Luis Edmundo Sauma - aplicativo - Do Portal
20/09/2013Saúde e economia podem não ter, em princípio, muitas coisas em comum, mas o homeopata Jorge Biolchini, professor da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, compara a boa disposição física e mental a um investimento: "A saúde deve ser tratada como uma aplicação, que pode aumentar ou diminuir. Você investe no presente para colher os frutos no futuro", ressaltou ele, na abertura do encontro Juventude: dons e talentos - Inteligência, fé e esperança a serviço da transformação do mundo, terça-feira passada.
O aumento desse patrimônio exige, ainda segundo o especialista, um melhor equilíbrio na vida contemporânea, "muito centrada na obtenção de riquezas". Ele aponta o excesso de competitividade e a dependência digital como vilões ao investimento no bem-estar:
– A obsessão pelo trabalho acaba ofuscando o tratamento dedicado à saúde. Há até comerciais de TV mostrando essa reflexão, aconselhando um aproveitamento melhor da vida. Chega a ser irônico, porque, geralmente, são de instituições bancárias. A população mundial cresce a cada dia, enquanto a oferta de trabalho diminui em certas áreas, sem falar na crise mundial de 2008. Isso acarreta um aumento na competitividade, as pessoas querem enriquecer cada vez mais rápido. A população acaba esquecendo a saúde – alertou Biolchini aos cerca de 40 estudantes reunidos no ginásio da universidade, para assistir à primeira palestra da Semana da Cultura Religiosa (CRE).
A religião, acrescentou o homeopata, é um aditivo à qualidade de vida. Na busca de mais equilíbrio e menos excessos do vaivém cotidiano, as vitaminas espirituais revelam-se importantes:
– Espírito vem de sopro (a palavra hebraica para “espírito” é ruach, que significa “vento, respiração”). Esse sopro entra no corpo, no emocional, no social, amplificando, assim, o efeito da saúde. Fazendo uma metáfora, é a função do fermento em uma receita: ele por si só não é um alimento, mas muda completamente o restante.
Já no alerta sobre o uso compulsivo da tecnologia digital, Biolchini dispensou metáforas. Foi categórico ao reiterar os riscos à saúde, "atestados por inúmeros estudos", decorrentes da dependência dos jovens em relação a aparelhos como tablets e smartphones. O hábito não raramente evolui para um vício que "consome muito tempo da nova geração" e prejudica a saúde.
Pesquisa americana de 2010, destacou o professor, mostra que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos, nos Estados Unidos, gasta acima de 30 horas semanais na internet. Uma aplicação cujos dividendos, advertem médicos, ameaçam a saúde. Para Biolchini, o excesso aproxima a dependência digital de outras drogas, como o álcool:
– Claro que não é tão séria, pois não tem efeitos químicos – ressalva – Comparo a tecnologia com a bebida alcóolica porque a pessoa pode beber socialmente, uma taça de vinho por dia, por exemplo. Da mesma forma, o digital pode ser libertário, pode trazer conhecimento e informação. Tudo depende da qualidade do uso. Quando o celular passa a ser mais importante que o ser, você fica em função dele.