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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Mundo

Crise econômica

Artur Romeu - Do Portal

07/11/2008

Os economistas estão inseguros. Especialistas dizem que não há como afirmar com certeza quando será o fim da crise financeira mundial. Em meio à turbulência econômica, as oscilações imprevisíveis do mercado são consideradas de alto risco para investidores. Nos últimos dois meses, os efeitos na economia brasileira se tornaram mais evidentes e desmistificaram a "blindagem" das grandes reservas do país.

Analista econômica e professora de macroeconomia da PUC-Rio, Monica De Bolle fez sua tese de doutorado sobre o tema das grande crises financeiras. Ela se diz pessimista em relação à crise e prevê impactos mais evidentes na economia brasileira a partir do próximo ano.

- Não há como prever o fundo do poço. A crise é séria e ganhou uma magnitude inesperada. Sem dúvida, haverá uma desaceleração mundial em 2009. O crescimento do PIB deve cair dos atuais 6% para cerca de 2%, podendo estagnar.

Segundo a professora, existe uma defasagem entre os problemas no mercado financeiro e o impacto na economia real, ou seja, a inflação, o desemprego, a taxa de câmbio. Ela exemplificou com o caso dos Estados Unidos, que enfrentam problemas sérios no sistema bancário, desde a metade de 2007, e só agora os indicadores apontam para a queda do consumo.

- Hoje, o risco de recessão para os americanos é claro. A queda de consumo na compra de imóveis, automóveis e até de varejo demonstra os impactos da crise na economia real. Acredito que o Brasil está passando atualmente por uma fase de transição. Por enquanto, a crise está refletida aqui nos indicadores financeiros, mas os indícios já começam a apontar a diminuição de investimentos e do consumo.

Os esforços dos estados mundiais para conter o impacto da crise na economia global   acumulam gastos acima de U$ 3 trilhões. No entanto, as somas históricas de dinheiro desembolsado pelos governos parecem ter como único efeito proporcionar picos de euforia nos mercados, sem resolver a situação. De Bolle afirma que as medidas tomadas pelas principais economias do planeta são necessárias.

- Os Bancos Centrais mundiais estão fazendo o que têm de fazer. Essas medidas, como a capitalização dos bancos, injeção de capital no mercado e as reduções coordenadas de juros, levam tempo para surtir efeito real e acalmar, de fato, o mercado.

A professora disse ainda que o BC brasileiro está agindo de forma correta, mas demorou a encarar a gravidade da crise. Os países emergentes que estão sendo mais afetados pela turbulência são aqueles com maior dependência externa, como a Rússia. O Brasil enfrenta atualmente um problema no sistema interbancário.

Para que haja investimento e consumo, os bancos têm de emprestar dinheiro. Com a crise pairando sobre o país, eles resolvem se precaver para não quebrar e fazem reservas de caixa. A dificuldade para se obter crédito aumenta, cai a liquidez do mercado e o sistema interbancário trava. Com isso, outros mecanismos de crédito são afetados, o que resulta na desaceleração da indústria e conseqüentemente da economia.

Com a desvalorização do câmbio, o dólar subiu e as primeiras conseqüências diretas da crise já afetam o bolso dos brasileiros. Estudante de Comunicação Social da PUC, Fernanda Junger planejou uma viagem com a família para a Europa no fim do ano. Eles pagaram o pacote com antecedência, no mês de julho, com o valor em dólar parcelado em oito vezes.

- Quando começamos a pagar o pacote de viagem, o dólar estava perto de R$ 1,85. Agora, estamos pagando parcelas com o dólar acima de R$ 2,10. Tudo ficou mais caro. A gente não tem noção do prejuízo nem sabe o que esperar.

De Bolle listou alguns impactos na economia real em 2009, baseando-se nas tendências do mercado nesse fim de ano.

- O dólar deve continuar subindo, a inflação certamente vai chegar perto dos 6% e as perspectivas para ganhar na bolsa são fracas. As oportunidades de crédito devem diminuir junto do consumo. É inevitável que haja recessão das principais economias em 2009.

A professora alerta que as dicas no sentido de se aproveitar a crise e tentar obter lucros rápidos são de alto risco, pois “o cenário de mercado está nebuloso”. Ela disse ainda que é preciso investir com segurança e buscar fundos de renda fixa. “Eu sempre digo que bolsa é um investimento para quem tem dinheiro de sobra. É sempre uma aposta".