Israel da Silva, 9, morador do Pavão, foi uma das 10 primeiras crianças a embarcar no ônibus da Pastoral do Menor, que fez sua parada de estreia na noite desta terça-feira na Praça Serzedelo Correia, em frente à Paróquia Nossa Senhora de Copacabana. O veículo traz a bordo dez computadores e uma equipe de educadores, assistentes sociais e psicólogos. Jogos, filmes, músicas, internet e oficinas variadas estão presentes no processo educativo para os jovens. Segundo a assistente social da Pastoral Regina Leão, uma das coordenadoras do projeto, é mais um passo para ajudar a tirar crianças da rua, ou oferecer oportunidades de aprender coisas novas:

– Queremos alcançar as crianças que têm a rua como referência, principalmente as vítimas do crack, usando a própria dinâmica da rua, estando onde eles estão.

Autor do desenho do ônibus do Passaporte da Cidadania, Ziraldo emocionou ao elogiar o projeto, voltado para jovens em situação de risco, lembrando o tempo em que menores eram apreendidos pela Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem), que tinha caráter mais punitivo do que educativo:

– O desenho que fiz ajuda a mudar a imagem que tinha do ônibus que recolhia crianças nas ruas. O meu mostra crianças brincando, margaridas, borboletas. É um convite para que entrem e encontrem as borboletas: pode entrar, aqui é cheio de borboletas.

Presente ao lançamento para abençoar o ônibus, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, destacou a importância da iniciativa:

– Ao contrário do ônibus que caiu hoje (na Avenida Brasil, causando a morte de sete pessoas), queremos que este seja fonte de felicidade, esperança e um futuro melhor para os jovens da nossa cidade. Queremos nos aproximar dessas crianças cada vez mais.

De acordo com o cônego Manoel Manangão, este é o primeiro passo do legado para a Jornada Mundial da Juventude na questão social, facilitando o acesso de usuários de drogas a instituições de tratamento e reinserção na sociedade e reduzindo os riscos para aqueles que estão expostos a isso:

– O sonho não é dar dinheiro para a criança na rua, e sim oferecer algo para ela fazer. Foi esse pensamento que deu origem ao projeto.

A ideia é atender diariamente 30 crianças e adolescentes. Os primeiros usuários aprovaram.

– Fiquei sabendo do ônibus bem em cima da hora e adorei ter vindo. Aqui eu me sinto mais seguro, não fico vendo violência nem as pessoas mexendo com drogas. E ainda posso jogar jogos e aprender coisas, além de conhecer pessoas novas – afirmou Israel, que quer voltar.

Inicialmente o ônibus ficará em Copacabana, primeiro bairro do projeto, por duas semanas e depois passará por Madureira, Campo Grande e Lapa. Regina explicou que o tempo de permanência em cada bairro vai depender da resposta do público, e pode variar de 15 a 30 dias.

Uma dos principais parceiras da Pastoral do Menor, a Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia estava representada pelo secretário Franklin Coelho, que ressaltou o mundo de opções que a internet oferece, afastando ainda mais a possibilidade dos jovens entrarem em contato com as drogas.

– Topamos assim que ouvimos a ideia da Pastoral, que abre oportunidades para que os jovens consigam trabalhar, por exemplo. Queremos fazer o “Menino Internetinho”, o que a internet oferece é um dos caminhos de paz e esperança que queremos ter no futuro.

Finalizando o seu breve discurso, o pai do Menino Maluquinho fez um apelo ao vice-prefeito do Rio, Adilson Pires:

– Coloquem mais 50 desses ônibus nas ruas da cidade, até que não seja preciso mais nenhum.