Projeto Comunicar
PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Cultura

Futuro dos jornais depende do garimpo de boas histórias

Thiago Arantes - Da sala de aula

07/07/2008

As novas tecnologias e a multifuncionalidade predominantes não dispensam a principal ferramenta do profissional de comunicação: a capacidade intelectual. Entre dúvidas, prognósticos e histórias do dia-a-dia nas redações, Yuri Totti, editor-assistente de esportes do Globo, e Renato Dalcin, idealizador da reforma gráfica do Jornal do Brasil, alertaram: o futuro do jornalismo, especialmente da mídia impressa, depende da tradicional competência em garimpar boas histórias. Eles discutiram os rumos da profissão na PUC-Rio, em junho. 

A internet não deve levar à acomodação, advertiu Yuri, dirigindo-se aos estudantes que assistiam à palestra no auditório da sala 102K. Referia-se, sobretudo, ao uso desta mídia para colher informações e para entrevistar. “Lugar de repórter é na rua. Entrevistas feitas por e-mail não permitem ao repórter identificar uma reação importante do entrevistado. Além do mais, há 80% de chance de a entrevista ser respondida por outra pessoa”, ressaltou o jornalista formado pela PUC-Rio.

Com a autoridade de quem transita há 21 anos entre manchetes e fotos, 16 deles no Globo, Yuri acrescentou: é preciso converter a multifuncionalidade exigida do profissional em boa informação. Caso contrário, a versatilidade vira uma ameaça à excelência editorial:

- O repórter acumula mais funções e, em grande parte das vezes, tem de produzir para mais de uma mídia. Esta polivalência não deve prejudicar a qualidade do conteúdo. É um desafio diário 

Segundo ele, a multifuncionalidade mudou a rotina das redações: o profissional tem mais serviços a serem feitos no mesmo tempo. "E ainda tem mais chefes supervisionando seu trabalho. Um para cada serviço". Ao cobrir o treino de um time, por exemplo, o jornalista há de se programar para produzir conteúdos coordenados entre impresso, rádio, TV e internet.

Diferentemente do que imaginam os românticos, que associam o cotidiano jornalístico ao esteriótipo de desorganização, o planejamento torna-se uma ferramenta decisiva para produzir bons conteúdos convergentes dentro do prazo industrial. “Em esportes, talvez esta tarefa fique mais fácil. Não há sobressaltos freqüentes, como na política ou na economia", comparou Yuri. Antes de mergulhar no universo esportivo, ele trabalhou com a cobertura econômica, no JB e no Globo. Trabalhou também com política, cultura e jornais de bairros.

Outro desafio profissional, especialmente da área esportiva, remeta a habilidade de reguardar o equilíbrio obrigatório ao ofício das preferências e paixões. “Deve-se saber controlar a paixão a partir do momento em que você trabalha com esportes. O clube de preferência não deve se impor ao compromisso com a melhor informação”, observou. A rotina de um jornalista esportivo dificilmente lhe proporciona oportunidades para aproveitar essa paixão:

- Nesses oito anos trabalhando com esportes, se fui cinco ou seis vezes ao Maracanã foi muito – revelou o jornalista.

Na palestra seguinte, o jornalista e designer Renato Dalcin também destacou a informação de qualidade, além da notícia, como um dos caminhos da sobrevivência dos jornais e revistas. Ao observar que as publicações ainda buscam um padrão de convergência com as novas mídias, ele salientou que alguns especialistas apostam na gratuidade.

- Não tenho bola de cristal. Mas os jornais de distribuição gratuita estão se disseminando no mundo. É um novo modelo de negócios, cujos efeitos no mercado jornalístico ainda não podemos prever. Uma coisa é certa: independentemente do modelo, o profissional deve se preocupar em produzir um conteúdo gabaritado, além da superfície.