Na manhã deste domingo 15 de março, em que manifestações ocorreram em todo o país, mobilizando cerca de 2 milhões de pessoas. Em Copacabana, no Rio, 20 mil pessoas, principalmente famílias e idosos, se uniram na orla de Copacabana no ato contra a corrupção. Entre todos eles, o sentimento era de indignação: “O que precisamos agora é de uma mobilização política. O povo precisa voltar a acreditar de novo”, opinou a jornalista Mônica Marinho, que, junto a outras pessoas que conheceu no protesto, segurava um cartaz pedindo a saída da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe. O empresário Ney Oliveira era um dos mais engajados do grupo: “Desde as Diretas Já eu não ia a uma manifestação cívica. Desta vez eu me senti na obrigação de vir, porque a situação está tão calamitosa que tive de voltar a colocar amarelo e azul para poder dizer não ao que está acontecendo no país”.
A corrupção envolvendo desvio de verbas da Petrobras e a Operação Lava Jato era o grande tema das conversas:
– A corrupção é o grande mal da nossa sociedade. Precisamos nos moralizar, tirar este pessoal de lá e fazer tudo de novo, porque do jeito que está não pode. Eu não sei se este movimento de hoje vai dar em alguma coisa, mas precisamos agir, parado é que a gente não pode ficar. O povo tem que manifestar sua indignação, sua revolta, tem que ir para rua sim. Estamos pagando pela incompetência de uma pessoa (Dilma) – protestou Mônica.
Ney, por sua vez, disse acreditar na recuperação da credibilidade da Petrobras:
– Vai demorar um pouco, mas a Petrobras é uma empresa que ainda goza de credibilidade. Os empresários do exterior conseguem enxergar que não é por causa do que está acontecendo que a Petrobras vai se enfraquecer como instituição. O tempo vai fazer com que ela recupere sua credibilidade e volte a ser uma empresa sadia, apesar das pessoas que estão no comando. É só dar tempo ao tempo. Sem querer plagiar Chico Buarque, “apesar de você, amanhã há de ser um novo dia”.
Muitos dos presentes comparavam a Marcha do dia 15 ao movimento dos Caras Pintadas, contra o presidente Fernando Collor, em 1992. Os amigos Anderson e Ricardo, estudantes de Psicologia, pintaram seus rostos com as cores do Brasil.
– Assim como os Caras Pintadas, nós também estamos pedindo o impeachment. Quero que também ocorra com a Dilma, e acredito que, se continuar com a força que estamos, ele vai acontecer – disse Anderson, que, como Ricardo, ficou sabendo da manifestação pelas redes sociais, e aguardavam a chegada de outros amigos.
– Sem dúvida, por causa das redes sociais, a mensagem se espalhou com mais rapidez e fez com que mais pessoas viessem. Acredito que, depois de hoje, outros protestos vão acontecer. Será maior que na época de Collor, a indignação é maior – declarou Ricardo.
Entre o fervor da indignação e gritos por um Brasil melhor, seu Mauro, vendedor ambulante, espraiou-se no asfalto da Avenida Atlântica vendendo camisetas da Seleção Brasileira e de times de futebol, exercendo sua cidadania ao mesmo tempo em que garantia a renda:
– Vendi muito hoje, mas vim me manifestar também, né? Moro no Pavão, e estou aqui para exercer o meu direito. O morro todo desceu para se manifestar – afirmou Mauro, que tem quatro filhos e está desempregado há dois anos: – Vivo como posso. Para ser sincero, tenho vergonha de dizer que sou brasileiro. E isso tudo o que está acontecendo me dá vergonha. É tudo ladrão. Se for falar lá fora que é brasileiro, também entramos no mesmo grupo.
Àquela altura, dona Maria da Graça, aposentada, dizia esperar uma mobilização nacional maior que as jornadas de junho de 2013, o que de fato o domingo 15 de março alcançou: “Mas só espero que o povo não se acomode!”.
Veja também a fotogaleria Manifestação em Copacabana.
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