2007

Nem sempre grandes compositores conseguem fazer grandes trilhas simplesmente porque a trilha não é só música, é a música dentro de um contexto maior, disse o músico Ney Carrasco, professor do Departamento de Música da Unicamp, um dos participantes do workshop “Profissão: compositor”, no terceiro dia de palestras do festival Música em Cena. “Na trilha, a composição é apenas uma voz de muitas outras”, completou. Carrasco, embora seja professor, não acredita que se possa ensinar alguém a ser compositor. Em qualquer área da arte, segundo ele, o artista só será bom fazendo, treinando. O músico dividiu a mesa com três professores da PUC-Rio David Tygel, Hernani Heffner e Mariza Leão, e com o diretor Sergio Rezende.

David falou sobre o uso da tecnologia na música em geral. Segundo ele, só tecnologia não gera um bom produto. “A questão tecnológica deve ser discutida à luz da criatividade, das idéias”, disse ele. A falta de criatividade é o que explica, segundo David, o fato de que hoje muitas das músicas que tocam na rádio e usam a tecnologia serem todas iguais.

A produtora Mariza Leão afirmou que o som – tanto a música quanto o ruído – tem importância fundamental em um filme por que é justamente o que faz o espectador sentir. Ela também destacou a questão dos direitos autorais, que muitas vezes prejudica a produção. Segundo ela, no Brasil não há o costume de comprar trilhas sonoras em CD, a menos que seja composta por canções.

Um pouco de história

O diretor de conservação da cinemateca do MAM e professor da PUC-Rio, Hernani Heffner começou dizendo que não entendia muito de trilha sonora, mas acabou fazendo um panorama completo da história da música no cinema brasileiro desde o início aos dias de hoje. Segundo ele, só a partir da década de 1920 começou a iniciativa de chamar músicos para compor trilhas musicais. Esses músicos, no entanto, tinham formação clássica. Ao longo das décadas, as gerações de músicos voltados para esse mercado foram cada vez mais estudando e aprimorando a música feita para o cinema.

Hernani destacou alguns compositores, como Radamés Gnatalli – que em 1933 fez sua primeira trilha para o filme Ganga Bruta – e a geração da década de 1950, como Guerra-Peixe, Cláudio Santoro e Gabriel Migliori. Este último, segundo ele, ligou-se à produtora Vera Cruz, que tinha um enorme estúdio musical, grande o suficiente para comportar uma orquestra.

Ele citou Remo Usai, que estava na platéia, como importante compositor da década de 1960, e falou da onda de trilhas com canções, na qual Chico Buarque foi um expoente. Como um dos principais compositores atuais de música para cinema, ele citou outro participante, o professor David Tygel. “Estamos diante de duas pessoas que tiveram a iniciativa de lecionar trilha sonora para cinema em universidades: o Ney Carrasco e o David Tygel. Isso é muito importante”, completou.