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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cultura

Estréia no Brasil aventura regada a Bossa Nova

Nathalia Fernandes e Tatiana Carvalho - Do Portal

29/08/2008

Numa época em que a mulher descobriu o feminismo e o mundo se deparou com os Beatles, quando Cuba se entregou às baforadas de Fidel e o Brasil reencontrou a ditadura, engatinhava um ritmo que faria história: a Bossa Nova. Neste contexto, cinco amigos partem para Nova York em busca de sucesso. Eles compõem partitura de “Os Desafinados” , que chega às telas brasileiras nesta sexta-feira (29). Com Rodrigo Santoro, Cláudia Abreu, Selton Mello, Alessandra Negrini, Ângelo Paes Leme, Jair de Oliveira e André Moraes, o longa de Walter Lima Jr., professor do curso de Cinema da PUC-Rio, estréia em cinco capitais: Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife. 

A história começa em 1962, quando o pianista e compositor Joaquim (Santoro) forma, com mais três jovens músicos, a banda Os Desafinados. O sonho deles, sonho de tantos, é tocar no Carnegie Hall, em Nova York. Impedido por um empresário de se apresentarem lá, o quarteto se junta ao amigo e cineasta Dico (Selton Mello) numa aventura por Manhattan. Das grandes experiências que vivem, um dilema romântico:  Joaquim se apaixona pela flautista Gloria (Claudia Abreu), radicada nos Estados Unidos, e tem de decidir entre a nova paixão e a noiva Luiza (Alessandra Negrini), que o espera no Brasil.

Os encontros e desencontros passeiam por uma aquarela da cinqüentenária forma de fazer música. A trilha assinada pelo maestro e arranjador Wagner Tiso reúne canções que marcaram a Bossa Nova, como “Insensatez”, “Copacabana”, “Só danço samba” e “Desafinado”. Walter Lima Jr. revela-se um eterno admirador do ritmo: “Quando a gente ouve Bossa Nova, a gente se sente brioso, sublime. É como se a música saísse de dentro da gente”.

Esta não foi a primeira parceria entre Tiso e Walter. Eles já haviam se afinado, por exemplo, em “Inocência” e “Chico Rei”. Embora o ritmo imortalizado por João Gilberto, Tom Jobim, Nara Leão, Carlos Lyra, entre outros bambas, ilumine o enredo, o diretor ressalta outros ingredientes que sustentam sua confiança no sucesso do longa:

- É um filme sobre amizade, pessoas e sentimentos. Retrata o nosso jeito de ser afetivo e espontâneo. Conta a nossa própria história.

Por falar em amizade, ele batizou os personagens com nomes de amigos. Joaquim, PC e David são homenagens aos cineastas Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni e David Neves. Dico era o apelido de Raimundo Reis, patrocinador de diversos filmes nos anos 60, quando dirigia o Banco Nacional. Já Gloria e Luiza foram retirados de canções de Tom Jobim. “Eu fiz um filme sobre amigos, sobre amizade. Eu não ia colocar nomes que não significassem nada para mim”, justifica.

Mesmo antes de estrear no Brasil, “Os Desafinados” já deu samba. Acumula prêmios nos festivais de Guadalajara, no México, Ceará e Paulínia. E foi escolhido para abrir o Festival Cine Fest Petrobras Brasil, no Central Park, em Nova York.

No dia da exibição no Central Park, um brasileiro radicado nos EUA aproximou-se de Walter Lima Jr. e agradeceu: “Obrigado por me devolver o Brasil”. O diretor conta que o homem costumava assistir a outras produções do país, mas sempre saía deprimido. “Todo mundo está cansado de ver violência, bala perdida. Nós somos muito mais que isso. Somos paraenses, nordestinos, baianos, gaúchos, mineiros”, diz ele.

O diretor mesclou músicos e atores no elenco. Rodrigo Santoro fez um mês e meio de aulas de piano. Cláudia Abreu aprendeu flauta transversa e Jair Oliveira compôs o samba “Eu Também Tive Um Sonho”. Na troca de habilidades e na construção dos personagens, o clima descontraído revelou-se essencial. “O convívio nos estúdios trouxe tudo para o filme: amizade, companheirismo, que ajudavam os atores a aperfeiçoar os trejeitos de músicos”, lembra André Moraes.

O entrosamento se estendeu para fora das gravações. “A gente ficou com vontade de cantar junto. É uma forma de a gente se ver, pois todos têm agendas apertadas”, conta Ângelo Paes Leme, que tem formação musical.

A agenda de Rodrigo Santoro ilustra a difícil equação de reuni-los. Divido entre compromissos no Brasil e nos EUA, o ator esclarece que sua carreira americana tem motivações distintas de seu personagem, Joaquim:

- Eu não tinha esse sonho de ir para fora. Se tinha, eu só descobri depois. Viajei até os EUA para divulgar os filmes "Abril Despedaçado" e "Bicho de Sete Cabeças". O Joaquim foi atrás de um sonho e largou tudo. Mas somos dois aventureiros.

Walter Lima nem sempre trabalhou com cinema. Formado em Direito, começou a carreira atrás das câmeras em 1964, como assistente de direção de Glauber Rocha, em "Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Seu vigésimo longa-metragem, “Os Desafinados” contou com um orçamento de R$ 7,2 milhões, consumidos em dois anos e meio de produção.

Outra peculiaridade remete ao uso de recursos interativos e de convergência de mídia na divulgação do filme. No site de “Os Desafinados”, o internauta pode fazer o download das músicas “Eu Também Tive Um Sonho" e "Mente Para Mim” em versão instrumental, gravar o vocal e reenviar o arquivo.