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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cidade

Trabalhadores expostos ao sol sofrem com calor

Clara Freitas - aplicativo - Do Portal

14/01/2014

Viviane Vieira

Neste verão, o calor tem quebrado recordes no Brasil, com sensação térmica de até 50 graus no Rio de Janeiro. A equipe do Portal foi às ruas para saber como pessoas que trabalham expostas a altas temperaturas – como garis, operários, vendedores, guardas – convivem com tal fenômeno, com horários a cumprir sob o sol.

Gari há 20 anos, Beto, de 35 anos, que não quis dizer o sobrenome, estava na esquina da Rua Rainha Guilhermina, no Leblon, varrendo a calçada tão concentrado que demorou a se dar conta da equipe de reportagem, que o chamava. Resignado, Beto afirma que, independentemente do calor, é preciso encarar o trabalho:

– Eu ignoro o calor. A gente trabalha no frio, na chuva, na quentura, então tem que ignorar. Não adianta reclamar que está calor. Hoje está assim, amanhã e depois também. Reclamar não vai adiantar nada, é melhor encarar a realidade. Tem que varrer. Varre e vai embora, acabou.

Apesar de encarar sem reclamar a carga de 44 horas semanais, Beto gostaria que os uniformes pudessem ser adaptados, como os da Guarda Municipal.  

– É muito quente e pesado. O prefeito poderia dar outras opções. Ele bota camiseta e bermuda para os guardas municipais na praia, mas não para a gente. Ele vê um lado, mas se esquece do outro.

Beto não é o único a reclamar da roupa. Operário de obras da Rio-Águas há três anos, Israel Bernardo, de 27 anos, estava no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon, e também se sentia incomodado.

 Viviane Vieira – Apesar de o calor ser suportável, o uniforme é muito pesado, o pano é grosso. No fim do dia, mesmo se não nos esforçarmos tanto, ficamos muito cansados. Com este sol, se o cansaço físico era de 50%, ele passa a ser 100%, porque o uniforme ajuda bastante nisso – afirma Israel, acrescentando que sofre de pressão baixa: – Já passei mal várias vezes. Uma vez tive tonteira e quase caí no canal.

Motorista de ônibus há 32 anos, Levaldino Gomes, 51 anos, durante um breve intervalo no ponto final do 157 (Estrada de Ferro-Gávea), na PUC-Rio, também deixou clara sua insatisfação com os uniformes e o calor.

 Viviane Vieira – Não fico exposto ao sol diretamente, mas o calor dentro do ônibus é muito pior. A gente trabalha perto do motor e esquenta muito. Os uniformes não ajudam, são muito quentes. Calça, blusa e um sapato fechado. Seria muito melhor uma camisa ou bermuda.

Segundo a coordenadoria de divulgação externa da Comlurb, o uniforme é considerado um equipamento de proteção individual. O lixo é o mesmo em qualquer época do ano – há lixo mal ensacado, com pontas de vidro, por exemplo, o ano inteiro. Há uma exceção apenas para o gari de praia, que trabalha de bermuda e camiseta de malha. Este trabalho é diferente, porque o gari passa o ancinho nas areias e vê o que ele esta recolhendo. Além disso, eles ressaltam que todos os garis da Comlurb usam chapéu e recebem protetor solar.

Ainda no Leblon, no princípio da Rua Ataulfo de Paiva, fechada para as obras do metrô, o operário do consórcio Rio-Barra, Danilo da Silva, 37 anos, conta como fica mais fácil enfrentar o calor.

– Apesar de ser incômodo, a gente tem que encarar, usa protetor solar, óculos escuros, capacete e uma touca, que protege mais. E também tem água à vontade.

Danilo acredita que, mesmo sendo pesado, o uniforme é a melhor opção para proteção:

– É muito quente, mas ele protege. O uniforme tem manga comprida, então acaba protegendo mais a pele.

O calor não é o único problema. A incidência dos raios ultravioletas, perigosa para saúde, está muito alta. Dermatologistas alertam que os raios podem prejudicar a saúde, causando desde desidratação até câncer de pele.

Vendedor de fruta na Gávea, Lincoln Castro, de 40 anos, conta que passou a usar filtro solar.

 Viviane Vieira – Comecei a passar filtro solar todo dia. No início achei que não fosse importante, mas começaram a surgir manchas no meu rosto. Fui ao médico e graças a Deus não era nada. A gente não se dá conta antes, mas tem que tomar cuidado.

De acordo com meteorologistas, nestes próximos dias, a temperatura vai variar de 31 graus a 38 graus. Apesar do intenso calor na semana passada, o sol tende a dar uma trégua durante esta semana, com  previsão de chuva e mínima de 22 graus.

Na América do Norte, o extremo oposto

Enquanto isso, a costa leste dos Estados Unidos registrou na última terça-feira, 7,  o dia mais gelado em quatro décadas. As temperaturas caíram significativamente e, com a intensidade do vento, a sensação térmica chegou a 50 graus negativos em alguns pontos.

O frio era tão intenso que parte das Cataratas do Niágara, na fronteira dos EUA com o Canadá, congelou. A temperatura chegou aos 29 graus negativos e a sensação térmica era inferior a 50 graus negativos, o que não se via desde 1942.

Assim como o calor, o frio intenso pode causar lesões na pele em apenas alguns minutos de exposição. Quando a temperatura chega a 25 graus negativos, a pele pode congelar e ocorre hipotermia. Crianças e idosos são os que mais sofrem com a variação da temperatura.

Devido a graves incidentes que podem ocorrer como consequência da baixa temperatura, a recomendação é que as pessoas não saiam de suas casas. Milhares de voos foram cancelados e escolas foram fechadas.