Antes mesmo de ouvir a primeira pergunta da entrevista pedida pela reportagem do Portal, após sua palestra no congresso Global Investigative Journalism Network, realizado na PUC-Rio, o jornalista canadense Declan Hill interrompeu:
– Ainda consigo ingressos para o grande jogo de hoje no Maracanã? – perguntou, referindo-se ao clássico entre Botafogo e Flamengo, pela 28ª rodada do Brasileirão, que aconteceria dali a três horas.
Autor do livro The Fix – Futebol e crime organizado, Declan tem grande interesse pelo futebol carioca. Demonstrou já ter conhecimento sobre os times, principalmente o Flamengo. Para convencer seu companheiro de palestra Andrew Lehren, repórter do New York Times, a ir ao jogo, explicou que Flamengo e Botafogo, que se enfrentam nesta quarta-feira (23) pelas quartas-de-final da Copa do Brasil, eram “rivais mortais como Real Madrid e Barcelona, com a diferença de que o Flamengo não tinha ligações com a realeza e as classes mais altas como a equipe da capital espanhola”.
A reportagem do Portal acompanhou Hill e Lehren na ida em sua primeira experiência no Maracanã, guiando pela cidade os três jornalistas estrangeiros – o canadense Cecil Rosner, da Rádio CBC do Canadá, se juntou aos colegas.
Para uma partida às 18h30 de um domingo de sol, o torcedor carioca sairia de casa com aproximadamente duas horas de antecedência, não importa o meio de locomoção. Os palestrantes da Conferência de Jornalismo Investigativo deixaram a PUC apenas meia hora antes do jogo, de táxi, esperando sacar dinheiro no caminho para comprar as entradas. Era previsível que o grupo chegasse com atraso ao Maraca. Devido ao trânsito acumulado de um feriadão de Nossa Senhora Aparecida emendado com o Dia do Mestre, no horário em que a bola começava a rolar o táxi estava preso no engarrafamento do viaduto do Corte de Cantagalo, na Lagoa. Àquela altura, a preocupação era chegar a tempo de ainda comprar ingressos – a bilheteria fecharia logo ao fim do primeiro tempo, às 19h15.
Após o Túnel Rebouças, quando o trânsito melhorou, os jornalistas já não continham a ansiedade para entrar no Maracanã, principalmente depois de terem ouvido Hill contar sobre a derrota do Brasil em 1950 e as reformas para a Copa do Mundo.
Não chegaram a tempo de ver Hernane abrir o placar, mas, assim que entraram no setor inferior da torcida do Botafogo – a preferência era pelo Flamengo, mas os ingressos estavam esgotados –, a recompensa não tardou: a equipe alvinegra empatava a partida no fim do primeiro tempo.
As câmeras saltaram de bolsos e mochilas para filmar a comemoração da torcida. As expressões nos rostos se assemelhavam às de quem observa a queima de fogos de réveillon em Copacabana, ou a um desfile de carnaval na Sapucaí:
– Isto é maravilhoso! – encantou-se Lehren.
Com poucos minutos de segundo tempo, Hill já havia se tornado praticamente um torcedor do Botafogo: indicava as jogadas, pedia cartão amarelo para faltas do Flamengo e gritava “uh” quando a bola passava perto. Quando o Botafogo virou o jogo com gol de Rafael Marques, a comemoração de todos foi efusiva.
Ao fim do jogo os jornalistas já estavam se sentindo em casa, e a emoção persistiu até o último minuto, pois o jogo foi tenso e mais chances de gols foram criadas.
Na volta para casa, pegaram o metrô para economizar na viagem até São Conrado. Não conseguiam expressar em palavras as emoções que sentiram. Apenas o desejo de voltar: “Não vejo a hora!”.
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