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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Mundo

Por trás do impasse que paralisou o governo americano

Arthur Ituassu* - aplicativo

11/10/2013

Segundo Michele Swers, professora da Universidade Georgetown, em Washington, em análise publicada pelo blog USAPP-American Politics and Policy, da London School of Economics and Political Science(LSE/UK), a chave para se entender o impasse atual no Congresso Americano, relativo ao orçamento do governo Obama, é o fato de que uma boa parte dos representantes em cena vem decondados onde seus partidos têm posição relativamente confortável. Ou seja, esses representantes são hoje mais temerosos das primárias contra um adversário interno ideologicamente mais radical do que das eleições de 2014 – o mandato de representante nos Estados Unidos obedece ao sistema distrital e é de apenas dois anos. 

Nesse contexto, com receio de prover munição aos competidores internos, representantes eleitos se tornam mais fechados em suas posições, deixando pouco espaço de manobra para negociações na Câmara. O resultado é uma construção de consenso dificultada entre os dois partidos.

De fato, após a tomada da Câmara pelos republicanos em 2010, quando os democratas amargaram uma perda recorde de 63 cadeiras, a variação em 2012 foi muito pequena, de mais oito cadeiras para os democratas e menos sete assentos para os republicanos (um ficou indeciso). Desde 2010, o governo Obama e a maioria republicana na Câmara têm travado duras batalhas sobre questões fiscais e as funções do Estado.

Antes disso, por exemplo, com o controle da Câmara pelos democratas, o governo Obama pôde aprovar legislações como o Affordable Care Act, também conhecido como Obamacare. O ato foi transformado em lei em 23 de março de 2010 e estabelece um amplo leque de opções ao governo federal, incluindo subsídios e incentivos, no intuito de tornar a cobertura dos planos de saúde mais amplas e, principalmente, mais acessíveis à população americana.

Desde 2010, no entanto, as coisas ficaram mais difíceis para a Casa Branca, até porque boa parte dos analistas credita a esmagadora vitória republicana na Câmara, naquele ano, a uma reação conservadora ao Obamacare em meio à onda Tea Party. Daquele momento em diante, além dos impasses sobre o orçamento, iniciativas mais amplas do governo Obama, como a reforma da imigração, foram bloqueadas.

Ao mesmo tempo, um estudo de Keith Poole, da Universidade da Califórnia em San Diego, e Howard Rosenthal, da Universidade de Nova York, sobre o comportamento dos representantes em votações sugere que, nos últimos 30 anos, democratas vêm se tornando progressivamente mais liberais, e republicanos, mais conservadores. No caso do GOP, a radicalização cresce especialmente depois do governo Reagan e da chamada "revolução de 1994", que colocou o Partido Republicano no controle do Congresso Americano (Câmara e Senado) pela primeira vez em 40 anos. Na época, Bill Clinton vinha com uma agenda que incluía medidas liberais também para a saúde e a integração de homossexuais nas Forças Armadas.

Sobre o impasse atual, Michele Swers lembra ainda que a polarização se alimenta da distância ideológica que há entre o Senado, controlado pelos democratas, e a Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, e da própria pauta política conduzida pela Casa Branca, que coloca pressão sobre os dois partidos. Para o GOP, coisas como o Obamacare são agora uma questão de vida ou morte. O avanço liberal sobre as instituições, como no caso da saúde, por exemplo, unifica o partido a partir de um elemento ideológico comum, a intervenção do Estado na vida privada do cidadão ou a socialização através do Estado dos ganhos particulares do indivíduo.

Do outro lado, os prognósticos não são bons para os democratas. Afinal, as eleições de meio de segundo mandato costumam ser as piores para o presidente que fica oito anos na Casa Branca.

*Coordenador do curso de Jornalismo da PUC-Rio, doutor em Relações Internacionais pelo IRI.