Regionalismo, folclore e religiosidade estão presentes em cada um dos cinco contos que compõem Noveleletas, de João Paulo Vereza, publicitário formado pela PUC-Rio. Ganhador do Prêmio Sesc de literatura 2012/2013, que seleciona obras inéditas, o livro, lançado pela Record, agora concorre ao Prêmio Jabuti na categoria de contos e crônicas.
Ambientado em um universo fictício do interior do Brasil, o livro tem forte influência de Guimarães Rosa, mas, como explica João – um carioca que reside em São Paulo –, suas referências não vêm apenas da literatura:
– É um baita caldeirão, porque tudo de que gosto e gostei influencia a minha escrita: cinema, música, pintura, escultura, arquitetura, quadrinhos. Mas, se pudesse resumir em três linhas, eu diria que minha literatura busca a estrutura narrativa do Stephen King, o som de sotaques de Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Machado de Assis, Marcelino Freire e Eça de Queiroz, e pretensões esquizofrênicas e megalomaníacas do J.R.R. Tolkien.
Aproximações da literatura com a publicidade
Atuando há 14 anos como redator de publicidade, hoje na Moma Propaganda, João ressalta que a formação na área pode fornecer as ferramentas certas para ajudar na comunicação com um público amplo, inclusive no campo literário:
– Minha formação acadêmica me deu as teorias para limpar o texto e deixá-lo compreensível, não somente um monte de palavras juntas. Isso me deixa feliz. Publicidade não é arte, pois todos têm que entender a mensagem da mesma forma. Se uma campanha deixa espaço para subjetividades, ela é confusa e não cumpre seus objetivos. Literatura pode e deve ter poesia.
Para Vereza, a publicidade está diretamente ligada à escrita. Ele lembra que para escrever peças publicitárias é preciso ser rápido, e que a prática auxilia a lapidar e enxugar o texto. E compara as escritas:
– Na publicidade, a concisão, o som e o poder imagético das palavras são recursos diários. Na literatura é interessante porque acaba se tornando estilo. Os textos que escrevo nas agências não são meus, são da marca. É um paradoxo danado com essa história de que publicitário, e também os escritores, são uns ególatras. Quando escrevo literatura, procuro também trazer o mesmo sentimento: não é meu. É do personagem, é da história, é da linguagem, é de algo maior que eu.
Se há desapego quanto ao texto, o formato é todo particular; noveleleta, gênero que inventou:
– Foi justamente pela angústia de não conseguir classificar ou identificar o que estava fazendo que surgiu essa nova categoria. São contos grandes demais para serem contos, e histórias pequenas demais para serem consideradas romances ou novelas. Na ansiedade por finalmente ter um livro pronto e formatado, apostei na confusão como uma certeza e no novo como algo sólido. Nasceu assim. É uma pilantrice – explica.
O crítico literário José Castello, que integrou o júri do Prêmio Sesc de literatura, que assina a orelha do livro, elogia: “Na época das fórmulas e da repetição, Vereza apostou na coragem, na ousadia”.
O redator-escritor, que participou da última edição da Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), pretende lançar uma nova noveleleta até o ano que vem, e também trabalha firme e forte num romance – “Estou fechando o segundo capítulo, e espero ter pernas e palavras para conseguir completar esse Everest”. Ele espera que o reconhecimento de Noveleletas facilite a publicação de futuros trabalhos: “O livro mais importante é sempre o próximo”.