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Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 2024


Cultura

Especialistas apontam novos rumos para o rádio carioca

Rodrigo Serpellone - Do Portal

13/12/2012

 Arte: Eduardo Ribeiro

O Rio de Janeiro conta hoje com mais de 50 emissoras de rádio em AM e FM. Noventa anos após a primeira transmissão no Brasil, quando alto-falantes foram espalhados pela cidade e impressionaram a população – apesar do som cheio de ruídos e interferências –, as rádios atuais podem ser ouvidas pela internet ou pelo rádio, seja no celular, na TV digital, no minissystem ou nos aparelhos de rádio, cada vez mais raros.

Mas este número de emissoras não chega a representar variedade e qualidade, afirmam especialistas ouvidos pelo Portal PUC-Rio Digital. Entre as faltas mais sentidas está uma rádio segmentada de rock, para herdar o público que ficou órfão após o fechamento da Fluminense FM, em 2005, e da Rádio Cidade, em 2006.

De acordo com o radialista Ruy Jobim, diretor da Escola de Rádio, o segmento não está contemplado no dial carioca por não dar lucro às empresas:

– Faltam segmentos que poderiam abranger o mercado do Rio, como uma rádio de rock and roll. Todas as emissoras querem lucrar e, com isso, são muito iguais. A qualidade fica nivelada por baixo.

Mas este silêncio pode estar chegando ao fim. A rádio paulistana Kiss FM se instalou no Rio há um ano e está em fase de testes, esperando apenas a aprovação da Anatel para começar a operar na região metropolitana, onde usará o dial 91,9 Mhz.

 Reprodução Outro ponto apontado é a falta de uma rádio lançadora de novos talentos, papel que Fluminense e Cidade exerciam. O jornalista Luiz Antonio Mello conta a história da Fluminense FM no livro A onda maldita, relançado em outubro pela editora Nitpress. Na orelha do livro, o jornalista e professor da PUC-Rio Arthur Dapieve afirma que “sem a Maldita (como era conhecida a Fluminense) não haveria Paralamas, Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, Kid Abelha, Blitz, Barão Vermelho, Titãs, Ultraje a Rigor, RPM, Engenheiros do Hawaii, entre outros. Ao menos não do modo que os conhecemos hoje”.

Mello acredita que em breve a internet assumirá totalmente o papel de reveladora de talentos, com o acesso nos automóveis, por exemplo:

– Imagine o usuário ligar seu aparelho já conectado à internet e com um toque estar ouvindo uma estação pela web em qualquer lugar. No entanto, hoje, apesar dos smartphones e de outras plataformas que estão surgindo, o rádio como mercado para a música ainda está restrito às rádios FM.

Segundo o produtor musical Bruno Levinson, ex-diretor das rádios MPB e Oi FM e criador, nos anos 90, do CEP 20.000 e do Humaitá pra Peixe – eventos no qual se apresentam novas bandas e artistas –, tanto músicos como ouvintes deixaram de procurar o dial para lançar e descobrir novidades:

– As rádios estão tão distantes da realidade de artistas novos e independentes que estes já nem miram mais seus esforços para este meio. Com isto, o rádio vai perdendo relevância artística. Ninguém liga mais o rádio atrás de novidades.

O jornalista Sérgio Carvalho, especialista em conteúdo para radiodifusão, afirma que, hoje, pouca gente quer ouvir novos cantores ou bandas, ou seja, não há demanda de mercado:

– É um problema comercial, de audiência. Esse tipo de programa não tem muita audiência. São bandas geralmente desconhecidas. Quem ouve são os parentes e os amigos de quem está tocando.

À medida que o rádio fecha as portas para os novos talentos e para a variedade de conteúdo, um grande espaço se abre na internet. Pelas redes sociais e pelo Youtube, por exemplo, os artistas da nova geração conseguem audiência para construir uma carreira.

Levinson, que reformulou a programação da MPB FM, no entanto, adverte que a própria internet é confusa:

– Hoje, a internet, com seus blogs e redes sociais, cumpre o papel de lançar luz sobre os novos talentos. O meio rádio, infelizmente, perdeu este espaço revelador e surpreendente. Mas muita gente que gosta de música e adoraria conhecer novos talentos não sabe onde buscá-los na web.

“O rádio está além de AM e FM”

O pesquisador de mídias sonoras e professor de Comunicação Social da PUC-Rio Marcelo Kischinhevsky acredita, porém, que o rádio não está morto. Ele lembra que a internet permite que uma emissora alcance o público em qualquer lugar no planeta:

– A circulação musical nos próximos anos não vai poder viver sem internet e muito menos sem o rádio. Ele está hoje na internet. Você pode ouvir rádios web de qualquer parte do mundo, ou das gravadoras independentes. Um exemplo é a Trama Virtual, que faz podcast com os próprios artistas. Isso também é rádio. O rádio está além de AM e FM. Hoje há essa necessidade de se pensar de forma integrada o rádio e a internet, não como concorrentes. Reprodução

No site Trama Virtual, novos artistas postam suas músicas, disponíveis para download gratuito, e recebem direitos autorais proporcionais ao número de downloads, financiados por empresas que patrocinam o site.

Kischinhevsky aponta que hoje o grande desafio para os artistas não é gravar um álbum, mas sim divulgá-lo.

– Apesar da facilidade para gravar e publicar, o que hoje pode ser feito em casa, os artistas têm dificuldade de chegar ao mercado, já que o rádio e a TV não estão dando espaço para essa renovação – diz Kischinhevsky.

Além disso, o pesquisador, autor de O rádio sem onda - Convergência digital e novos desafios na radiofusão, adverte que tanto os conglomerados de mídia como as rádios evangélicas interferem na variedade que poderia estar presente no rádio carioca:

– De um lado, há a concentração na mão de grandes conglomerados privados, como a Globo e a Band. Do outro, o proselitismo religioso avançando, integrado a conglomerados midiáticos mantidos por igrejas neopentecostais. Isso prejudica a variedade de rádios.

A internet divulga mais do que músicos. De acordo com Ruy Jobim, da Escola de Rádio, o espaço virtual também é usado por outros profissionais do meio artístico, que para ele, conseguem mais audiência que nos métodos tradicionais:

– Hoje, o sucesso da internet não precisa passar pelo rádio ou pela TV. E isso não acontece só com a música. Atores, humoristas e outros artistas brilham na internet e conseguem muito mais audiência.

Interatividade e ousadia, pedidas para 2013

 Monalisa Marques Surpreendente, interativa, corajosa e ousada. Segundo os especialistas ouvidos pelo Portal, é assim que as rádios devem ser para conseguir alcançar o sucesso no próximo ano. De acordo com o produtor Bruno Levinson, formado em jornalismo pela PUC-Rio, uma emissora deve se adaptar ao clima e aos fatos recentes, como se fosse uma pessoa:

– Rádio em dia de sol deveria ter uma pegada diferente do que em dias de chuva. Rádio tem que ser encarado como uma pessoa que tem dias mais animados, dias mais contemplativos, dias mais melancólicos.

O jornalista Sérgio Carvalho afirma que as rádios devem se tornar mais íntimas do ouvinte. Um dos modos de fazê-lo, para ele, é se tornar mais local, ou até comunitária, passando assim a entender a população regional:

– Falta abraçar o ouvinte e entender o que ele quer. Cada vez mais as rádios têm que ser locais e olhar o que está em volta delas. Por isso as rádios comunitárias estão explodindo, porque elas falam para aquelas pessoas. Não importa se ela é musical, esportiva ou jornalística. O que é uma música legal no Rio não necessariamente é bacana em São Paulo.

Marcelo Kischinhevsky adverte que o rádio carioca atualmente não surpreende o ouvinte, algo que, para ele, é necessário:

– O papel do rádio é ser mediador social, cultural e apresentar para o ouvinte coisas que ele não imaginava que poderia gostar. No Rio isso está se perdendo, ele não pode ser o iPod da pessoa. Tem que ir além, surpreender. Isso faz falta, não tem mais surpresa hoje.

Para o escritor e jornalista Luiz Antonio Mello, “somente as emissoras de jornalismo do Rio, como a CBN e a Band News, estão ousando”. Ele acredita que as emissoras devem ter coragem para inovar:

– Sinto um enorme receio das emissoras em ousar lançar artistas alternativos, gêneros não massificados, enfim, uma coisa mais arisca, mais antenada. Falta coragem.

Mello ainda confia no rádio do Rio em conjunto com a internet, e prevê uma melhora em breve:

– Acredito que a internet vai se aperfeiçoar. Um dia a AM estéreo vai dar certo. Enfim, de alguma forma, seremos mais livres.

É na web, também, que a PUC-Rio lançou sua rádio, em novembro deste ano. No ar 24 horas por dia, a Rádio PUC, acessível também via Portal, tem um acervo de 2 mil músicas instrumentais brasileiras (assista à reportagem sobre a Rádio PUC).

Esportes e música jovem ampliam cadeia de rádios no Rio

Este ano o Rio aumentou sua variedade de rádios após a chegada de duas novas emissoras dos segmentos esportivo e musical: a Bradesco Esportes FM (91,1MHz) e a Jovem Pan FM (102,9MHz), respectivamente.

Se a Jovem Pan retornou, após cinco anos fora do ar na região metropolitana carioca, para diversificar o contexto musical do público jovem, a Bradesco Esportes revolucionou, ao criar um novo segmento de rádio exclusivo para esportes.

E o elenco da rádio esportiva conta com nomes consagrados do jornalismo esportivo radiofônico, como o locutor José Carlos Araújo, o “garotinho”; e os comentaristas Gérson, o “canhotinha de ouro”, e Gilson Ricardo. Os três foram contratados da Rádio Globo.