Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 13 de março de 2025


Cidade

Ideia de alunos dá uma luz à iluminação pública

Guilherme Simão - Do Portal

07/02/2013

Guilherme Simão

Três estudantes da PUC-Rio criaram um programa de monitoramento da iluminação pública que poderá ser adotado para melhorar o serviço de reparo de lâmpadas de postes de luz na cidade. O projeto foi um dos vencedores do Hackthon 1746, competição para programadores realizada pela Prefeitura do Rio com o objetivo de encontrar soluções tecnológicas para problemas urbanos. Gabriel Bastos, João Pedro Pinheiro e Raphael Alvarenga, alunos de Engenharia da Computação, criaram um programa de computador capaz de receber as informações geradas por sensores. A equipe venceu na categoria Inovação Tecnológica e Criatividade e receberam, bolsas de estudos em um curso de empreendedorismo na Fundação Getulio Vargas, além de prêmio de R$ 5 mil e entradas para o festival de música Rock in Rio.

A equipe estabeleceu um nível mínimo de luz aceitável para determinar os postes que deveriam ser consertados. O sensor instalado nos postes envia ao controle o grau de luminosidade do circuito (de 0 a 1.023). Se indicar valor inferior ao mínimo aceitável, o programa indicará a necessidade de conserto. No software, os dados são visualizados no dashboard, painel de indicadores que aponta o número de reparos a serem feitos em cada bairro.

Os dados são enviados a partir da conexão de um cabo de internet com o microcontrolador. Para sanar o problema o mais rápido possível, a intenção é enviar as informações em menos de um minuto ao banco de dados da Central 1746 ou da Rio Luz. Enviar informação quase em tempo real é importante porque o programa também calcula a melhor rota para o conserto dos postes a partir da garagem da Rio Luz. Assim, a equipe de manutenção seria capaz de mudar o trajeto caso outro poste apague naquele percurso.

– Criamos a chamada rota ótima que determina o menor percurso para a equipe de manutenção trocar as lâmpadas. O objetivo é que a Prefeitura reduza os gastos com as operações de reparo – conta Gabriel Bastos (à esquerda na foto abaixo), que recentemente criou a Thrust, empresa que desenvolve aplicativos e plataformas, com outros dois amigos da universidade.

Guilherme SimãoO reparo de lâmpadas gera o segundo maior número de solicitações da Central 1746. Em julho, houve 9.140 solicitações para esse serviço, sendo a maioria nos bairros de Campo Grande, Bangu e Santa Cruz. A Rio Luz tem o prazo de 72 horas para consertar uma lâmpada que esteja apagada ou piscando. Segundo o estudante João Pedro Pinheiro (à direita na foto ao lado), além de gerar economia com operações, o software pode contribuir para melhorar o trânsito da cidade:

– O serviço de reparo de lâmpadas geralmente causa transtornos no trânsito. Às vezes, duas ruas próximas são interditadas por equipes de manutenção. Por isso, é importante fazer o conserto o mais rápido possível e de forma coordenada. 

O projeto da equipe recebeu elogios de representantes da Rio Luz antes do anúncio do resultado, o que incentivou ainda mais os estudantes a concluir o programa. Na apresentação, eles divulgaram o orçamento do projeto: US$ 50 mil, estimando em US$ 1 o custo do sensor instalado em cada um dos postes da cidade.

Aposta de última hora

A entrada na competição foi de última hora. No último dia de inscrição, apresentaram três ideias de projeto, dos quais apenas um poderia ser desenvolvido. Dois dias antes do início da competição, receberam um telefonema confirmando a participação. O representante da organização os aconselhou a investir na terceira ideia, que seria a mais original.

– Não teríamos apostado nessa ideia se não tivéssemos sido avisados sobre seu potencial. Era justamente a ideia que achávamos mais mirabolante. Mas ninguém tinha proposto nada parecido – diz Gabriel Bastos.

Maratona no Palácio da Cidade

Nos dias 31 de agosto e 1º de setembro, 78 competidores, divididos em 25 equipes, passaram 28 horas seguidas no Palácio da Cidade, em Botafogo, desenvolvendo softwares para as principais demandas da Central 1746, serviço de atendimento que recebe solicitações de moradores da cidade.

A primeira atividade do evento foi uma apresentação no Centro de Operações da Prefeitura, que monitora as imagens captadas por 560 câmeras instaladas na cidade, na manhã do sábado. No Palácio da Cidade, às 10h30, os competidores começaram a desenvolver programas de computação para as quatro principais demandas da Central 1746: poda de árvores, iluminação pública, conservação de vias e estacionamento irregular. Assim que o relógio da competição foi ativado, as equipes começaram a montar computadores freneticamente. Já os integrantes da EXCSI (referência ao Colégio Santo Inácio, onde estudaram) organizavam, sem muito alarde, equipamentos menos sofisticados, como o protoboard, placa com furos e conexões condutoras usada para a montagem de circuitos eletrônicos.

– Levamos poucos equipamentos,  enquanto as outras equipes tinham vários computadores, inclusive monitores especiais. Começamos bem devagar e sequer usamos a internet – conta Raphael Alvarenga, lembrando que competidores chegaram a reclamar da conexão no início do evento. As equipes tiveram acesso a rede por fibra óptica com velocidade de um gigabit por segundo (Gbps), que permite baixar um filme de 14 gigabytes em cerca de dois minutos.

Divulgação: Aline MassucaAlém de desenvolver um software, o grupo da PUC-Rio foi um dos poucos que decidiram criar também um hardware, dispositivo eletrônico de computador. Valendo-se de noções de circuitos elétricos, os estudantes montaram um sensor LDR, peça que detecta a presença de luz, incluindo um microcontrolador, chip usado para monitorar os sensores de luminosidade.

Mas, depois de criar o hardware, a equipe EXCSI teve um bloqueio criativo. Foram seis horas sem avançar numa solução para identificar os postes públicos com defeito. As dificuldades do projeto, somadas ao cansaço de 14 horas consecutivas de concentração, quase levaram os alunos a desistir da competição.

– Não saíamos do lugar, ficamos empacados. Foi uma sensação de desânimo muito forte – lembra Raphael Alvarenga, aluno do 8º período do curso de Engenharia da Computação.

Para tornar a situação ainda mais dramática, João Pedro Pinheiro se acidentou, machucando um olho:

– Estava saturado de programar na madrugada e fui caminhar pelo jardim do palácio. Tinha pendurado o crachá na cabeça e, ao virar o rosto, a pontinha do crachá bateu no meu olho esquerdo – conta Pinheiro, já recuperado do susto.

Na manhã de domingo, os três estudantes conseguiram terminar o software premiado na categoria Inovação. O projeto vencedor do Prêmio do Júri (R$ 10 mil) deste primeiro Hackthon 1746 foi o aplicativo Rua Aberta, que indica vagas disponíveis para estacionamento pelas ruas da cidade. A equipe que venceu a categoria Mobilização Social (R$ 5 mil) criou um programa para fazer solicitações à Central 1746 pelo Twitter e Facebook.

Segundo o secretário-chefe da Casa Civil Pedro Paulo Carvalho Teixeira, responsável pela organização do evento, o custo de promover a maratona para programadores é bem menor do que o de contratar uma empresa para desenvolver programas de computador. Os competidores tiveram ainda a oportunidade de mostrar suas ideias a representantes de empresas como IBM, Facebook, Todo!, Cisco e a aceleradora Papaya Ventures.