Quando foram divulgados os artistas que se apresentariam no Rock in Rio 2011, houve alguma decepção; muitos acharam que o reencontro do festival com o Rio não teria muitos representantes do rock. Para a edição de 2013, conforme os headliners foram sendo anunciados, desânimo semelhante foi expresso por parte do público. É certo que os 85 mil ingressos para cada dia se esgotaram com meses de antecedência e os aeroportos previram aumento de movimentação de 11% em relação ao festival anterior, mas nem assim era unânime que o evento seria histórico. Porém, como no retorno do Rock in Rio à cidade, este festival foi sucesso e quem deixou de ir se arrependeu.
O estudante de publicidade Fábio Ferro se ressente por não ter comprado ingresso para pelo menos um dos dias do festival, o que teve Bruce Springsteen como principal atração. Mas não foi o roqueiro sexagenário que fez o jovem se arrepender, e sim John Mayer.
– Gosto muito de Mayer, mas não tinha grandes expectativas para o show. Vendo pela TV é que bateu um profundo arrependimento de não ter ido – lamenta Fábio.
Um dos motivos que também fizeram o estudante deixar de comprar o ingresso antecipado foram os shows que o Red Hot Chili Peppers fará no Brasil. Fã de longa data da banda, em novembro Fábio vai não só ao show do Rio, como também ao de São Paulo. Somando os dois ingressos, sem os custos de viagem e hospedagem, desembolsou R$ 240, valor de um único ingresso (inteiro) para o Rock in Rio. Mesmo assim, ficou na dúvida de ir ao festival:
– Quase comprei mesmo tendo todos os gastos com os shows do Red Hot Chili Peppers. Se não houvesse esse show ou fosse apenas uma apresentação, com certeza teria comprado.
Além do preço, outras justificativas recorrentes entre as pessoas que não foram ao Rock in Rio foram a localização e a dificuldade de acesso. O jornalista Arthur Dapieve, professor de jornalismo, afirma que a localização e a logística são estratégias mercadológicas que selecionam o público alvo do festival, mas o preço é considerado bastante acessível.
– Uma das características do Rock in Rio é sempre ter preços acessíveis. Se fosse um evento com dimensões menores e para menos gente, o ingresso teria que ser mais caro, mas não é o caso. Fazem um preço muito correto, principalmente em termos de Brasil. Em show de bandas que se apresentam sozinhas, o preço é muito mais alto – compara, lembrando que chegam a R$ 200 os ingressos para o show da banda O Rappa, no Citibank Hall, no mês que vem.
Para Dapieve, a escalação das bandas não deixou nada a desejar em comparação com 2011, quando as principais atrações foram Red Hot Chili Peppers, Coldplay, Stevie Wonder e Guns N’ Roses, entre outros. Ele criticou apenas a organização do Palco Sunset, que causa conflitos entre shows do Palco Mundo e, às vezes, falha na proposta de juntar dois músicos:
– Às vezes se estraga um bom show criando um encontro artificial, como na participação de Agélique Kidjo no show do Living Colour. Embora eles já tenham feito outras parcerias, no show juntos a coisa desandou.
Já o também jornalista e crítico de música do jornal O Globo Silvio Essinger criticou a escalação das atrações. Na sua opinião, os artistas têm se repetido:
– No geral, tinha muita coisa que já passou por aqui. Iron Maiden, por exemplo, vem toda hora, e mesmo o Slayer, que queria muito ter visto, já tinha feito vários shows no Brasil. Em contraponto, ter trazido o Bruce Springsteen foi uma grande jogada. Eu queria que o Rock in Rio trouxesse mais shows inéditos para o Brasil.
O professor de comunicação audiovisual Rafael Rusak, roqueiro e um dos coordenadores do curso Beatles: História, Arte e Legado da universidade, deixou de ir a esta edição do Rock in Rio justamente por não ter nada de novo para ver. Rusak conta ter tido diversas oportunidades de assistir a muitas das bandas que se apresentaram este ano, como The Offspring.
– Offspring é uma banda em que eu me amarro, mas já assisti a um show deles nos anos 90, no Metropolitan, com os caras no auge, tocando só clássicos. Não preciso ver os caras em 2013. Também já vi Barão Vermelho ao vivo, então por que vou assistir a um cover do Cazuza no Rock in Rio?
Rusak assistiu aos shows em casa, já que todos tiveram transmissão pela TV e internet, pelo Multishow. Ele diz que até prefere, tendo ido a vários dias das edições de 1991 e 2001, além de outros festivais como Hollywood Rock. Mas quem não teve as mesmas oportunidades que ele e perdeu o Rock in Rio com certeza está esperando ansiosamente por 2015, quando o festival volta a movimentar a cidade. No ano que vem, Lisboa terá a sexta edição, ultrapassando a cidade natal, e Buenos Aires, a primeira.