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Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2024


Mundo

Impasse fiscal nos EUA liga alerta na economia global

Brenda Baez - aplicativo - Do Portal

09/10/2013

 Arquivo

Frustrada a expectativa de acordo entre o presidente Barack Obama e os republicanos, o impasse fiscal dos Estados Unidos volta a preocupar analistas econômicos. Temem que as incertezas se desdobrem na programada redução de estímulos à economia americana, como ensaia o Fed (banco central), cujas consequências tendem a ser mais acentuadas para os emergentes. Embora decorra do jogo polítco, a sombra do abismo fiscal americano mexe, como dizem os economistas, com o humor do mercado e prolonga a pequena temporada de prognósticos sobre os próximos capítulos e o alcance desse xadrez enraizado na polarização do Congresso. De um lado, os republicanos pretendem vincular o aumento do teto da dívida americana a grandes cortes no orçamento. Do outro, os democratas desejam cortes menores, com a justificativa de assegurar a manutenção dos benefícios sociais aos mais pobres. Assim o impasse completa 11 dias, mantém a paralisação parcial de sua administração federal, deixa 1 milhão de servidores públicos licenciados (sem remuneração) e gera um custo diário de aproximadamente US$ 300 milhões para o país.

Com a permissão para os gastos considerados não essenciais expirada em 30 de setembro, Obama tem até 17 de outubro costurar com os republicanos um acordo que eleve o teto da dívida, de maneira a honrar os compromissos com os credores. Senão, o calote, estimado em US$ 78 bilhões até novembro, tornaria-se iminente — e implicaria efeitos drásticos nas economias americana e global, como ressaltaram o presidente do Banco Central europeu, Mario Draghi, e a diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, nesta quinta-feira. Para o economista especializado em política internacional Carlos Luis Cunha, a paralisação dos serviços é igualmente grave, e emblemática:

— As conseqüências podem e vão ser de caráter econômico, mas o impasse é sinônimo de irracionalidade política. Pois, em princípio, o governo americano tem recursos para pagar pelos serviços, mas não a autorização do Congresso, o que, na minha opnião, é mais sério ainda — acrescenta.

O apagão americano, o primeiro do gênero desde 1996, e a nuvem de incertezas econômicas produzem oscilações no mercado financeiro. As Bolsas asiáticas, por exemplo, fecharam em baixa nesta sexta. O índice japonês Nikkei recuou 1,22%, aculando perda de 5% desde a semana passada. 

Enquanto o mundo aguarda com ansiedade o desfecho do impasse, Obama e os democratas negociam com os republicanos aspectos da reforma do sistema de saúde do país. Apelidada de Obamacare, a Lei de Proteção ao Paciente e Serviços de Saúde Acessíveis foi aprovada pelo Congresso em 2010, quando o presidente tinha ainda maioria na Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira) e no Senado. No ano passado, a reforma foi aprovada também pela Suprema Corte de Justiça. A iniciativa jamais deixou de ser, no entanto, fortemente costestada pelo Partido Republicano, especialmente a ala mais conservadora, alinhada ao movimento Tea Party. Agora, maioria na Câmara, os republicanos condicionam a aprovação dos gastos a duas medidas: o adiamento da tal lei e a exitinção do imposto destinado a financiar a cobertura dos americanos sem plano de saúde.

A negociação, observa boa parte dos analistas, faz parte do jogo político. Republicanos consideram "uma invasão na vida americana" a obrigação de que todos devem ter um seguro de saúde. "Desde 2010, o governo Obama e a maioria republicana na Câmara têm travado duras batalhas sobre questões fiscais e as funções do Estado", lembra o jornalista Arthur Ituassu, doutor em Relações Internacionais pelo IRI, da PUC-Rio (leia o artigo completo no blogo do professor). Os opositores do governo já derrubaram o Obamacare mais de 40 vezes, mas as decisões foram barradas pelo Senado, de maioria democrata.

O presidente da Câmara, John Boehner, líder republicano nas negociações, sugeriu que o governo ampliasse a autoridade do Departamento do Tesouro para financiar os compromissos do Executivo, de maneira a honrá-los até 22 de novembro. Em contrapartida, deseja de Obama um programa para redução do déficit fiscal a longo prazo e uma reforma tributária. Em meio à queda-de-braço, o secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, disse, em audiência no Senado, nesta quinta, que considera "perigoso elevar o teto da dívida na última hora". Enquanto o presidente americano e os republicanos tentam um consenso sobre o aumento do limite de endividamento do Executivo e sobre a reabertura dos órgãos públicos federais, Cunha pondera: em que pesem as consequências econômicas, o impasse fiscal pode deflagrar uma fatura política nada desprezível:  

– O custo político que isso terá sobre os republicanos talvez os faça ceder. Eles serão responsabilizados por atrapalhar a recuperação econômica americana, o que pode contribuir para uma solução mais rápida – projeta.

Já o professor de economia da UFRJ André Alves ressalta que a paralisação dos serviços causa um grave impacto sobre o crescimento econômico do país:

— A paralisação que licencia os trabalhadores faz com que diversos setores do governo não consigam receber nem produzir, o que pode resultar em demissões. Mesmo que o limite do teto da dívida seja o mais preocupante para o mercado, a paralisação corrói pouco a pouco a economia — avalia o professor.

O desgaste da paralisação na economia americana pode, por exemplo, dificultar a capacidade do país em vender títulos para se financiar, o que, segundo economistas, induziria ao aumento dos juros. O cenário provocaria uma migração de dólares para o mercado americano, sobretudo de países emergentes.