Internet, obesidade, anorexia, câmeras de vigilância, ONGs, globalização, pornografia, junk food e religiões à la carte são algumas das referências utilizadas para analisar os paradoxos da caótica sociedade em que vivemos no livro O futuro da autonomia: uma sociedade de indivíduos?. Fruto de um seminário internacional promovido há dois anos pela PUC-Rio e a Unisinos, a publicação já apresenta em seu título – que, não por acaso, exprime uma pergunta – um dos principais paradoxos contemporâneos: será possível que cada indivíduo manifeste irrestritamente seu individualismo e, ao mesmo tempo, consiga se reunir em sociedade de forma ativa e saudável?
O objetivo do livro, assim como o do seminário, é lançar pistas para a resolução desta e de outras questões que, para Eliana Yunes, uma das organizadoras e professora do Departamento de Letras da PUC-Rio, refletem uma preocupação bastante atual e de extrema relevância:
- Estamos vivendo um momento crítico, uma encruzilhada. Construímos uma sociedade em que não se percebe a figura do outro. Só uma tomada de consciência das múltiplas dimensões da vida, do modo como nos relacionamos com o outro e com nós mesmos pode trazer um equilíbrio – afirma.
A noção de indivíduo autônomo surgiu com a modernidade, mas, atualmente – no que alguns chamam de pós-modernidade ou hipermodernidade –, esta autonomia é levada ao extremo. Na contramão de um real movimento de massificação, que tem como símbolos o jeans, o McDonald’s e a norma da magreza, as pessoas são cada vez mais estimuladas a formar seu próprio modelo de família, política, moda, crenças. O indivíduo não está mais submetido às instituições sociais. Agora, ele é senhor absoluto de si mesmo e exerce um individualismo desmedido, para o melhor e para o pior.
O livro, que, além de Eliana Yunes, tem como organizadores Inácio Neutzling e Maria Clara Bingemer, reúne textos escritos por renomados nomes de diversas áreas, como psicologia, teologia, filosofia, artes e sociologia. Segundo Eliana, é preciso abordagens de diferentes visões para expor a complexidade do tema e analisá-lo de maneira, no mínimo, razoável.
Oito pensadores, dentre eles, Affonso Romano de Sant’anna, Gilles Lipovetsky, Paul Valadier e Robert Castel apresentam, em seus ensaios, reflexões acerca das contradições da nossa era e das possíveis perspectivas delas decorrentes. De acordo com Eliana, há grande preocupação em transportar esta discussão do campo teórico para um espaço aberto, ao qual o acesso seja facilitado. O seminário já colaborou para retirá-la da sala de aula. Agora, o livro ajuda a expandi-la ainda mais. A professora revela a expectativa da difusão do tema também através da mídia digital:
- Nosso desejo é ampliar a discussão do assunto por meio de blogs e chats.
Somos mesmo independentes, livres, autônomos? Quais as condições para assim nos considerarmos? E, principalmente, quais as consequências? Este é um importante debate em nossos dias, que O futuro da autonomia: uma sociedade de indivíduos? se esforça em mapear.