Estudo, ainda inédito, revela a cartografia do estupro na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que se intensifica à medida que caem escolaridade, emprego e renda da população. O levantamento, coordenado pelo cientista político Cesar Romero Jacob, se baseia nos registros do Instituto de Segurança Pública do estado.
O Atlas das condições de vida na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (e-book a ser lançado em agosto, pela Editora PUC) relaciona, em 110 mapas, dados do Censo Demográfico com outros índices oficiais. No mapa Crimes Violentos: Estupros, que integra o capítulo sobre Criminalidade, Romero Jacob mapeou os registros das 71 delegacias da Região Metropolitana do Rio em 2012 e observou que a incidência de casos de estupro vai aumentando à medida que se afasta do litoral em direção ao interior do estado.
No ano em questão foram notificados 4.491 estupros na Região Metropolitana do Rio, 12 a cada dia, em média. As maiores taxas são registradas em Nova Iguaçu (58ª DP), com 97 casos por 100 mil habitantes; e Itaboraí (71ª PD), com 63 ocorrências por 100 mil (nos mapas, os círculos indicam o número absoluto de registros nas 71 delegacias, enquanto as cores correspondem ao percentual: quanto mais forte, maior a incidência).
No município do Rio, este crime é mais recorrente em Santa Cruz (36ª DP) e nas delegacias do Centro, área degradada, com grande circulação, mas poucos moradores. Nas zonas Sul e Norte, os registros se situam bem abaixo da média da Região Metropolitana, com até 51 casos por 100 mil habitantes.
– Há uma relação inversamente proporcional entre os mapas de estupro, nível escolar e nível de renda. A cidade é construída por muros imaginários. Assim, os casos de estupro concentram-se nas áreas periféricas e estão diretamente relacionados a fatores de escolaridade, emprego, renda, cor e saúde. Estão concentrados onde predomina o caos social – afirma Romero Jacob, que desenvolve o trabalho com os pesquisadores Dora Rodrigues Hees e Phillippe Waniez.
O mesmo não ocorre em relação aos 6.200 homicídios e tentativas de homicídios, que têm registros proporcionalmente equivalentes no município e na Região Metropolitana. O pesquisador considera que, além da questão de renda e escolaridade, haja influências sociais na incidência de estupros:
– Os casos de estupro se mostram menos acentuados nas áreas mais urbanizadas da capital. A Zona Sul, além de concentrar a população de maior renda e escolaridade, é mais liberal do ponto de vista moral, o que se reflete na menor incidência de violência sexual.
Romero Jacob identificou ainda que os casos de estupro aumentam em regiões com maior concentração de homens, caso de Itaboraí, onde está sendo implantado o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), como indica a distribuição do mapa Taxa de Masculinidade (número de homens a cada grupo de 100 mulheres).
Aumento de denúncias
Em todo o país, o número de denúncias de estupro aumentou de 43.869, em 2011, para 51.101, em 2012, de acordo com a 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o dado mais recente. Para pesquisadores, isto se deve ao fato de que as mulheres têm tido mais coragem de denunciar, o que pode ser atribuído ao maior acesso à informação, a criação de delegacias e canais especializados e outras políticas de proteção (leia Feminicídio: crime contra a mulher está prestes a se tornar agravante). Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), foram notificados 5.926 estupros no Estado do Rio em 2013. Este ano, até o mês de março, foram 1.581 denúncias. A delegada Célia Rosa, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro, comenta que houve crescimento das denúncias ao longo destes cinco anos de atividade da delegacia especializada, especialmente em comunidades pacificadas:
– O aumento das denúncias por meninas que são moradoras de comunidades é considerável depois da implantação das UPPs. É um fato interessante.
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