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Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2024


Cidade

Cidade da Música divide opiniões

Daniele M. Carvalho - Da sala de aula

17/12/2008

O prefeito Cesar Maia inaugura nesta quinta-feira, 18, a Cidade da Música, obra que começou em 2003 estava orçada em R$ 147 milhões. Cinco anos depois, o custo já chega à marca de R$ 500 milhões. Se comparássemos o dinheiro investido neste projeto com o da construção do Engenhão e da extensão do metrô de Copacabana a Ipanema, juntos, o valor seria muito maior. Seria ainda o mesmo valor gasto em cada estádio construído para a Copa do Mundo no Japão e na Coréia, em 2002. Uma CPI foi criada para fiscalizar os gastos, mas nenhuma denúncia foi oferecida ao ministério público até o momento.

De acordo com o professor da UFRJ e especialista em Economia do Entretenimento, Fábio de Sá, o dinheiro gasto terá retorno, já que a cidade da música atrai não somente turistas, mas também a população da cidade. “Este tipo de projeto obtém retorno em longo prazo, ou seja, no futuro as pessoas lembrarão do que o prefeito César Maia fez há anos atrás. Pessoas estas que hoje têm entre 20 e 15 anos”, afirmou Fábio.

Porém, o valor poderia ser aplicado em problemas antigos da cidade, como educação, segurança pública e saúde. Com R$ 500 milhões, a Prefeitura do Rio poderia construir, em média, 80 escolas públicas e 110 unidades de pronto-atendimento, as UPAs. “Não importa, neste momento, reformar ou construir novos CIEPs e postos médicos. Quem está internado hoje em um dos pronto-atendimentos da cidade, irá morrer daqui há um tempo. O filho dessa pessoa é quem vai desfrutar do projeto da Cidade da Música. Infelizmente, este é o tipo de pensamento quando os políticos realizam obras como esta”, concluiu o especialista.

O projeto da Cidade da Música é arrojado. Serão duas salas de concerto, treze salas de aula e outras treze para ensaios. Quatro salas de cinema e até um parque municipal de 70 mil metros quadrados. Tudo isso será distribuído pelos 94 mil metros quadrados que o projeto ocupa. Será a maior sala de concertos, de orquestras sinfônicas e óperas da América Latina. A localização escolhida para alojar o complexo é criticada por Fábio de Sá. “Eu faria no Cais do Porto, pois as pessoas saem do trabalho durante a semana com disposição para aproveitar algum evento. Sendo na Barra, grande parte da população que trabalha no Centro da cidade não vai usufruir da programação de segunda a sexta, a não ser os próprios moradores do bairro”.

Em defesa da Cidade da Música, o Secretário Municipal de Culturas, Ricardo Macieira, afirma que a localização do complexo na Barra da Tijuca é perfeita, já que é uma área de franca expansão e de alto poder aquisitivo. Ele destaca o uso dos meios de transporte de massa para chegar ao centro cultural. “Será criada a linha seis do metrô e disponibilizaremos mais ônibus de ligação com bairros mais distantes. Além disso, logo atrás do complexo existe o terminal Alvorada, o que facilita muito o acesso ao local”.

O secretário ressalta ainda a carência de centros culturais na região. O projeto, além da programação de shows e entretenimento, irá oferecer cursos profissionalizantes em música. Macieira lembra também da função de formação de platéia para grandes balés e óperas, em uma área onde isso não existe. Além disso, a criação da Cidade da Música afirma a posição de centralidade cultural do Rio de Janeiro em relação ao Brasil.

O doutor em Comunicação, autor do livro “Lapa - Cidade da Música”, Michael Herschmann, considera a Cidade da Música uma iniciativa importante. Porém, a opinião da população deveria ser consultada antes da definição de projetos culturais. “Eu não sou contra, acho que o Rio necessita de cultura para educar, assim como todo o país. Mas acho que a forma como são escolhidos os projetos culturais está errada. A população deveria poder intervir, participar e sugerir com a Prefeitura. Seria uma idéia da população para a população, isso é democracia.”, disse o especialista.

Herschmann ressalta que a idéia de se investir no entretenimento local é válida. No entanto, para ele, o Rio ainda está engatinhando no que diz respeito ao investimento nesse setor. É o que acredita também a produtora de cinema e fã do violinista francês Nicolas Krassic, Letícia Pires. Para ela, o investimento cultural é importantíssimo, contanto que não seja exagerado. “Sou fã de música clássica contemporânea e acho a idéia do projeto interessante, mas a obra em si eu acho um absurdo. É muito dinheiro gasto e está demorando muito para acabar”, disse Letícia.

O estudante de Jornalismo, Fábio Teixeira, é fã dos compositores Rachmaninov e Franz Liszt. Mas, por ter apenas 22 anos, também ouve as bandas The Doors e Jethro Tull. Ele acredita que a Cidade Música é uma obra faraônica que abrigará uma mistura de estilos, com uma essência clássica. “Por ser tão grande, acho que uma coisa básica, como um solo de piano, por exemplo, não caberia lá. O público pagaria caro. O Theatro Municipal e o Museu de Belas Artes são boas opções para este tipo de show, mas precisam urgente de reformas”, afirmou Fábio.