Gabriel Camargo - aplicativo - Do Portal
28/02/2014Carnaval no Rio de Janeiro, milhares de turistas, hotéis cheios. Certo? Não. Pelo menos de acordo com a previsão da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), que aponta uma taxa de ocupação próxima aos 67%, número bem abaixo da prévia feita no mesmo período de 2013, pouco antes de os blocos irem às ruas, e que chegava aos 80% de ocupação. No ano passado, a ocupação nos hotéis do Rio (74,1%) em fevereiro foi a menor desde 2010. Este ano, a tendência é que o número seja ainda menor, com a Copa do Mundo se aproximando, os preços de serviços nas alturas e a cidade coalhada de canteiros de obras.
Para o presidente da ABIH-RJ, Alfredo Lopes, a queda na taxa de ocupação dos hotéis no Rio é resultado da maior oferta de quartos:
– Essa queda é natural, em função do incremento da oferta de leitos, que dilui a demanda. Até a Copa do Mundo teremos quase 4.500 novos quartos operando na cidade. Por isso precisamos trabalhar por um calendário de eventos robusto e pela divulgação do destino no Brasil e no exterior, para termos um crescimento sustentável da indústria hoteleira.
Em dezembro passado já houve uma queda na quantidade de quartos ocupados em relação ao ano anterior. Em 2013, a taxa de ocupação chegou aos 63,5%, enquanto em 2012 a marca foi de 71,1%. No mesmo período nos dois anos, as viagens por lazer foram maioria: 39,7% em 2012 e 42,7% no ano seguinte. Tanto em 2012 como em 2013, a maior parte dos turistas instalados nos hotéis do Rio veio de outras cidades brasileiras, principalmente de São Paulo (SP), até por isso Lopes acredita em uma melhora dos números em breve.
– Este número certamente sofrerá incremento, já que o carnaval tem maior incidência de público nacional (representando 70% dos turistas), e os brasileiros costumam realizar as reservas mais em cima da hora.
Mas nem os anúncios de última hora oferecidos por sites de viagem, com descontos de até 70% a poucos dias do carnaval (foto ao lado), parecem estar convencendo os visitantes. Para o presidente da Associação Brasileiras de Turismólogos e Profissionais do Turismo (ABBTUR), Elzário Pereira, os preços altos são um fator diretamente responsável por esse afastamento.
– Muita gente vai deixar para vir ao Brasil só depois da Copa do Mundo. Recebi uma técnica de uma operadora de turismo francesa e ela me deu um dado impressionante: das 91 solicitações para o Brasil, eles fecham apenas oito. A maior parte das justificativas é o preço alto e as altas tarifas. Precisa haver um equilíbrio de demanda e tarifa.
De fato, pesquisa do site de turismo TripAdvisor divulgada no fim do ano passado aponta o Rio de Janeiro como a segunda cidade mais cara da América Latina, ficando atrás apenas de Caracas. Outro levantamento, este da ECA Internacional, realizado em junho de 2013, coloca a Cidade Maravilhosa em quarto lugar – mas desta vez considerando todas as Américas – de novo atrás da capital venezuelana, com Manhattan (EUA) em segundo e Vancouver (Canadá) em terceiro.
Outro problema que afasta os turistas da cidade são as obras na cidade.
– As pessoas estão sabendo que o Brasil e o Rio de Janeiro estão se preparando para receber grandes eventos nos próximos anos. Isso acaba afastando alguns turistas. Aconteceu também com outras cidades que receberam esse tipo de evento, como Barcelona, que, como eu mesmo testemunhei, estava um até um pouco pior do que o Rio. Antes das Olimpíadas de 1992, era impossível chegar aos pontos turísticos. A reforma urbana pela qual eles passaram, principalmente na zona portuária, muito semelhante à do Rio, era caótica: não se via o mar. A realidade é muito semelhante – compara Pereira.
Ministério do Turismo diz que não haverá queda
O diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco Lopes, não acredita nas previsões de queda no número de turistas este ano:
– Não há essa queda que falam. Uma parcela de turistas vem mesmo no período da Copa do Mundo, porque os atrativos turísticos continuarão existindo. As coisas vão ficar dentro de um quadro razoável. Nas cidades onde o carnaval é importante, a ocupação hoteleira é bastante acentuada, só que não há problemas, como Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Olinda. É uma ocupação grande, mas está dentro do contexto.
Para Francisco Lopes, o principal legado da Copa do Mundo – e posteriormente as Olimpíadas – para o turismo brasileiro é a imagem que as cidades passarão ao restante do mundo:
– No meu ponto de vista, o mais importante da Copa é a exposição na mídia mundial durante os 30 dias, além do pré e pós. Todo mundo olhando para cá, na medida em que conseguirmos mostrar que estamos prontos, estaremos nos capacitando a ter um aumento significativo da vinda de estrangeiros. É o principal legado da Copa. Essa exposição pode dar resultados positivos ao longo do tempo. Melhora depois da Copa, e o Rio melhora depois das Olimpíadas.
O presidente da ABBTUR-RJ concorda que o segundo semestre será mais atraente para o turista:
– No período pós-Copa do Mundo, a cidade estará mais barata e mais organizada. Temos boas perspectivas de o segundo semestre ser um excelente período para o turismo no Rio.
Violência: repercussão negativa, mas sem efeito
Para Elzário Pereira, a repercussão dos recentes casos de reações violentas da população a assaltos e a morte do cinegrafista Santiago Andrade durante uma manifestação no Centro do Rio não são motivos para afastar turistas:
– Violência há em qualquer cidade com mais de dez milhões de habitantes. Violência por violência, até no centro de Londres ou de Paris tem. Não acredito que isso tenha relação com esse afastamento do turista.
Alfredo completa:
– A repercussão da violência é, sem dúvida, negativa para a imagem da cidade, mas não temos registros significativos de cancelamentos ou queda na ocupação vinculada a estes episódios pontuais.