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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cidade

Metrô: o preço muda, mas os problemas continuam

Gabriel Camargo e Matheus Vasconcellos - Do Portal

31/03/2013

 Caio Cidrini

Na terça-feira após a Páscoa, dia 2 de abril, os cariocas provarão uma tarifa mais salgada no metrô, como acontece a cada mês de abril. A passagem, já a mais cara do país, passará de R$ 3,20 para R$ 3,50, um aumento de 10%, num momento de muitas críticas da população em relação ao serviço, que sofre com superlotações, paralisações e o fechamento das estações Ipanema/General Osório e Cantagalo (esta recém-reaberta), devido a obras para a construção da Linha 4.

Para o engenheiro de trânsito Fernando MacDowell, ex-diretor do MetrôRio, uma das reclamações mais comuns, a superlotação, acontece pela demora no intervalo entre os trens:

– Para resolver o problema da superlotação, tem que diminuir o intervalo entre os trens. Há mais de dois anos os intervalos entre os trens não é mantido. Os quatro minutos prometidos já viraram sete, uma irregularidade monumental. Quatro minutos já é muito tempo, mas nem isso é cumprido. Já chegaram trens chineses e nem assim vão conseguir, porque é um problema matemático. As pessoas não gostam de matemática, preferem arriscar e torcer para dar certo. E metrô não se resolve assim.

O engenheiro José Eugênio Leal, professor de Transporte e Logística na PUC-Rio, acrescenta que, além de diminuir o intervalo, aumentar o número de vagões amenizaria a superlotação. As plataformas têm espaço para oito carros, mas em geral apenas seis são oferecidos:

– O metrô é excelente, mais pessoas podem passar a usar. Não precisaria de obras de engenharia. 

Um mês antes do aumento das passagens, no último dia 5 de março, estações como São Francisco Xavier, Afonso Pena e Saens Peña, na Tijuca, e Vicente de Carvalho (foto) ficaram alagadas e tiveram que ser interditadas devido a um temporal. Também têm sido recorrentes as interrupções das viagens por panes no sistema. Em janeiro, uma queda de energia em sete estações deixou pessoas presas nos vagões por 30 minutos. Quando as portas foram abertas, os passageiros tiveram que seguir a pé, pelos trilhos, às escuras, guiados por agentes da companhia.

Os problemas não atingem apenas quem utiliza o metrô, mas tem reflexos por toda a cidade. O dia 25 de fevereiro foi um dos mais confusos para o trânsito em alguns bairros cariocas, especialmente Copacabana e Ipanema. O primeiro dia útil após o fechamento das estações Ipanema/General Osório e Cantagalo. Apesar de o foco ter sido na Zona Sul, o problema se refletiu em diversos bairros do Rio.

 Raphael FeitozaCom o fechamento da estação na Praça General Osório, o sistema de metrô na superfície – ônibus que completam o trajeto – foi transferido para a Siqueira Campos, em Copacabana, e não conseguiu dar conta da quantidade de ônibus comuns e do metrô, criando um imenso congestionamento pelas redondezas e causando irritação dos passageiros. Para Leal, os cariocas estão pagando por um erro anterior:

– Planejamento errado foi quando construíram a estação General Osório. Não preparam a continuação da linha, fizeram às pressas, queriam inaugurar rápido por causa das eleições, e a estação não foi preparada. Agora, na obra na PUC, por exemplo, já estão preparando alternativas para a expansão da linha, o que não foi feito em Ipanema. Fecharam a estação para modificá-la, praticamente criar uma nova, e por isso aconteceu todo esse problema.

A estação Cantagalo não demorou para ser reaberta, mas as obras pela Zona Sul e Barra da Tijuca seguem atrapalhando o trânsito. Também visando as obras da Linha 4 do metrô, o fechamento de alguns trechos da Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, e o desvio dos ônibus para orla têm contribuído para o congestionamento, principalmente nos horários de pico.

– Passam 50 mil pessoas por dia pelas estações Ipanema e Cantagalo. É um erro de estratégia transferir todo esse volume de passageiros para pegar ônibus na Siqueira Campos – critica MacDowell.

Inauguração em 1979, com quatro estações

Em 1947, enquanto Buenos Aires já tinha um metrô com pouco mais de 30 anos, a então capital do Brasil apenas começava os estudos para a criação de linhas férreas subterrâneas. A Companhia Metropolitana do Rio de Janeiro – responsável pelas obras – foi criada em 1968, e dois anos depois começou a construção das Linhas 1 e 2, paralisada por falta de verbas. Apenas em 1979 o metrô foi inaugurado, com as estações Praça Onze, Presidente Vargas, Cinelândia e Glória.

 ReproduçãoSuperando algumas paralisações nas obras e muitos projetos que não saíram do papel, o metrô no Rio de Janeiro tem 35 estações, que representam 41 quilômetros de trilhos, enquanto o metrô de São Paulo, o mais velho do Brasil, conta 64 estações atualmente e 74,3 quilômetros de extensão. No ano em que comemora 150 anos de sua inauguração, o metrô londrino – o mais antigo do mundo, construído em 1863 – é dez vezes maior que o do Rio, com 402 quilômetros e 270 estações (foto), quase duas estações abertas por ano, em média. A situação fica ainda pior quando o metrô carioca é comparado ao maior do mundo, o de Seul, na Coreia do Sul, que segue por 508,2 quilômetros entre 381 estações (confira abaixo os preços das tarifas e o custo por quilômetro percorrido).

Além dos poucos quilômetros de extensão, o Rio também avança devagar na expansão de estações. Com média de 1,03 estação aberta por ano, o Rio fica em terceiro no país, perdendo para Brasília (2) e São Paulo (1,64). E novamente quando comparado em esfera global, o metrô chinês de Xangai (foto), aberto em 1995: 16,4 estações inauguradas por ano. Reprodução

Muitos projetos e estudos já foram realizados para levar o transporte subterrâneo para o aeroporto internacional, na Ilha do Governador, e para Niterói, mas não há previsão de que saiam do papel:

– Primeiro porque é caro, depois porque, em vez de planejar o aumento da rede, o governo fez a opção de jogar tudo no BRT, por uma questão de tempo. Era hora de completar a Linha 2 até a Praça XV, por exemplo, e fazer a Linha 6 (aeroporto), mas já está muito em cima para a Copa do Mundo. Arte

Sem melhorias no serviço e na estrutura das estações e dos trens, a população se pergunta o porquê de mais um aumento na tarifa. De abril de 2003 a abril de 2013, houve dez aumentos na tarifa, contando com a deste ano, um aumento de 86%, e três estações foram abertas: Siqueira Campos, Cantagalo e General Osório. A assessoria do MetrôRio informa que o reajuste anual é padrão, e autorizada pela Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp). O gerente da Câmara de Transporte da agência, José Luiz Teixeira, por sua vez, alegou que apenas autoriza o que já está previsto no contrato com a concessionária: reajuste com base no IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado).

Passagens de metrô pelo mundo

Seul 508.2 km – R$ 22
Custo por km – R$ 0,0432

Pequim 442 km – R$ 0,64
Custo por km – R$ 0,0014

Londres 402 km – R$ 13
Custo por km – R$ 0,0323

Nova York 337 km – R$ 5
Custo por km – R$ 0,0148

Moscou 305,5 km – R$ 1,68
Custo por km – R$ 0,0054

Paris 218.4 km – R$ 4,18
Custo por km – R$ 0,0191

Buenos Aires 55,6 km – R$ 1,38
Custo por km – 0,0248

São Paulo 74,3 km – R$ 3
Custo por km – R$ 0,0403

Rio de Janeiro 41 km – R$ 3,50
Custo por km – R$ 0,0853

 Colaborou: Amanda Reis e Cynthia Salles.