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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Saúde

Segundo em número de casos, Brasil combate a hanseníase

Vítor Afonso - Do Portal

15/03/2013

 Arte: Nicolau Galvão

Fator de exclusão social no passado, a hanseníase, conhecida em tempos remotos também por “lepra”, ainda acumula uma média de 30 mil casos no Brasil a cada ano – dos quais 7% atingem jovens com menos de 15 anos. A quantidade faz do país o segundo em número de contágios no mundo, atrás só da Índia. A partir da próxima segunda-feira, a Campanha Nacional Contra a Hanseníase renova a esperança em tirar o Brasil dessa CTI. A iniciativa pretende atender, até o próximo dia 22, 9,2 milhões de alunos de 5 a 14 anos de escolas públicas em cerca de 800 municípios brasileiros. David Rubem Azulay, diretor da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio, alerta sobre a necessidade de um diagnóstico precoce para um tratamento bem-sucedido, com 100% de recuperação. Segundo o especialista, o reconhecimento tardio aumenta o risco de a doença causar mais complicações: 

– Se for diagnosticada tardiamente, a hanseníase poderá causar problemas irreversíveis, como lesões em nervos, cegueira, mutilações por perda de sensibilidade na pele. Uma pessoa pode estar em contato com o fogo e não sentir, por exemplo.

Apesar da grande quantidade de crianças infectadas com a doença no país, Azulay afirma que não há uma faixa etária mais atingida. Ele considera rara, contudo, a incidência em crianças pequenas, pois o período de encubação da bactéria Mycobacterium leprae, bacilo causador, é longo:

– Não há uma faixa etária fixa. Mas é mais comum em adultos e jovens, pois o bacilo já teve tempo para se desenvolver – esclarece.

Perda de sensibilidade local e diminuição da sudorese em partes do corpo são os principais sintomas. Azulay observa, no entanto, que outros sinais também indicam a doença:

– Nódulos, infiltrações na face, perda do terço externo do cabelo da sobrancelha, que chamamos de madarose. Esses sintomas também podem indicar um caso de hanseníase.

Transmitida pelas vias aéreas, através das cutículas do ar, a hanseníase pode apresentar duas variações: uma mais branda, sem risco de transmiti-la; a outra mais intensa. Segundo o diretor da Escola Médica, pessoas com baixa imunidade tendem a desenvolver o tipo contagioso:

– A doença tem uma forma mais branda, em que o indivíduo pode ficar doente, mas não transmite a doença porque ele tem boa imunidade contra o bacilo. Em outro extremo, temos a forma mais radical, contagiosa.

Em casos de infecção com a forma contagiosa, o tratamento leva, aproximadamente, um ano. Já se o paciente for portador do tipo mais brando, seis meses mostram-se suficientes para a recuperação, estima Azulay. Ele destaca ainda o “tratamento clássico”,a poliquimioterapia, em que três medicamentos são utilizados:

– A sulfona, a rifoxina e a clofazimina. Antigamente, tratava-se apenas com sulfona, mas a bactéria passou a desenvolver resistência e outros dois medicamentos foram incluídos – lembra.

 Carlos Serra Para prevenir o contágio, são fundamentais boas condições de vida e de moradia, orienta o especialista. O diretor acrescenta que a hanseníase, por ser contagiosa, exige o tratamento não apenas do paciente, mas também dos que façam parte do ambiente familiar:

– É preciso examinar outras pessoas que vivam no mesmo ambiente que ele.

Especialista reforça a importância da campanha

Azulay ressalta também a importância de iniciativas de combate à hanseníase como a campanha da próxima semana. Pois, argumenta ele, "é fundamental que as escolas públicas, por lamentavelmente serem frequentadas por crianças de baixa renda, recebam esse cuidado". 

– A doença predomina em pessoas de poder aquisitivo menor, em camadas mais pobres. Muitas vezes está associada ao fato de várias pessoas morarem juntas e terem hábitos não saudáveis e pouca alimentação – observa.

Além do fator moradia, o diretor esclarece que as condições climáticas brasileiras facilitam a disseminação da doença, devido ao intenso calor. Comparando com o cenário brasileiro, Azulay destaca o caso da Noruega, descobridor do bacilo que erradicou a doença antes mesmo de haver tratamento medicamentoso:

– A Noruega conseguiu superar a doença através da melhoria das condições de vida das pessoas e também porque é um país mais frio, menos favorável a proliferação da doença.

Duas potências dos Brics lideram a lista de casos.

Considerado como grupo de países em crescimento, apesar do recuo dos últimos meses, o Brics lidera outro ranking não muito comemorado. O número de casos de pessoas com hanseníase. A Índia é o país com maior número de casos no mundo, apresentando cerca de 150 mil novos casos por ano. Em segundo lugar, o Brasil, apresenta aproximadamente 30 mil casos por ano.

Além de Índia e Brasil, África do Sul, outro país integrante dos Brics, Angola, Congo, Costa do Marfim, Guiné, Libéria, Madagascar, Moçambique, Nepal e Tanzânia englobam a lista dos países com maior número de casos da doença.

No Brasil, as regiões mais afetadas são Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Segundo Ministério da Saúde, a meta é chegar a 2015 com apenas um caso de hanseníase em cada 10 mil habitantes.