“O maior português brasileiro ou o maior brasileiro português”. Com estas palavras, o reitor da PUC-Rio, Padre Jesus Hortal Sánchez, abriu a Aula Magna do semestre, sobre o Padre Antônio Vieira. A palestra iniciou a série de homenagens ao jesuíta, que faria 400 anos em 2008. Com longa história de estudos da língua portuguesa, a professora do Departamento de Letras da PUC-Rio Cleonice Berardinelli ministrou a aula.
Aos 92 anos, Cleonice encantou a platéia do auditório do Padre Anchieta, que contava com convidados ilustres, como o cônsul de Portugal, Antônio Almeida Lima. Emocionada ("Estou muito feliz pelo convite, é a primeira Aula Magna da minha carreira docente"), ela destilou, em uma hora e meia, parte do conhecimento acumulado em 64 anos como professora de literatura portuguesa.
Especializada em Camões e Fernando Pessoa, Clarice decidiu abordar a história do Padre Antônio Vieira a partir dos trabalhos dele ao lado dos especialmente oprimidos daquela época: os índios, os negros, os judeus. Considerado o jesuíta mais importante na história brasileira, Antônio Vieira ficou conhecido pelos que pregavam a igualdade e a justiça.
– Vieira fez da palavra uma arma que se dirigia aos grandes que maltratavam os pequenos – enfatizou Cleonice, na abertura da palestra.
Ela destacou também que, do ponto de vista literário, os sermões de Vieira são uma obra prima do barroco e da argumentação. A defesa da liberdade dos índios, o ataque aos ricos escravagistas e as discordâncias do padre em relação à inquisição na Espanha foram os principais pontos abordados na palestra. Ao fim da Aula Magna, o reitor resumiu a sensãção da platéia:
– Eu tive a satisfação de ver que a senhora continua professora e eu voltei a ser aluno – cumprimentou o Padre Hortal.
Quem vê a intimidade de Cleonice com a literatura não imagina sua primeira paixão: a matemática. Estava decidida a cursar engenharia na Universidade de São Paulo (USP), até ser convencida, por seu professor de português, de que o mundo das Letras a esperava.
– Ele (o professor) brincou: “Nunca passarei por uma ponte construída pela senhora” – lembra Cleonice.
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