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09/10/2014O desfecho do primeiro turno das eleições, particularmente a disputa pelas segundas vagas no segundo turno à Presidência, pelo tucano Aécio Neves, e ao governo do estado, com o senador Marcelo Crivella (PRB), ultrapassou de longe a margem de erro de Ibope e Datafolha e levantou questionamentos a respeito da confiabilidade dos institutos de pesquisa, uma vez que estes podem ter papel determinante na decisão final do eleitor, e se as metodologias adotadas precisam ser atualizadas para dar conta da complexidade do processo eleitoral brasileiro atual.
A diretora do Ibope, Márcia Cavallari, argumentou que o número de indecisos ficou acima da média nestas eleições e que os eleitores estão decidindo votos cada vez mais tarde, o que teria provocado a discrepância nos resultados das pesquisas. O diretor geral do Datafolha, Mauro Paulino, usou a mesma justificativa: “Há eleitores que não estão completamente convictos dos seus votos na véspera, e acabam mudando inclusive no próprio dia da eleição”.
A socióloga Alessandra Maia, professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, reafirma a relevância destas para a opinião popular, mas ressalta o caráter provisório das pesquisas. Dados estatísticos podem despertar a preocupação e promover a mobilização das pessoas. Para ela, um erro da proporção do ocorrido na última eleição pode gerar tensões. As pesquisas visam apresentar um reflexo de determinada realidade, e não se deve desacreditar totalmente delas.
– Não pode desacreditar completamente a pesquisa, ela tem um método muito apurado para ser feita. A discussão que esta eleição traz é uma abertura de metodologia dessas pesquisas, como elas estão sendo feitas. De que forma esses estudos estão acontecendo? É uma discussão vai ser dolorosa, porque ninguém que perder seu nicho ou ser desacreditado, e muita gente vai perder dinheiro com isso. Mas não há como negar que, após esta eleição, estão sendo questionadas sim as metodologias em vigor: todas erraram, o que leva a crer que o núcleo comum está sendo feito de forma equivocada – afirma Alessandra.
Para Cláudia Pereira, professora de Pesquisa de Mercado do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, fator determinante é a interpretação dos dados pelos jornalistas e os veículos de comunicação. Segundo a analista, o eleitor tende a priorizar os dados divulgados pela mídia e deixar a plataforma política, as propostas e ideologias dos candidatos em segundo plano. Para Claudia, é direito do cidadão ter acesso às pesquisas, sejam eleitorais ou de qualquer outra finalidade. Cabe ao indivíduo ter interesse de se informar sobre como são desenvolvidas, e não superestimar seus resultados, uma vez que são retratos de um momento, que pode se alterar.
– Algumas pessoas não votam por convicções políticas, mas por rejeição a determinado candidato. O voto útil (votar em um candidato para ajudar a eliminar outro), ato nada saudável para o processo democrático, depende das pesquisas; essa migração de um candidato para outro como decisão de última hora só ocorre porque temos as pesquisas. Certamente o eleitor não levou em consideração os debates, por exemplo – afirma Cláudia Pereira.
Desconfiança histórica
Para Cláudia Pereira, o mito criado em torno dos institutos de pesquisa reflete uma desconfiança histórica do brasileiro. A invisibilidade, segundo a professora, deve-se ao método de apuração, pouco conhecido pela população:
– Não precisa de mais que três mil pessoas para se chegar a um resultado confiável no Brasil inteiro. Isso é comprovado estatisticamente.
Para representar o eleitorado, cerca de 142 milhões de eleitores, o Datafolha seleciona uma amostra composta pela mesma proporção de homens e mulheres que a população total de pessoas que votam. O mesmo critério vale para idade, estado e outras características demográficas do Brasil.
Mas essa matemática não elimina as chances de falha. Cláudia chama atenção para o processo posterior à pesquisa de campo. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) admitiu erro nos cálculos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O erro provocou distorções de alguns dados, como a concentração de renda. A professora de Pesquisa de Mercado acredita que um equívoco desses, por descuido e falta de atenção, pode afetar diretamente a credibilidade do instituto e promover mudanças no comportamento de quem consome as pesquisas:
– Essas imprecisões podem resultar em algo positivo. Quem sabe assim o eleitor passe a se pautar mais nas plataformas políticas e seus candidatos do que nas pesquisas.
Alessandra Maia pondera que ninguém vai mudar a metodologia no meio das eleições, mas acredita que os equívocos observados até agora já são suficientes para se investir em novos métodos. Ela atribui a disparidade entre as pesquisas do Ibope e os resultados finais no país à falta de controle do eleitorado. Para a socióloga, o número de eleitores é extenso demais para pouca atualização e afirma que é fundamental para o sucesso das pesquisas saber quem é realmente o público votante no momento para evitar problemas no quadro geral da apuração.
– É preciso pensar como calcular esse universo dos votos válidos justamente para fazer uma pesquisa com maior rigor.
Já o professor de Técnicas de Reportagem na PUC-Rio Carlos Nobre acredita que as pesquisas deveriam ter caráter qualitativo para oferecer o melhor retrato da sociedade. Nobre, que aborda a temática no curso com o livro O fundo falso das Pesquisas, de Cynthia Crossen, aponta a falta de transparência como motivo de desconfiança e alega que é preciso buscar saber a intenção e as perguntas que foram feitas.
– É preciso investigar como as instituições operam. E, para isso, o eleitor deve ter atitude de dúvida constante.
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