Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo *
Quem veio?
Silvio de Abreu, paulista, novelista.
Por que veio?
Palestrar no seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”. Falou de alguns de seus trabalhos, como “A próxima vítima”, “Guerra dos sexos” e “Belíssima”. Abordou assuntos como a linguagem televisiva e o papel da novela na TV brasileira.
Onde foi?
Na PUC-Rio, 10 de abril.
Melhores momentos
“Vocês são muito privilegiados. Eu e outros profissionais que estão na TV Globo inventamos o nosso próprio caminho, nós não tínhamos onde aprender. Televisão e cinema eram coisas que não eram estudadas.”
“Novela dentro da TV é um nicho à parte, não tem nada a ver com nenhum outro programa. Ela deveria até ser mais bem estudada, porque toda vez que faço uma novela eu leio críticas a comparando com um filme, uma peça de teatro ou alguma obra de literatura. Acho isso tão absurdo... são coisas tão diferentes que é assustador!”
“A primeira coisa que determina o nosso trabalho é o gosto pessoal. Eu
acho que mesmo escrevendo para milhões e milhões de pessoas, em primeiro lugar a gente está escrevendo é pra gente mesmo. Nós temos que ficar satisfeitos com o nosso trabalho. Então a gente faz esse trabalho com sinceridade, com verdade, querendo expressar algo que para nós é importante.”
“A diferença entre você escrever um livro e escrever para cinema, teatro ou televisão é que você depende do ator. Não adianta dizer que o seu texto é fantástico se você não tiver o ator certo para fazer o que você está escrevendo.”
“A novela já tem 50 anos no Brasil e até hoje as pessoas não entendem e continuam achando que ela é feita a sabor de pesquisa, assim tipo o público dizer ‘eu gosto disso, eu gosto daquilo’, e do autor não ter nenhuma força dentro do processo, de fazer só o que a emissora manda. Não é assim que funciona.”
“O único problema que eu tenho é que quando termina a novela, depois de ter vivido um ano trancado dentro de um escritório onde ‘todo mundo faz tudo que eu quero’, é que eu saio na rua e as coisas não são bem assim. Eu fico tão envolvido pela fantasia que demoro uns dois meses pra entrar de volta no mundo real. Mas isso me faz bem, me dá um alívio muito grande, enriquece muito a minha vida... eu me sinto muito bem fazendo isso... bom, não estou aqui pra fazer análise né...”
“Eu gosto do personagem que age muito, porque eu sou agitado. Então gosto de gente agitada. Personagem parado fica pra filme francês!”
Todo mundo riu...
“Na primeira novela que eu fiz no computador, eu não sabia mexer direito, então qualquer pique de luz fazia eu perder todo o capítulo. Tudo que a Globo me ensinava não funcionava quando eu chegava em casa!”
“Eu tive que optar entre continuar no cinema ou ficar na televisão. Optei pela TV porque achei que ela tinha um campo maior para eu desenvolver minhas idéias. Diferente do cinema, porque naquela época só se faziam filmes eróticos. E eu já tinha feito vários, não queria fazer mais. Não que eu não tivesse dado conta, eu até me divertia fazendo... mas eu já tinha feito muitos!”
Uma palavrinha a mais...
– Qual é a melhor e qual é a pior coisa de se trabalhar na Globo?
– A melhor coisa de se trabalhar na Globo é porque você trabalha numa empresa respeitada, honesta, nos 30 anos em que eu estou lá nunca tive nenhum problema. Uma empresa que respeita todos os acordos feitos, que dá a possibilidade de realizar aquilo que está na sua cabeça, que não o obriga a fazer aquilo que você não quer e não põe limites, que abre seus horizontes. E, principalmente, é uma empresa que acredita no profissional que ela tem, e quer que esse profissional cresça. E lá você tem um intercâmbio de idéias com os maiores profissionais do país. Então tudo isso é uma grande vantagem, que as outras empresas não podem te oferecer. A desvantagem... é que você tem que fazer sucesso.
– Qual o grau de influência que a imprensa tem em relação à divulgação de uma novela? No que ela pode ajudar e no que ela prejudica?
– Ela pode colaborar sempre que falar da novela. Criar o interesse do público, qualquer intriga, fofoca, qualquer coisa que acontece de bastidor, o que quiser contar sobre a novela, tudo ajuda. Falando bem ou mal, a novela tem que estar na boca do povo. Mas ela prejudica quando desrespeita, quando acha que a novela é feita de qualquer jeito. Ou então quando os jornalistas nos colocam como pessoas irresponsáveis, que escrevem só para agradar, tudo isso é um mito. A imprensa prejudica demais quando inventa que vai acontecer determinada coisa, tal coisa não acontece... daí ela diz que não aconteceu porque o público não quis que acontecesse. Isso aconteceu demais comigo. A imprensa então vai criando uma rede de mentiras. Eu entendo o problema deles, a novela sustenta muitas revistas e colunas de jornal, e muitas vezes eles não têm tanta notícia assim, então eles inventam muita coisa.
– Quando você tem um trabalho que não atinge o público esperado, e é considerado um fracasso, isso mexe com a auto-estima do autor? Isso influencia seus próximos trabalhos?
– É uma grande frustração, porque você não conseguiu seu objetivo. A gente acha que sabe fazer novela, mas na verdade a gente está sempre tentando. Não existe uma fórmula, eu não sei fazer novela que vai ser sempre sucesso, às vezes a gente acerta, outras vezes a gente erra... graças a Deus! Porque eu acho que é isso que deixa a nossa profissão mais saborosa!
* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:
1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues.
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