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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Mundo

"Seja qual for o papa, sua nacionalidade será a nossa"

Renan Rodrigues - Do Portal

07/03/2013

 Carlos Serra

A surpreendente renúncia do papa Bento XVI – anunciada no dia 11 de fevereiro, sob a alegação de incompatibilidade entre a saúde enfraquecida pelos 86 anos de vida e os vastos compromissos de líder da Igreja Católica – projeta duas tendências entre as incontáveis especulações em torno da sucessão: o próximo pontífice, escolhido por 115 cardeais reunidos num conclave cujo início está previsto para a próxima semana, deverá ser mais novo e ter um perfil e um histórico que favoreça a superação de desafios como reforçar a unidade da Igreja e debelar os focos de incêndio decorrentes de irregularidades identificadas pelo vazamento, há dois meses, de documentos secretos do Vaticano (caso conhecido como Vatileaks). “Seja qual for o papa escolhido, sua nacionalidade será a nossa”, sintetizou o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, em rápida entrevista ao Portal, depois de ministrar, nesta quarta-feira, no salão da Pastoral da PUC-Rio, aula inaugural de Teologia sobre a transição católica. 

 Carlos Serra Dom Orani estima que a chance de um brasileiro ser eleito papa é “uma entre 115”, número de votantes no conclave. Ele reitera, no entanto, o discurso de que a nacionalidade não será fundamental na escolha, e sim "outros aspectos". Embora analistas acreditem no peso de fatores como a biografia e a capacidade de conjugar tradição e abertura a reformas, o ex-reitor da PUC-Rio e professor de Teologia padre Jesus Hortal explicou, às 180 pessoas reunidas no salão da Pastoral, entre representantes da Igreja, professores e estudantes, que a escolha é conduzida pelo Espírito Santo:

– O papa não pode ter compromisso com outros homens, pois não apresenta superior. Assim, a escolha do novo papa só pode vir pela fé – argumenta padre Hortal.

 Carlos Serra As diretrizes da fé serão provavelmente acompanhadas, segundo especialistas, de parâmetros como a capacidade de gerir a propagação de valores católicos e a modernização para a qual, como lembrou Dom Orani, o papa Bento XVI "teve uma contribuição importante". "Foi um dos nomes mais importantes do Concílio Vaticano II, em 1961", recordou o arcebispo. Padre Luís Correa Lima, também professor de Teologia da PUC-Rio, esclarece que as mudanças na Igreja apresentam um ritmo diferente das demandas de setores da sociedade:

– A Igreja tem um legado e atravessa séculos, milênios. Seus conteúdos vão sendo relidos através de uma nova percepção que não existia. Novos contextos obrigam a reformulação da fé, da liturgia, da caridade. As mudanças na Igreja podem ser comparadas ao disco de vinil: acontecem primeiro na periferia, que representa a sociedade, e atingem depois a Igreja, representada no centro.

Para Correa Lima, outra contribuição importante de Bento XVI foi "ter tido a coragem de renunciar" pelo bem da Igreja:

– Ele estava decidido a não ficar decrépito no cargo. O ato é de coragem pelo ineditismo do papa, mas mostra principalmente o desapego ao poder, um caráter mais humano do papa.

A renúncia papal não acontecia desde 1415, com Gregório XII. Apenas nove entre 265 papas já renunciaram. Dom Orani acredita que, inclusive pelo ineditismo alusivo à transição em curso, o novo líder da Igreja Católica despertará uma curiosidade maior ainda pela Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho:

– Vai acontecer uma curiosidade maior sobre o novo papa que vai vir. Será um dos primeiros locais que ele vai visitar após a eleição. Então, vai despertar um interesse maior.