Estudiosos de diversas religiões consideram os escritos de Paulo a parte mais importante dos textos apostólicos. Dentre os escritos, a Carta aos Romanos ocupa um espaço de destaque, tendo sido considerada até como um “evangelho dentro do evangelho”. Para celebrar os dois mil anos do nascimento de São Paulo, o papa Bento XVI proclamou 2008 como o Ano Paulino. Para comemorar a data e incentivar o diálogo inter-religioso, o Centro Loyola de Fé e Cultura da PUC-Rio promoveu a mesa redonda Fraternidade Judaico Cristã, com uma leitura ecumênica dos capítulos 9, 10 e 11 da Carta. “Pela natureza católica da PUC, propusemos um diálogo entre fé e cultura”, disse o reitor da PUC-Rio, Padre Jesús Hortal Sanchez S.J., moderador do encontro.
A doutora em Letras e ativista do diálogo inter-religioso, Consuelo de Cunha Campos, participante da mesa, apresentou uma perspectiva católica para explicar o início da convivência entre o judaísmo e a igreja cristã, que era constituída por judeus. Para ela, a leitura dos capítulos 9, 10 e 11 da Carta aos Romanos permite compreender melhor a visão da igreja católica sobre os judeus. Ela lembrou o Jesuíta Padre Antonio Vieira, julgado pela inquisição por desejar a abertura de sinagogas em Portugal, mas que foi absolvido no fim. Emocionada, falou das perseguições ao longo dos séculos que não foram suficientes para selar a sorte do Estado de Israel. “Nenhum outro povo sofreu tanto como o povo judeu”, concluiu a professora.
A vida rural de Jesus em contraposição à mentalidade urbana de São Paulo, que era um poliglota e intelectual, foi o tema de partida do doutor em Teologia pela PUC-Rio, pastor Eduardo Pedreira. Sob uma visão protestante, o pastor falou da vida de Jesus e do ambiente em que vivia. Falou ainda da difícil mudança que o apóstolo Paulo passou: “Mudar é difícil. Quanto mais velho maior o custo emocional. Paulo passou por uma transformação que o fez escrever a Carta aos Romanos”. Pedreira arrancou gargalhadas da platéia ao comparar São Paulo com Gilberto Gil e finalizou falando da necessidade do diálogo: “Não havendo orgulho, não há pensamentos sectaristas. O caminho deve ser pela conversa, não pela exclusão.
Apesar do anacronismo, muitos pensadores utilizaram a pluralidade da Carta para embasar diversos assuntos, é o que acredita a decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, Maria Clara Bingemer. “Hoje em dia não há como fazer um diálogo inter-religioso sem observar perspectivas diferentes. Na minha visão, Paulo foi um judeu e cristão durante toda a vida”, contou. O convite para participar da mesa foi considerado aceito como desafio pela doutora