Brenda Baez e Jana Sampaio - Do Portal
04/09/2013
Impulsionada pela tecnologia digital como um antídoto à atrofia ou à falta de espaço no mercado literário tradicional, que cresceu menos de 1% no ano passado, a autopublicação amealha faturamento e investimentos crescentes. Livrarias e editoras, independentes e tradicionais, ajustam-se ao apelo comercial dos livros autopublicados – menos custosos e, consequentemente, mais acessíveis –, que já responde por 10% do mercado.
Mesmo com participação ainda pouco representativa no faturamento todal das editoras, o volume de-books cresceu 343% em um ano. Na Bienal do Livro, o novo combustível da economia literária é observado, por exemplo, nos estandes da PerSe, que expõe 110 livros independentes e lança outros 18; da Amazon, gigante do comércio eletrônico mundial há nove meses no Brasil; e da Kobo, leitor digital de livros e e-books.
A partir do momento em que escritores passaram a disponibilizar suas obras no formato digital, a preços menores, diretamente nas lojas on-line, a autopublicação esboçava tornar-se um fenômeno. Atrás de visibilidade e de receita, raramente imediata, escritores independentes movem um segmento que cresceu 900% no último ano, aponta pesquisa feita pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Ao reescreverem os rumos do mercado, as crescentes iniciativas do gênero impõem a editoras e livrarias adptações às novas demandas, ao novo perfil de leitor e às novas formas de produção flexibilizadas pelos avanços tecnológicos. Apesar do investimento crescente em ferramentas voltadas à autopublicação, como indicam os 128 livros publicados dessa forma no estande da PerSe na Bienal, especialistas avaliam que o Brasil ainda engatinha na área.
Para o sócio-diretor do Clube de Autores Indio Brasileiro Guerra Neto, o método da autopublicação tende a "avançar bastante", por conta da transparência e da possibilidade, segundo ele, de "o autor estabelecer quanto quer lucrar com os direitos autorais". Guerra Neto afirma que o modelo beneficia autores e editoras, mas ressalva: ainda são necessários aperfeiçoamentos.
– As editoras tradicionais já perceberam um nicho crescente no mercado literário independente e precisam se adaptar à nova realidade digital – reitera – O mercado brasileiro é crescente e apresenta um quadro irreversível, o que resulta numa maior variedade disponível para o leitor em dois cliques.
Os 10% do total de livros publicados no Brasil, embora retratem o crescimento da autopublicação, ainda estão longe dos milhões movimentados pelo mercado americano: nos EUA, metade dos títulos editados é independente.
O preço relativamente alto dos leitores digitais – que não recebem a imunidade fiscal dos livros impressos – e a adaptação ainda precrária de editoras ao novo sistema de publicação explicam, em parte, o atraso em relação ao cenário americano.
– Nos EUA os leitores digitais são mais baratos e as editoras estão mais abertas para as mudanças proporcionadas pelo amadurecimento do mundo digital – avalia Guerra Neto. Ele pondera que as comparações com os Estados Unidos são inadequadas:
– O Brasil tem alto potencial para desenvolver o setor literário independente, mas ainda trata-se de um negócio novo e embrionário, que requer adaptações – argumenta.
Ainda de acordo com o executivo, o novo ambiente editorial aponta para uma mudança constante: à medida que o índice de leitura aumenta, os livros impressos e disponíveis em e-books devem ficar mais baratos, assim como os leitores digitais, prevê Guerra Nerto, "o que aquecerá o mercado e impulsionará mais a leitura".
Dificuldades impostas por editoras impulsiona mercado independente
Não são raros os casos de escritores autônomos que foram procurados por editoras tradicionais após o estouro de vendas em suas publicações independentes. O mais famoso foi o best seller Cinquenta tons de cinza, incialmente publicado em e-book. A busca pela publicação é uma via de mão dupla. O método aplicado pela Editora Multifoco, especializada na publicação de livros independentes com tiragem reduzida e que atua como colaboradora dos autores na produção do livro, reflete as crescentes iniciativas do setor. A flexibilização das editoras independentes funciona como chamariz para escritores em busca da autopublicação, como comprova o diretor da empresa, Leonardo Simmer.
- A editora procura por títulos em sites de autopublicação, o que estreita a relação com escritores autopublicados. A ideia é adaptar-se ao projeto e viabilizá-lo. Não é propriamente um modelo de publicação independentes, mas que visa a flexibilidade.
Apesar disso, o cenário na publicação tradicional ainda caminha em passos lentos. Autora de um livro infantil ilustrado, a professora e escritora Moema Castro recorreu à autopublicação como forma de obter visibilidade das editoras e, finalmente, tirar um de seus projetos da gaveta. Moema é autora de livros pedagógicos, mas afirma que as dificuldades impostas pelas editoras tradicionais como o alto investimento adiaram o lançamento de seus livros.
- Os gastos para se lançar um livro são enormes, tenho vários livros pedagógicos escritos pela biblioteca nacional, mas que ainda não foram publicados. Este foi mais fácil de publicar em razão da forma indepentente - justifica a autora e acrescenta - O mercado vai devagar, mas é consistente.
Para Moema, o time de autores já escalado nas editoras tradicionais impede a entrada de escritores iniciantes ou ainda pouco conhecidos pelo público. Ela conta que já bateu na porta de diversas editoras, mas foi no Clube de Escritores Independentes que conseguiu concretizar o projeto de lançar seu livro.
O crescimento do mercado de autopublicação, no entanto, parece não ser tão atrativo para as editoras, como aponta Simmer, da Multifoco.
– As editoras tendem a buscar publicações que se tornem campeões de venda e com isso os autores menos conhecidos são deixados de lado. Sugiro a autopublicação para os profissionais liberais, como os médicos, que dispõe de um público menor de leitores.
Autopublicação no Brasil
Apesar da ascenção do mercado de autopublicações, Guerra Neto alerta para a necessidade das editoras em dar mais espaço aos escritores brasileiros. Hoje, cerca de 70% dos títulos lançados no Brasil são estrangeiros, reduzindo o "casting" de autores nacionais nas editoras. O método vem sendo usado também como forma de chegar aos leitores sem intermediários e de quebra servir como um cartão de visitas às editoras atentas a nova forma de publicar. Hoje, a cada 10 escritores que desejam publicar no Brasil, apenas um consegue por meios tradicionais, ou seja, por intermédio de editoras.
Para Simmer, da Multifoco, a autopublicação é uma opção para aqueles autores que desejam imprimir poucos exemplares com qualidade de uma editora de primeira grandeza.
Ainda assim, há quem prefira se autopublicar. Autor da trilogia “Haja ignorância”, o advogado Bernardo Côrtes nem procurou editora. Mesmo com os custos reduzidos, Côrtes aponta o financiamento do livro como o principal problema na hora de publicar. Em compensação, acredita que as mudanças do mercado favorecem especialmente aqueles que, assim como ele, pretendem lançar livros de forma autônoma e barata.
– O Clube dos Escritores me ajudou na hora da edição e diagramação do livro, mas o trabalho todo foi meu. É interessante ter esse controle sobre a obra e poder decidir como vai ser o resultado final - comenta Côrtes.
Côrtes acredita que as editoras estão atentas às mudanças do mercado e reflexo disso é a busca por escritores de sucesso que vem do mercado independente. O canal entre escritor e leitor está mais aberto, assim como a relação entre autor e editora.
Diante de um mercado que cresce diariamente, as plataformas da autopublicação possibilitam à todos que desejam compartilhar e publicar textos, a oportunidade de serem lidos e possivelmente reconhecidos. Bookess – A Plataforma brasileira possibilita ao autor publicar e comercializar seu livro seja no formato digital ou impresso. Fácil de configurar, o site dá a opção de comercialização ou disponibilização de arquivos on-line. Clube de Autores – Pioneira em autopublicação no Brasil, permite a venda de livros digitais e impressos e ao longo de sua existência se mostrou muito útil na publicação de poesias e crônicas, e especialmente livros técnicos. Clube dos Escritores - Aberto aos autores que tem suas obras publicadas ou não e que detenham os direitos de copyright sobre seus livros, basta solicitar a partir do site o contrato de associação. E-Galáxia – Lançada na FLIP, a platarforma é um projeto que busca um olhar diferenciado na produção de e-books. Google Play – Para os que apostam no mercado de celulares, é possível vender seus livros digitais compatíveis com o sistema Android. Para publicar, além do cadastro como desenvolvedor é necessário o pagamento de uma tacha de R$ 25. Publique-se – A plataforma é uma das novidades de internet brasileira e é um dos avanços da Livraria Saraiva, que investirá forte nos livros digitais. Além de receber 35% dos royalties, os autores terão seus e-books comercializados no site da livraria. Writing Life – Existente desde 2010, a plataforma permite a publicação de e-books para o Kobo, o leitor digital comercializado pela Livraria Saraiva é um dos principais concorrentes do Kindle. |