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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Cultura

Realismo sob o um olhar diferenciado

Guilherme Costa - Do Portal

07/07/2008

Nos dias 15 e 16 de maio, a PUC-Rio acolheu o I Colóquio da Cátedra Pe. Antônio Vieira de Estudos Portugueses, que teve como tema o Realismo, seus objetos, escritas e efeitos. Realizado no salão do Centro Técnico Científico (CTC), do Edifício Cardeal Leme, o colóquio reuniu professores de diversas áreas, do Brasil e de Portugal, em mesas redondas, abordando o tema sob diferentes aspectos, como pelo olhar da filosofia e do cinema.

Em uma das mesas redondas, o professor Karl Eric Schollhammer, do departamento de Letras, discursou sobre o real, a realidade e os realismos. Fez uma ampla análise do atores da literatura Realista. E citou o dramaturgo Bertold Brecht, que, segundo o professor, se utiliza de uma acidez, um distanciamento, com o objetivo de ficcionalizar o próprio poder da ficção.

Schollhammer afirmou que “nada é suficientemente real para não ser confundido com a semelhança, suspeita de não ser real. Nada pode atestar o real a não ser sistema de ficções dentro do qual joga seu papel irreal. O que mais se apresenta como real mais se expõe a essa suspeita de não ser real. E a resposta a essa suspeita é o investimento na negatividade artística pelos caminhos da destruição, da subtração, que instaura um dos temas principais do século, como o fim da arte, o fim da obra, e finalmente, o fim da representação.”

O professor concedeu uma entrevista exclusiva ao PUC-Rio Digital.

De que forma a participação de profissionais de outras áreas pode contribuir para o desenvolvimento dos estudos sobre o Realismo?

O tema tem abordagens diversas. Se você olha pra questão dentro da área de comunicação, há uma grande discussão sobre a onda do documentarismo brasileiro, que vem ganhando muita forca nos últimos anos, tem um novo publico e uma nova tradição de cineastas. O Realismo, nesse sentido, tem um perfil determinado dentro dessa área.

Na filosofia, o realismo tem uma interpretação totalmente diferente na historia da literatura. Então, a contribuição do professor Danilo (Marcondes, do departamento de filosofia da PUC-Rio) foi uma contribuição muito importante porque na realidade está se falando de dois conceitos totalmente diferentes. É um intercambio muito fértil, que tem varias abordagens, diferentes contextos universitários, diferentes contextos nacionais e tem diferentes abordagens disciplinares.

Após a palestra, apenas uma pergunta foi feita, e por uma professora. A que você acha que se deve isso? Seria uma inibição causada pela complexidade do assunto?

O tema, em si, é inovador, porque se trata de uma abordagem que não se faz há um certo tempo e tem toda uma nova tentativa conceitual em torno disso, contrária ao que existe de estudos sobre o Realismo historicamente.

Existe uma tradição nos estudos da literatura de lidar com o Realismo apenas no contexto do século XIX, ou no contexto de um chamado Neo-realismo social da década de 20, 30 e 40. Esses momentos já têm uma conceituação totalmente discutida, muito baseada no Realismo como uma estratégia de representação. Ou seja, uma estratégia mimética, a idéia de que se pode representar a realidade tal como ela se oferece pra experiência cotidiana.

Na abordagem nova já se esta abrindo mão desse foco estrito sobre a representação, se está se começando a trabalhar com o realismo como a recriação de experiências. Você recria, esteticamente, experiências reais. Essa é uma outra maneira de entender a referência para a literatura, para as representações.

Em seu discurso você citou diversas vezes o dramaturgo Bertold Brecht. De que forma o teatro de Brecht pode nos ajudar a refletir sobre o tema?

Minha referência para Brecht era uma referência de certa maneira paradoxal, porque Brecht se entende como um dramaturgo que cria um efeito de estranhamento e desmistificação da própria linguagem representativa do teatro. Pode ser lido como alguém que brinca com a auto-referencialidade da própria linguagem. Mas, também pode ser entendido como alguém que, através dessa brincadeira, olha pra o que o teatro de fato cria em termos de presença real, em termos de experiência real.

Ele é um exemplo privilegiado do século XX, porque ele tem essa consciência aguda sobre a própria linguagem representativa aplicada pelo teatro e aplicada também pela literatura e pelas artes como tais. Nesse sentido, ele tem tudo a ver com uma estratégia artística, que na realidade tenta rever as linguagens representativas da nossa realidade.

Qual foi o impacto do realismo na literatura e de que forma ele influenciou a o teatro e a literatura como os conhecemos hoje?

Eu acho que o realismo, no século XIX, foi muito importante na literatura, e muito importante no teatro, pelo simples fato de aceitar uma realidade humana, cotidiana, baixa, socialmente sem interesse artístico, como seu objeto principal. Ele abriu pra uma democratização das artes. O teatro realista abriu pra um cenário que era parecido com o cenário da nossa vivência. A sala de estar, por exemplo.

Ao invés de um cenário totalmente artificial, de repente você entrava no palco como se fosse na sua casa. Essa realidade nova, que depois se reflete também no Realismo cinematográfico, e posteriormente no Realismo da literatura, já era uma revolução muito grande nas artes.