Um romance que promete ir além do realismo e retratar o universo das famílias herdeiras da indústria da cana-de-açúcar na primeira metade do século XX. Assim é o livro Nosso Grão mais fino, de José Luiz Passos, publicado pela editora Alfaguara. A obra foi lançada nesta terça, 23, no auditório da Cátedra Unesco. O encontro foi organizado pelo Departamento de Serviço Social da PUC-Rio e pelo Centro de Estudos Brasileiros da UCLA (University of Califórnia, Los Angeles).
Nosso Grão mais fino conta a história de dois amantes que relembram histórias e fatos de seu passado. Quando jovens, suas vidas tomaram rumos diferentes e não muito felizes. Na decadência das famílias, eles resolvem acertar as contas com o destino. Neste contexto, são mostrados o mundo dos engenhos e o horizonte da tradição nordestina. Passos caracteriza a obra como síntese do declínio social, moral e afetivo. Ele retrata o ambiente da usina de açúcar da primeira metade do século XX, retomando tradições consagradas da literatura brasileira para criar uma narrativa inovadora.
- Eu falo da nostalgia pela modernidade, ao invés de retratar a nostalgia pela ficção, como era feito até então por escritores como Gilberto Freyre. Ao contrário de mostrar os tachos e mucamas das fazendas, preferi focar no trem, na máquina, no relógio, nesta tecnologia que envelheceu tão rápido - afirma.
O romance divide opiniões devido à sua linguagem incomum. De acordo com o autor, a intenção é ocupar um espaço específico da literatura que dialoga com a tradição erudita.
- Eu acho que o sinal da maturidade da literatura é a diversidade. Sei que acabo perdendo leitores, mas as pessoas têm necessidade de variar. Ninguém come caviar todos os dias -acrescenta.
Residente nos EUA desde 1995, Passos publica sua primeira ficção em português. O sociólogo pernambucano é uma das maiores autoridades em estudos sobre Machado de Assis e Mário de Andrade. Hoje, também é professor e diretor do Centro de Estudos Brasileiros da UCLA. Ele conta que traduziu, por meio dos personagens do livro, a nostalgia de viver fora de seu país.
- O confronto com o papel foi uma forma de enfrentar meus fantasmas e minha solidão - conta.