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Rio de Janeiro, 13 de março de 2025


Cidade

Roteiro histórico por endereços onde o Rio é mais samba

Igor Novello - Do Portal

05/02/2013

 Arte: Maria Christina Corrêa

Se São Paulo é o túmulo do samba, como decretou o poeta Vinicius de Moraes, o Rio de Janeiro é o seu berço. A cidade ainda guarda em suas ruas a história do carnaval. Para conhecer melhor essa origem, o historiador Milton Teixeira e o geógrafo João Baptista de Ferreira, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio, que promovem passeios guiados pela cidade, indicam a seguir, a convite do Portal, os locais que melhor representam o gênero de raiz africana surgido no Brasil.

De acordo com o historiador, tudo surgiu na Praça Onze, mais precisamente na casa da Tia Ciata, na rua Visconde de Itaúna, 117, onde sambistas como Sinhô, Pixinguinha, Donga, Caninha, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, saindo do Morro da Providência, onde a maioria dos sambistas residia, se encontravam para batucar e cantar. Foi assim que o primeiro samba, Pelo telefone, foi composto por Donga e Mauro de Almeida, em 1916. Acervo AGCRJ

Teixeira e João Baptista destacam que, infelizmente, boa parte desta história se perdeu em reformas urbanísticas:

– Os locais onde os bambas originalmente se reuniam foram muito modificados com o tempo, e perderam totalmente a ligação com o samba. Mesmo assim, lugares como a Praça Onze, a Avenida Presidente Vargas, a Pedra do Sal e o Morro da Providência, primeira favela da cidade, devem ser citados – destaca Teixeira.

A própria Praça Onze, segundo João Baptista, serve de exemplo dessas transformações. Com o objetivo de modernizar o centro da então capital federal, o presidente Getúlio Vargas determinou que grande parte desta área desse lugar a uma larga avenida, inaugurada em 7 de setembro de 1944. Entretanto, Teixeira alerta que a Avenida Presidente Vargas também contribuiu para a história do samba:Augusto Malta 

– A avenida pode ser considerada importante, por causa dos desfiles de escolas de samba – lembrando que, antes de serem transferidos para a Marquês de Sapucaí, os desfiles foram realizados lá, entre 1947 e 1978.

Próximo à Praça Onze, no Estácio, o geógrafo João Baptista lembra que foi fundada a primeira escola de samba. Fundada em 1928 no número 27 da Rua Maia de Lacerda, casa do sambista Biju, a Deixa Falar tinha entre seus fundadores Ismael Silva. A partir de então, o samba nunca mais seria o mesmo:

– Antes, os bambas se reuniam no Largo do Estácio, em frente à Escola Normal. Com o passar do tempo, e com a consolidação da primeira agremiação voltada para o carnaval, houve uma transformação: os antigos, que gostavam de cantar em rodas, foram substituídos pelos mais novos (Bide, Edgar, Ismael, Brancura, Heitor dos Prazeres, Getúlio Marinho e Nilton Bastos), que gostavam de cantar desfilando. Divulgação

Diferentemente dos locais que foram arrasados, a Pedra do Sal continua praticamente intacta, e mantém a tradição em rodas de samba às segundas-feiras. Próximo dali, no Largo de São Francisco da Prainha, os Escravos da Mauá também cultuam as origens do samba na zona portuária, também ponto de encontro de bambas.

Novos endereços também resgatam origens

Com poucas opções de lugares antigos para a visitação, estabelecimentos construídos há pouco tempo ajudam na compreensão da história do samba carioca. Teixeira destaca, entre eles, a Cidade do Samba, na região do porto:

– Para quem quiser realmente conhecer o samba carioca, uma visita à Cidade do Samba é imprescindível. Lá, a pessoa entra em contato com a fabricação de carros alegóricos e de fantasias, além de conhecer a tradição de cada escola do grupo especial do carnaval.

Bares e restaurantes também ajudam a contar a história, acrescenta Baptista.

– Temos o Trapiche Gamboa, na Gamboa; o Carioca da Gema, na Lapa; e os da Rua do Mercado, no Centro, próximo à Praça XV. Em todos esses locais, se toca o verdadeiro samba de raiz.

 Divulgação Lamentando a descaracterização dos berços do samba e a desvalorização do samba no Brasil, Baptista cita o cuidado dos argentinos com sua música:

– É desconcertante pensar que na Argentina existem tantas casas de tango e, no Rio, sejam tão poucos os lugares que reproduzam o samba, ou estações de rádio que toquem o gênero tipicamente nosso. A grande maioria reproduz o lixo estrangeiro. Por isso as coisas por aqui estão tão estranhas.